UFC 187 – É melhor não duvidar

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    É certo que ainda só vamos em Maio, mas o UFC 187 é o principal candidato a evento do ano. A força dos nomes aliada à qualidade dos combates fez com que este fosse um dos mais empolgantes até ao momento. Desde as vitórias de Cormier e Weidman até ao domínio de Cerrone, passando pelo combate entre Travis Browne e Andrei Arlovsky, que pode muito bem vir a ser o combate do ano, UFC 187 em momento algum retirou bocejos do espectador.

    O primeiro combate foi, talvez, o menos interessante (e mesmo assim…) quando comparado com os restantes do cartaz principal. Isso talvez se deva ao facto de ter sido o único a ir a decisão. Ao longo de 5 rondas, Joseph Benavidez e John Moraga disputaram um combate que, inicialmente, até estava bastante renhido, com destaque para um belly to belly suplex de Moraga, mas que a partir da segunda ronda teve mais domínio de Benavidez, que conseguiu abrir um corte no escalpe do seu adversário. Benavidez por muitas vezes levou o combate para o chão, onde o seu domínio foi claro. No final, a decisão foi para Benavidez, de forma unânime.

    Esqueçam o Mayweather v Pacquiao: vejam (se ainda não o fizeram) Browne vs Arlovsky. Um verdadeiro espetáculo de desportos de combate. O bielorusso, que é um dos históricos do MMA, era tido como algo do passado, isto após ter perdido 4 combates seguidos entre 2009 e 2011. No entanto, desde que voltou à UFC que só tem ganho… E de forma assertiva! O mesmo se passou no combate contra Travis Browne, seu amigo de longa data e #3 do ranking de Peso Pesado.

    As minhas palavras nunca farão jus àquela que é, sem claro oponente, candidata a luta do ano. Posto isto, não a descreverei. Não por preguiça, mas por achar que é algo de visualização absolutamente obrigatória.  Uma coisa é certa: Arlovsky voltou para ter um título à cintura. Que Velasquez ou Werdum (lutam daqui a duas semanas para unificarem os títulos) se preparem.

    O combate entre Arlovsky (esq.) e Browne (dir.) é um combate de "ver para crer". Fonte: ufc.com
    O combate entre Arlovsky (esq.) e Browne (dir.) é um combate de “ver para crer”.
    Fonte: ufc.com

    Seguiu-se o combate entre Donald Cerrone e John Makdessi, que substituiu o lesionado Khabib Nurmagomedov, adversário original de Cerrone. Este foi mais um ao estilo de “Cowboy”, que, curiosamente lutou contra “The Bull”. Cerrone “agarrou o touro pelos cornos” e dominou Makdessi, o qual nunca mostrou ter real capacidade para dar luta ao #3 do ranking de Peso Leve. Na segunda ronda, Cerrone entrou fortíssimo, acertando bastante boas sequências que, visivelmente, estavam a surtir o seu efeito.

    Após uma cotovelada ao queixo, Cerrone desferiu um pontapé alto que fez Makdessi… desistir! Soube-se após a luta que o canadense partiu o maxilar com o pontapé, o que só demostra a brutalidade do jogo de pés de Cerrone e aquilo que Dos Anjos tem à espera na sua primeira defesa de título. Dana White já o confirmou! Finalmente Cerrone terá a sua chance, após oito vitórias seguidas. Um combate a não perder.

    “Parem de duvidar de mim, juntem-se à equipa. É o meu último convite” – foram estas a palavras de Weidman após o verdadeiro desmantelamento de Vitor Belfort. Peço, desde já, desculpa pelo “anti-climax”, mas pouco mais há a dizer do que isso: desmantelamento. Belfort pareceu uma sombra daquilo que era quando usava terapia de substituição hormonal. Apesar de ter entrado bem, encostando Weidman à rede com uma distribuição furiosa de socos, acabou por ficar sem caixa depressa, sendo derrubado.

