Apesar de todas as dificuldades em que vivem – ou sobrevivem – os diversos clubes de futebol feminino do país, o Atlético Ouriense mostrou que com trabalho, dedicação e sacrifício é possível alcançar o sucesso. Bicampeã nacional em título, a equipa de Ourém conseguiu um apuramento histórico para a Liga dos Campeões, terminando a fase de grupos de acesso à competição em primeiro lugar.
Caminhada até ao sonho
Pertencendo ao grupo 8, o plantel liderado por Marco Ramos teve como obstáculos o Standard de Liège (Bélgica), o ASA Tel-Aviv (Israel) e o Cardiff Met (País de Gales).
No primeiro jogo dos playoffs frente à equipa belga, Diana Silva garantiu a vitória da equipa portuguesa, apontando aos 83 minutos o único golo da partida. Apesar da supremacia das visitantes durante todo o jogo, mostraram-se sempre perdulárias no momento da verdade, permitindo que a sorte sorrisse ao Ouriense e que o sonho da qualificação continuasse bem presente na mente das jogadoras do Ribatejo. Sonho esse que se tornou real na segunda jornada: após um sofrimento que perdurou 89 minutos, surgiu dos pés de Pisco o golo que possibilitou a festa no relvado e na bancada por parte das jogadoras, da equipa técnica e dos cerca de 700 adeptos que se encontravam no estádio. De referir que a partida se encontrava empatada 1-1, já com duas expulsões na equipa do Tel-Aviv.
Com a qualificação garantida, o Ouriense defrontou na última jornada o Cardiff Met. Mariana Coelho, que já havia marcado frente ao Tel-Aviv, ainda colocou a equipa de Ourém em vantagem, mas o conjunto português consentiu a reviravolta do Cardiff, que acabou por vencer o encontro por 1-2. No entanto, este resultado menos conseguido pouco importava, uma vez que o Atlético Ouriense entrou para a história do futebol feminino nacional ao tornar-se a primeira equipa portuguesa a conseguir a qualificação para a prova com que todos os jogadores sonham.
Abre olhos
O sucesso anda sempre de mãos dadas com o trabalho e este feito alcançado pelo Ouriense é prova dessa mesma situação. Por detrás das cortinas existe um grande esforço, especialmente por parte das atletas. Esforço esse que é transversal aos plantéis femininos espalhados de Norte a Sul de Portugal e que em nada se compara às equipas masculinas. Tenham em mente o seguinte: as equipas femininas são compostas por estudantes, por trabalhadoras-estudantes ou por trabalhadoras que, ao final do dia, ainda vão treinar para tentar crescer, para tentar ser melhores, para tentar dar alegrias como esta ao país. No entanto, é preciso mais. E não me refiro às jogadoras. Refiro-me essencialmente àqueles que tanto duvidam do sucesso do futebol feminino em Portugal, quando o pensamento deveria ser exactamente o inverso. É preciso investir. É preciso acreditar nos projectos. É preciso acreditar que existe qualidade em Portugal.
Que este feito ajude a repensar a forma como é abordado o tema nos demais distritos, bem como nas organizações oficiais referentes ao futebol nacional. Que este feito seja um abre olhos para todos aqueles que consideram que futebol e feminino não encaixam na mesma frase.