Da distrital à liga de Messi e Ronaldo – Entrevista a Diogo Salomão

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    Diogo Salomão é a história de uma ascensão meteórica. Provavelmente uma das maiores fontes de inspiração dos jovens que actuam nas profundas divisões distritais do nosso país e que, a cada noite, ainda se deitam com o sonho de vir a representar o seu clube de sempre. Diogo Salomão, para além disso, é o exemplo de um jogador que teve de sair do seu país para conseguir sentir-se em casa: na Corunha, diz o próprio, encontrou uma “empatia” e um reconhecimento que o fazem feliz. Já encontrou também Messi e Cristiano Ronaldo, como adversários. Em Grande Entrevista ao Bola na Rede, Salomão fala-nos da vida em Espanha, das diferenças entre os adeptos, da mentalidade, da falta de oportunidades no Sporting e de muito mais!

    A “xenofobia” espanhola

    Bola na Rede: Em 2012 houve um jornalista espanhol que afirmou, sobretudo com base no tratamento a Ronaldo e Mourinho, que os portugueses sofriam de xenofobia em Espanha. Alguma vez sentiste semelhante problema?

    Diogo Salomão: Aqui na Corunha raramente tive semelhante problema. É uma sorte estar na Corunha que é uma cidade bastante calma e educada e que torna tudo mais fácil. A receção dos companheiros de balneário também foi espetacular e nunca senti qualquer tipo de discriminação.

    BnR: O Deportivo é um clube que tem apostado muito nos portugueses. Pelo contrário, o FC Porto deste ano tem bastantes jogadores provenientes de Espanha. Achas que há um nível mais alto aí que justifique a aposta em tantos espanhóis em detrimento de portugueses?

    DS: Penso que em Espanha a aposta na formação e em jogadores nacionais está por cima da aposta dos clubes portugueses. Aqui dá-se mais valor ao que é da casa, o que acaba por trazer benefícios ao clube.

    BnR: O que é que Portugal tem mais a aprender com a Espanha, no que a futebol diz respeito?

    DS: A grande diferença que me chamou mais atenção aqui em Espanha é a paixão dos adeptos pelo clube local. O Deportivo mesmo na 2ª divisão conseguia ter o estádio com média de 20 000 ou 25 000 adeptos. Isso faz toda diferença na hora do espectáculo.

    Diogo Salomão e os adeptos do Deportivo como fundo
    Diogo Salomão e os adeptos do Deportivo como fundo

    O início de carreira e as mudanças repentinas

    BnR: Diogo, começaste no Casa Pia e representaste ainda o Real Massamá. Esperavas naquela fase da tua carreira chegar a um grande?

    DS: Sim, quando comecei no futebol sénior apesar de estar na divisão de honra, ou seja nos distritais, tracei como objectivo chegar a um grande do futebol português. Sabia que seria complicado porque estava muito longe desse sonho mas a ascensão foi vertiginosa e cheguei a essa meta em apenas três anos.

    BnR: Como surgiu essa hipótese de fazer uma carreira no futebol ao mais alto nível?

    DS: Na altura representava o Real Massamá e o Sporting tinha um protocolo com o clube. Estavam vários jogadores emprestados e isso permitiu que tivesse bastante visibilidade. Sá Pinto, na altura director do Sporting, acompanhou quase todos os jogos do Massamá na época 2009/2010 e essa época acabou por ser bastante produtiva para mim. Assim surgiu o interesse em ser seu activo na seguinte temporada.

    BnR: Quais são as principais diferenças entre jogar na primeira divisão portuguesa e nas ligas secundárias?

    DS: Para mim foi um choque o primeiro jogo que realizei com o Sporting frente ao Lyon, no Estádio de Alvalade. Estava habituado a jogar perante 500 pessoas. Respondendo à questão, a diferença é brutal: o nível de exigência física e mental do jogo é muito diferente. Tive de me adaptar muito rapidamente.

    BnR: Há muito talento perdido por equipas portuguesas menos conhecidas?

