O Passado Também Chuta: Mendes, o pé de canhão

    o passado tambem chuta

    Foram tempos; outros tempos em que existiam outro tipo de seleções. Vivia-se o fervor da rádio. As pessoas amontoavam-se nas tascas nas proximidades dum aparelho que falava e transmitia emoções futebolísticas. Os golos eram cantados em algazarra e o homem do bar apurava a caixa registadora com os pedidos de copos de dois e de três. Este vai de “penalty”! – dizia o ouvinte mais empolgado… Eram tempos de copos de dois e sandes de orelha bem quentinha. Esse tempo teve as suas seleções; os seus grandes jogos, onde a miudagem também circulava pelos bares na companhia dos Pais a beberem de “penalty” Sumol de laranja ou Sumol de limão. Uma destas grandes seleções foi a Seleção Militar. Em 1958 coincidiram em época militar um bom grupo de jogadores que deram uma alegria ao ganhar um Campeonato Militar Internacional. Na baliza estava o Vital, do Lusitano de Évora; no meio do campo andava um senhor que se chamava Coluna; como chefe de operações estava o excelente armador Hernâni, do FC do Porto, e voltado para a baliza contrária, sem dar concessões, estava um senhor chamado António Mendes – Pé de Canhão –, do Benfica e mais tarde do Vitória de Guimarães.

    Ainda hoje o Pé de Canhão é considerado um mito entre os adeptos do Vitória de Guimarães. Deu muitas vitórias à equipa e quando o Benfica pisava Guimarães padecia sempre com os morteiros de António Mendes. Como tantos outros, teve uma história rocambolesca quando se enrolou no futebol. Primeiro, com a ajuda de uma assinatura falsa da irmã, deu o seu nome ao Sporting Clube de Portugal; depois, logo a seguir, deu o seu nome ao S. L. e Benfica. O Sporting pagava dez escudos e o Benfica vinte e cinco escudos. Bem feitas as contas, António Mendes mostrou desde novo sentido da economia… O problema chegou quando os clubes se dispunham para a inscrição. Foi descoberta a aventura e atuou como juiz e parte o pai do Mendes. Era um bom benfiquista, por isso determinou sem qualquer contemplação: “António: ficas no Benfica!”.

    Mendes brilhou no Benfica e no V.Guimarães Fonte: gloriasdopassado.blogspot.pt
    Mendes brilhou no Benfica e no V.Guimarães
    Fonte: gloriasdopassado.blogspot.pt

    Mendes fazia parte da equipa quando o Benfica ganhou a primeira Taça de Europa. Mas andava em desavenças com o mítico Bella Guttman. Em Guimarães despontara um jogador chamado Pedras. Era uma grande promessa. O Benfica foi busca-lo; trouxe também o Augusto Silva; pagou bom dinheiro e cedeu a troco o Mendes; o Peres e o Pinto. Estes três jogadores foram durante anos a alma e o corpo do Vitória. Chegaram a conquistar um quarto lugar no Campeonato Nacional e o Mendes conheceu a glória da internacionalização.

    O Pé de Canhão simboliza também neste texto, para além das suas qualidades, a capacidade de fabricar grandes jogadores que tinha o Benfica, que na época do Mendes tinha como responsável das camadas inferiores um senhor, muitas vezes esquecido, que se chamava Valdivieso. Aquela Ilha de Madeira no Campo Grande foi mais que a Maternidade Alfredo da Costa à hora de parir, neste caso, jogadores.

    Foto de Capa: gloriasdopassado.blogspot.pt

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    José Luís Montero
    Poeta de profissão, José simpatiza com o Oriental e com o Sangalhos.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.