Recentemente, o ATP foi “obrigado” a vir a público para clarificar uma situação relacionada com o número de títulos que Rafael Nadal e Guillermo Vilas têm em terra batida, e concluiu que Vilas está por enquanto no topo deste pódio específico.
Nunca tive o previlégio de ver Guillermo Vilas jogar ao mais alto nível; só o vi jogar no Vale do Lobo Grand Champions, com uma grande dose de humor e descontracção à mistura. Mas daquilo que são as histórias e os vídeos do tenista argentino é possível estabelecer “meia dúzia” de comparações entre ambos.
Antes de iniciar esse debate, a questão em dúvida era se Nadal teria já igualado o número de conquistas em terra batida, com o espanhol a registar 46 vitórias e Vilas a registar 49. Portanto, é normal que dentro de meses Rafael Nadal supere o número de títulos de Guillermo Vilas. No entanto, a questão em debate não é se Nadal ultrapassa ou não o argentino, que isso é tido praticamente como certo. E na verdade já o fez em número de títulos ganhos, em número de Grand Slams conquistados e na percentagem de vitórias de carreira.
A questão é se Rafael Nadal é ou não melhor jogador do que Guillermo Vilas, entrando aí no domínio da comparação de gerações. É possível comparar a geração de Vilas, dos anos 70, com a geração actual de Rafael Nadal?
Na altura em que Vilas atingiu o seu melhor ranking, o primeiro lugar era ocupado por Jimmy Connors e atrás do argentino estava Bjorn Borg, Rod Laver (embora mais velho) e Artur Ashe. Actualmente, Nadal tem Roger Federer e Novak Djokovic e, claro, podemos falar ainda de Andy Murray.
Não é também pela concorrência que Guillermo Vilas teve vida fácil ao longo da sua carreira, portanto só mesmo pela diferença de exigência dos anos 70 para a actualidade é que se pode comparar quem é o melhor entre Nadal e Vilas, e é neste ponto que entra a opinião de cada um.
No meu caso, seja no ténis, no futebol, ou em quase todas as modalidades, todos os super-campeões da actualidade têm mais mérito do que os do passado, isto porque a exigência actual do mundo desportivo é muito superior à de anos anteriores, onde os detalhes técnicos e tácticos, e consequentemente físicos e mentais, são superiores aos do passado.
Isto vem na linha do que defendi em artigos anteriores sobre a idade com que se atinge o pico de forma. Hoje em dia, os tenistas atingem os seus melhores resultados e os seus melhores rankings em idades cada vez mais avançadas.
Rafael Nadal tem assim maior dificuldade para atingir o topo do topo, para conquistar o que conquistou. Não é que, no tempo de Vilas, ele não tenha revolucionado o próprio ténis, não é que não tenha tido concorrência à altura, mas porque agora a exigência é de outro patamar, está um nível acima do que estava há 20 anos, assim como daqui a 20 anos estará certamente mais desenvolvido do que nos dias de hoje.
Foto de Capa: Yann Caradec