    DS: O futebol está cheio de talentos perdidos. Existem bastantes valores que por diferentes motivos nunca se chegam a revelar. É necessária força mental, paixão pelo que se faz e muita muita sorte. Há alturas na vida em que estar no sítio certo, à hora certa faz toda diferença.

    O Sporting

    BnR: Sentes que podias ter beneficiado com um empréstimo a uma equipa portuguesa em algum momento da tua passagem pelo Sporting?

    DS: No final da temporada 10/11 fui informado pela direção do Sporting de que tinham a intenção de me emprestar na seguinte temporada, o que me apanhou um pouco de surpresa visto que era algo que não esperava depois de uma época produtiva da minha parte. Tive a opção de alguns clubes portugueses mas decidi ir para Espanha. Queria arriscar no estrangeiro e sabia que o Deportivo tinha a missão de voltar a 1ª liga, o que me daria bastante visibilidade.

    BnR: Entendes que tinhas condições para ter jogado mais pelo Sporting na última época?

    DS: Sim, senti que tinha condições para demonstrar mais, mas os seis meses foram curtos porque acabei apenas por realizar três jogos. Tive menos oportunidades do que esperava, mas também entendo que todos os companheiros se encontravam em boa forma e acabámos por fazer uma boa campanha.

    O jogo frente ao Braga foi uma das poucas oportunidades de Salomão na última época
    O jogo frente ao Braga foi uma das poucas oportunidades de Salomão na última época

    Deportivo de la Coruña: o título e o futuro

    BnR: Já tens mais do que uma passagem pelo Deportivo. É um clube especial?

    DS: O Depor já está marcado em mim. Esta é a quarta época consecutiva a representar o clube da Galícia. Estou bastante satisfeito com o que já consegui neste clube, sinto o meu trabalho reconhecido e uma empatia com toda gente relacionada com o clube. Um dia, mesmo depois de terminar carreira, é uma cidade que voltarei a visitar pelas amizades que aqui fiz.

    BnR: Vencer o título da segunda divisão espanhola em 2012 e alcançar a subida foi o melhor momento da tua carreira?

    DS: Sim, posso dizer que é o ponto alto da carreira. Em 2012 vencemos a Liga Adelante, participei em bastantes jogos e a equipa bateu o recorde de pontos da 2ª divisão espanhola – 91 pontos alcançados -, uma marca a destacar.

    BnR: Participaste num jogo épico no Riazor, contra o Barcelona, que os catalães venceram por 4-5 com um hat-trick de Messi. A pergunta da praxe: qual é o melhor, ele ou o Cristiano?

    DS: Entre Messi e Cristiano é difícil dizer qual é melhor. São dois extraterrestres. Depende bastante da forma em que se encontram. Os dois já fizeram história no futebol e vão continuar a fazer. Serão recordados durante anos.

    BnR: Depois de uma lesão grave, o teu regresso à competição pode estar para breve. Quais são as expectativas para esta temporada?

    DS: Espero recuperar desta lesão grave que várias vezes me deu dores de cabeça. É uma lesão complicada de recuperar, mas agora nesta fase final a confiança aumenta e já vejo a luz ao fundo do túnel. Espero estar ao melhor nível para o que resta da liga e ajudar no objetivo do clube, a manutenção.

    BnR: Tens ascendência da Guiné-Bissau. Já pensaste representar esse país no futebol de selecções, ou sonhas chegar à selecção portuguesa?

    DS: Já tive contacto por parte elementos ligados à seleção da Guiné quando estava no Sporting e era ainda bastante jovem. Preferi dar um tempo e ver ser conseguia uma oportunidade na seleção nacional…

    Pedimos-te que respondas às seguintes questões apenas com uma palavra.

    O melhor jogador com que já jogaste? Marat Izmailov
    O melhor treinador? José Couceiro
    O clube que mais gostarias de representar na carreira? Arsenal
    O teu melhor amigo feito através do futebol? André Santos
    O teu ídolo futebolístico? Ronaldo “fenómeno”

    Entrevista realizada por:

    João Almeida Rosa

    João V. Sousa

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