Pelo segundo ano consecutivo, o Sporting venceu o Benfica na final da Taça de Honra, deixando a nu algumas das fragilidades atuais do plantel benfiquista. Mais do que falar no resultado em si, interessa, sim, analisar a prestação global da equipa e perceber de que forma as novas aquisições podem ser reforços – no sentido mais puro do termo.
No jogo das meias-finais, frente ao Estoril, Jorge Jesus apresentou um 4-4-2 em tudo semelhante ao da época passada, mas com protagonistas totalmente diferentes. No primeiro onze da pré-época das águias não constou nenhum jogador do onze base que ganhou o triplete na temporada anterior. Pelo contrário, foram seis as caras novas que os adeptos benfiquistas puderam ver desde o primeiro minuto: César, Luís Filipe, Benito, Talisca, Derley e Candeias. Curiosamente, foi com os novos jogadores que o Benfica praticou o seu melhor futebol e chegou, aliás, ao golo da vitória. Com João Teixeira a trinco e Talisca a médio centro, o Benfica demonstrou bons níveis de entrosamento e dinâmica, apesar do escasso período de treino. Talisca, que acabaria por ser nomeado o melhor jogador do torneio, marcou o único golo do encontro ao minuto 31, depois de uma excelente combinação entre Ola John e Benito. O extremo holandês foi um dos grandes destaques no torneio. Rápido, fortíssimo e imprevisível no um para um, Ola John veio com ambição de agarrar um lugar no plantel de JJ. Na segunda parte, e já com Salvio, Gaitán, Cardozo e Lima, o Benfica desceu de qualidade exibicional e permitiu que o Estoril criasse várias ocasiões de golo (Tozé foi um perigo na ofensiva estorilista). O golo do brasileiro Talisca, porém, foi suficiente para o Benfica agarrar o lugar na final, frente ao Sporting, que nessa mesma noite bateu o Belenenses por 2-1.
No jogo da final, Jorge Jesus optou por iniciar a partida com um onze teoricamente mais forte do que aquele que foi apresentado frente ao Estoril. A aposta era lógica e justificada: o Sporting, para além de ser um adversário mais forte, exibiu um onze muito rotinado, com jogadores provenientes da época anterior. Ainda assim, rapidamente se notou que o Benfica não tinha, nem de perto, o mesmo entrosamento que a equipa de Alvalade. Aqui e ali, os jogadores do Benfica deram um cheirinho do futebol que Jorge Jesus pretende praticar. Mas os processos são, ainda, demasiado forçados e lentos. Talisca e João Teixeira foram completamente dominados pelo trio do meio-campo leonino (Rosell, André Martins e Adrien). Foi precisamente um erro do Benfica no centro do terreno que permitiu ao Sporting chegar ao golo da vitória (42’), com João Teixeira a ficar muito mal na fotografia. Sem capacidade para jogar pelo centro do terreno, o Benfica tentou desesperadamente atacar pelas alas, mas nem Gaitán, nem Ola John (ou Candeias, na segunda parte) foram suficientemente eficazes. Os laterais também não davam a profundidade necessária para criar desequilíbrios (dos quais vive constantemente o Benfica), e o futebol encarnado estava literalmente preso. O golo de André Martins, na primeira parte, foi suficiente para coroar o justo vencedor. Jorge Jesus disse, na conferência de imprensa pós-jogo, que “esta não é a equipa do Benfica”. Apesar de deselegante, o treinador português deixou uma mensagem fácil de entender: este Benfica não é suficiente. E tem razão.
Como jogaram:
Os novos:
César – uma das surpresas dos novos jogadores do Benfica. Veloz, forte e intenso no corte, o central brasileiro deixou boas indicações. Contudo, tem de ter mais atenção ao sentido posicional.
Benito – o lateral esquerdo que veio do FC Zurich é… um relógio suíço. Comete poucos erros, demonstrou boa cultura tática e disponibilidade física. Precisa apenas de oferecer maior profundidade ao ataque encarnado.
Luís Filipe – completamente fora de forma. Tem, visivelmente, peso a mais, e isso influencia o seu rendimento. Lento, deu demasiado espaço aos extremos adversários. Tem de melhorar muito se quiser ser aposta.
Talisca – joga de cabeça levantada, tem um bom toque de bola e uma boa visão de jogo, é certo. No entanto, é obrigatório que apareça mais vezes entre linhas e “coma metros” com a bola. No jogo frente ao Sporting esteve completamente ausente.
Candeias – apesar da assinalável rapidez, mostrou-se muito inconsequente nas suas ações. Tem de arriscar mais vezes o um para um. De realçar o espírito coletivo nas várias vezes em que baixou no terreno para auxiliar o defesa-direito.
Derley – procurou incessantemente o primeiro golo de águia ao peito. Joga bem de costas para a baliza e deixou boas indicações nos movimentos de desmarcação.
Os antigos:
Artur – comete os mesmos erros de sempre: precipitado na reposição de bola e péssimo nas saídas. Dentro dos postes continua um guarda-redes seguro.
Paulo Lopes – nas poucas ações em que foi chamado a intervir mostrou-se seguro.
Jardel – muito seguro, rápido e intenso. Limpou quase todas as bolas com uma assinalável eficácia.
João Cancelo – nas duas partidas, entrou para substituir Luís Filipe mas a verdade é que pouco mais ofereceu à equipa. Excessivamente individualista para um lateral, perdeu bolas desnecessárias. Tem muito para crescer.
João Teixeira – o canterano benfiquista foi uma das grandes surpresas do torneio. Raçudo e sem medo, o jovem médio esteve sempre muito interventivo. Sabe quando soltar a bola e tem um jogo vertical impressionante para a idade. A exibição no torneio fica apenas manchada pelo erro que causou o golo da vitória leonina.
Bernardo Silva – nos poucos minutos de que dispôs, complicou o que era fácil. Tem de ser mais rápido a soltar a bola.
Rúben Pinto – entrou melhor no jogo do que Bernardo Silva, mas teve poucos minutos para mostrar serviço.
Gaitán – a capacidade para desequilibrar e fugir dos adversários é a imagem de marca do talentoso argentino. Porém, tudo muito forçado.
Salvio – longe dos melhores índices físicos, Salvio pecou por ser demasiado individualista.
Ola John – apareceu em grande plano nesta pré-época. Muito rápido e explosivo, o extremo holandês foi o grande desequilibrador do Benfica no torneio. Nota ainda para o bom entendimento com Benito na lateral esquerda.
Lima – sempre muito disponível, a oferecer linhas de passe aos colegas, Lima não mudou desde maio: combativo e a pensar no coletivo.
Cardozo – péssimo na receção, péssimo no passe, o avançado paraguaio simplesmente não jogou. Não me lembro de um único remate nos dois períodos de quarenta e cinco minutos em que atuou, e isso diz tudo sobre a sua prestação.
Jara – muito participativo no(s) jogo(s) mas pouco eficaz. Perdeu bolas com uma facilidade incrível e mostrou-se demasiado individualista.
Ivan Cavaleiro – dos poucos minutos que jogou tentou impor alguma irreverência e intensidade no ataque encarnado mas sem grandes consequências.