    Apesar da faixa preta em jiu-jitsu, Belfort parecia um amador: para se proteger do “ground and pound” de Weidman deu as costas, ficando numa posição ainda menos vantajosa do que antes. Weidman não parou de golpear, Belfort não parou de se proteger em vão. O árbitro acabou por parar, dando assim a vitória ao americano, que tem feito uma carreira de “acabar” com lendas do MMA brasileiro. A lista conta com vitórias contra Anderson Silva (duas vezes), Lyoto Machida e Vitor Belfort. Por esta altura, não há mesmo como questionar a competência de Weidman: é um campeão invicto, e, contra a concorrência que já teve, isso há de significar algo.

    Weidman (topo) desferiu uma verdadeira tareia a Belfort (baixo), defendendo assim o título. Fonte: ufc.com
    Weidman (topo) desferiu uma verdadeira tareia a Belfort (baixo), defendendo assim o título.
    Fonte: ufc.com

    Quer se queira quer não, o fantasma de Jon Jones pairou mesmo sobre o octógono, mas não foi durante o combate entre Daniel Cormier e Anthony Johnson. Este teve o seu próprio valor, e não poderia ter começado de melhor maneira: Johnson deu um verdadeiro aviso a Cormier ao desferir uma direita que abalou o antigo olímpico, mas que teria deixado qualquer outro lutador estatelado no centro do octógono. Cormier caiu, de facto, mas rapidamente se levantou. Percebendo que em pé não teria chance, procurou sempre o derrube e o jogo no chão. A ronda, no entanto, foi para Johnson.

    A segunda foi diferente: só Cormier. O rei do “grind” fez juz ao seu nome, pegando em Johnson, plantando-o no octógono e desgastando-o com o seu peso. De quando em vez desferia alguns golpes, com destaque para uma cotovelada que abriu o sobrolho de “Rumble”. À entrada para a terceira ronda, Johnson estava magoado e exausto.

    Cormier percebeu isso. Apesar de Johnson ter feito um esforço inicial, derrubando provisoriamente “DC”, este rapidamente ganhou o controlo do combate. Encostou Johnson à rede e arrastou-o para o chão. Por entre alguns golpes, Cormier colocou sorrateiramente um braço por debaixo do queixo de Johnson. Ajustou-o e fechou um mata-leão. Ou melhor, “O” mata-leão. Aquele que lhe deu o título de Peso Meio-Pesado. Depois da derrota contra Jones, Cormier conseguiu cumpriu o seu sonho (com um aviso de menos de quatro semanas!) de vencer um título na UFC.

    Eis um momento que ficará para a história: o "coroar" de Cormier (frente) por Johnson (trás).
    Eis um momento que ficará para a história: o “coroar” de Cormier (frente) por Johnson (trás).
    Fonte: ufc.com

    E só depois de o fazer o fantasma de Jones pairou sobre o octógono. Em curtas declarações após o combate, Cormier disse: “Jon Jones, trata das tuas m*****, estou à tua espera!”. Muitos se questionam se Cormier poderá vencer Jones à segunda tentativa. A maior parte considera que, por não o ter vencido, não é campeão com mérito. Isto porque Jones nunca perdeu o título, pelo menos dentro do octógono. Mas é aí que reside o cerne da questão: Cormier tem tudo para ser um bom campeão, dentro e fora do octógono, algo que Jones tinha muita dificuldade em fazer. É certo que “DC” terá sempre uma mancha no currículo, mas não é isso que o diminuirá enquanto detentor do título. Jones era o melhor Peso Meio-Pesado do mundo, o melhor “pound for pound” do mundo. Decidiu deitar tudo a perder, pelo que a culpa é apenas sua. Poderá ser difícil de acostumar, mas Cormier é agora o melhor Meio-Pesado.  E essa é uma realidade de que não devemos estar descontentes. Será um reinado que tanto Cormier como os fãs irão desfrutar – antevêem-se combates como “Cormier v Bader” ou “Cormier v Gustafsson”. “DC” tem imenso para dar, e, se há coisa que Arlovsky, Weidman e Cormier nos ensinaram no final do UFC 187 é que “é melhor não duvidar”.

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    Gonçalo Caseiro
    Gonçalo Caseirohttp://www.bolanarede.pt
    Entusiasta de MMA e futebol, o Gonçalo apoia fervorosamente o Benfica e a ideia de que desportos de combate não são apenas socos e pontapés.                                                                                                                                                 O Gonçalo não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.