(1.ª Parte da Entrevista disponível AQUI)
Na segunda parte desta entrevista, falamos sobre o panorama futebolístico atual, espreitamos algumas preferências do mister, perguntamos-lhe pelo futuro (soubemos que a Noruega poderia ter sido uma possibilidade … e que vê neste campeonato muito potencial) e ainda descobrimos um lado mais emocional, denunciado pela face carregada quando nos revelou que, ultimamente, ao contrário dos últimos 25 anos, tem tido mais tempo para a família.
A arbitragem no panorama nacional
“Em relação às arbitragens, acho que é uma mentalidade muito pobrezinha, de terceiro mundo”
BnR: As críticas à arbitragem no futebol, especialmente o nacional, são algo que se tem convencionado como natural. A introdução de tecnologias de assistência de arbitragem no futebol poderia atenuar essas críticas?
JV: Em relação às arbitragens, acho que é uma mentalidade muito pobrezinha, de terceiro mundo, quando se desculpam as derrotas com os árbitros. O futebol tem tanta coisa boa que pode ser exponenciada … acho que a tecnologia na linha de baliza é muito importante, mas custa-me a perceber outras introduções – imagina que há um suposto penálti e a bola segue rapidamente para ataque rápido e a equipa adversária faz golo, por exemplo. Há lances em que nem em câmera lenta conseguimos ter uma opinião segura, quanto mais no movimento instantâneo.
BnR: Acha que os empresários e agentes de jogadores de futebol são algo que veio melhorar ou piorar o Futebol Nacional?
JV: Se houver um bom empresário, que não veja só os cifrões, o atleta tem tudo a ganhar porque a perspetiva de carreira, é importante. Isto é a mesma coisa que ficares doente, ires ao hospital – se apanhares um bom médico tens mais hipóteses de te curar, se for mau, podes ter mais dificuldades. A competência deve estar presente em tudo.
A prestação das equipas portuguesas na Europa
“A questão orçamental é determinante, quem tem dinheiro compra os melhores. Mesmo Benfica, Porto e Sporting têm dificuldades em contratar jogadores de topo”
BnR: A Rússia e a França estão-se a aproximar de Portugal no ranking da UEFA. Considera que Portugal tem clubes preparados (além dos três grandes e do Braga) para lidar com as competições europeias?
JV: Para além dos três grandes e do Braga, acho difícil. Se olharmos bem, 90% dos clubes que estão na Liga Europa, têm orçamentos maiores que o Braga. O Belenenses também fez uma campanha europeia engraçada, não envergonhou o país. Mas a questão orçamental é determinante. Quem tem mais dinheiro compra os melhor, com mais qualidade. Mesmo Benfica, Porto e Sporting têm dificuldades em contratar jogadores de topo.
O Euro 2016
“ (…) acho que não devemos ser tão perentórios ao ponto de dizer que somos candidatos a vencer o Europeu, mas somos candidatos a estar nos quatro primeiros.”
BnR: Até onde pode chegar Portugal no Euro’2016?
JV: Eu sou daqueles que pensa este grupo não é assim tão fácil como as pessoas imaginam. Estamos a criar uma ilusão e esperemos bem não ter uma deceção. A Áustria é fortíssima, praticamente todos os jogadores jogam na Bundesliga; a Islândia tem muitos jogadores a jogar pela Europa fora, alguns deles em Inglaterra, já para não falar do que fez na fase de qualificação e a Hungria não pode ser vista como o parente pobre do grupo. Vai ser um grupo muito disputado, mas temos todas as condições de passar a primeira fase, a partir daí, acaba por ser um bocadinho a sorte do acasalamento das equipas, mas acho que não devemos ser tão perentórios ao ponto de dizer que somos candidatos a vencer o Europeu, mas somos candidatos a estar nos quatro primeiros.
BnR: Falando em Europeus, como viu a prestação dos Sub-21 no verão passado?
JV: É diferente. São gerações competitivas completamente diferentes. Temos miúdos com muito talento nos Sub20 e Sub21 mas a qualidade e a competitividade esbatem-se quando se chega à verdadeira elite, mas beneficiamos do facto de termos miúdos a jogar já em campeonatos muito competitivos tirando daí a vantagem sobre outras seleções.
A luta pela campeonato nacional
“O Sporting tem demonstrado muita qualidade, o Porto a espaços, o Benfica também tem feito bons jogos. Mas a equipa com maior regularidade do ponto de vista exibicional é o Braga.”
BnR: Quem considera estar a praticar o melhor futebol em Portugal?
JV: O Braga. O Sporting tem demonstrado muita qualidade, o Porto a espaços, o Benfica também tem feito bons jogos. Mas a equipa com maior regularidade do ponto de vista exibicional é o Braga.
BnR: Como vê a luta pelo título? Quem vai erguer o troféu no final da época?
JV: É difícil. Já davam o Benfica como morto, mas isto é uma maratona. O Benfica com o Salvio bem pode ter uma palavra a dizer. Na minha opinião o melhor jogador do Benfica (Salvio), que tem um capacidade de rasgo fantástica e transmite à equipa grande agressividade no ultimo terço.
BnR: Para si, qual é o melhor jogador a atuar em Portugal?
JV: Não estando o Salvio, talvez o Gaitán. O miúdo Gelson também tem muito talento. Eu quis trazê-lo para a Académica este ano; ainda falei com o Jorge Jesus sobre ele e sobre o Matheus Pereira mas ele disse-me logo que não (risos)!
Os treinadores nacionais
“O treinador português é um treinador muito astuto, que monta bem as suas equipas, é algo que faz parte da cultura portuguesa.”
BnR: Qual a sua referência, como treinador?
JV: Homens como Vítor Manuel, João Alves, Henrique Calisto, Vítor Oliveira, Gregório Freixo, José Rachão, José Costa são treinadores que passaram pela Briosa e que muito me habituei a respeitar. Senhores e verdadeiros decanos do futebol Português. Claro sem esquecer aqueles que também na formação me ajudaram a ser o que sou hoje; Pinho, Bentes, Crispim, Francisco Andrade e Curado. No entanto Vítor Manuel é aquele com quem mais me identifico. José Mourinho e Jorge Jesus são de facto atualmente os nossos grandes embaixadores!
BnR: Como vê o despedimento dele?
JV: É futebol. Mas não põe em causa o trajecto dele, um trajecto de campeão ao longo destes quinze anos.
BnR: Que valores emergentes encontra nos bancos nacionais?
JV: O treinador português é um treinador muito astuto, que monta bem as suas equipas, é algo que faz parte da cultura portuguesa, que já vem quase do tempo da guerra, sempre fomos um povo, que do ponto de vista estratégico, muito capaz.
BnR: Afirmou, no momento da saída, que se sentia mais treinador do que na altura em que chegou ao comando técnico da Briosa. Como tal, o que se segue para José Viterbo?
JV: Tenho duas ou três situações em estudo, brevemente tomarei uma decisão.
BnR: O que é que anda o autodiagnosticado “doente por futebol”, José Viterbo, a fazer?
JV: A ver futebol, a ver jogadores e a estar mais tempo com a família que foi uma coisa que durante 25 anos não fiz.
BnR: O que tem Coimbra de tão especial?
JV: Eu não sou de Coimbra, mas vim para cá com 4 anos de idade. Coimbra tem a mística. Vive-se, cheira-se, sente-se.