O Passado Também Chuta: Pancho Puskás

    o passado tambem chuta

    Escrever sobre o Puskas significa falar de bola no fundo das redes. Parecia fisicamente um cilindro. No famoso Benfica-Real Madrid no Estádio da Luz para a Taça dos Campeões Europeus vi-o sobre o relvado; não se mexia. A sua barriga fazia-se notar aos meus olhos de menino deslumbrado com aquela lenda do futebol. Destacava-se, ainda que o Benfica tivesse jogadores deslumbrantes como Eusébio, Simões ou José Augusto e pelo próprio Real Madrid ainda jogasse outro velho ilustre chamado Gento. O Benfica fez um jogo de escândalo; arrasou; ganhou pelo significativo resultado de 5-1, mas Puskas, sem correr e limitando-se a ver se a bola lhe passava a um metro, ainda me mostrou como se chutava à baliza. Durante a segunda-parte deu-se uma falta que provocou um livre direto contra o Benfica. A distância era grande; a bola estava quase centrada, um bocado descaída para o lado esquerdo. Puskas colocou a bola e ficou ao pé dela. O Benfica fez a barreira; o árbitro apitou e Puskas, mesmo junto à bola, levantou o pé esquerdo. O Estádio estava num silêncio expectante; todos queríamos ver como chutava. O seu pé embateu na bola; a bola partiu limpa e rasa ultrapassando a barreira por baixo; embateu como uma bomba na base do poste direito do Benfica e a bola ricocheteou metros e metros. No Estádio da Luz sentiu-se um misto de alívio e admiração.

    Era natural de Budapeste. Está ligado, diretamente, ao mito do futebol magiar e à lenda da seleção húngara que só não foi campeã mundial porque às vezes a bola não parece redonda. Ao seu lado, tanto na seleção húngara como no Honved, tinha vários jogadores deslumbrantes e entre eles estavam Kocsis e Czibor, que também o acompanharam na aventura espanhola, ainda que defendessem as cores do Barcelona. Foram campeões olímpicos e vice-campeões mundiais. Depois, aproveitando um jogo do Honved contra Atlético de Bilbau, desertaram. A Hungria vivia numa tentativa de libertar-se do braço de ferro bolchevique russo. Sobreviveram fazendo exibições até que uns regressaram à Hungria e outros, como Puskas, acabaram por conseguir jogar na chamada Europa Livre. A Áustria recusou-o e Itália fez outro tanto do mesmo. Finalmente Puskas encontrou aconchego no Real Madrid de Di Estéfano e Kopa.

    Na companhia de Di Estéfano   Fonte: Insidespanishfootball.com
    Na companhia de Dí Stefano
    Fonte: Insidespanishfootball.com

    Entre o campeonato húngaro e o campeonato espanhol foi oito vezes o máximo goleador. Foi duas vezes o melhor goleador da Taça dos Campeões Europeus e durante a sua vida conformou uma enciclopédia de títulos nacionais e internacionais. Formou com Alfredo Di Estéfano um duo de irmãos; viam-se e adivinhavam a jogada e o resultado da mesma. Com o Real Madrid ganhou campeonatos, uma Taça de Espanha – que naquela altura levava o nome ditador -, duas Taças dos Campeões Europeus e uma terceira, em 1966, já sentado no banco dos que não jogam; uma Taça Intercontinental contra o supercampeão Peñarol. Com o seu Honved arrecadou quatro campeonatos. Marcou nada mais, nem nada menos do que quinhentos e oito golos em quinhentos e vinte e um jogos. Foi um dos grandes goleadores do século XX e hoje o Prémio para golo mais bonito tem o seu nome. Em Espanha era conhecido como Pancho.

    Pancho Puskas jogou ao futebol desde 1939 até 1966. Faleceu depois de retornar à Hungria em 2006, vítima da doença do Alzheimer. Quando se fala dos melhores jogadores de sempre esquecem-se de dois monstros dos relvados nativos da Hungria: Kubala e Puskas.

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    Poeta de profissão, José simpatiza com o Oriental e com o Sangalhos.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.