Há muito, muito tempo, era eu um miúdo que só pensava em bola e pouco mais.
Durante a semana, e estando na escola, estava sempre à espera para que chegasse o intervalo para poder ir das uns chutes na “dita cuja” com os meus amigos. O mesmo acontecia depois das aulas.
Nesta época pouco me importava quem ganhava campeonatos. Nem sequer sabia que existiam campeonatos, sabia sim que gostava de jogar com os amigos. Gostava de ganhar, mas sobretudo gostava do jogo em si.
O tempo foi passando e comecei a acompanhar os campeonatos nacionais e em particular o Sporting.
Aí sim, como qualquer miúdo, comecei a jogar com a ambição de, quem sabe, algum dia poder vir a ser jogador de futebol. Era mais uma etapa de quem tanto gosta deste desporto, com a ingenuidade de qualquer criança que acreditava ser possível desde que se tenha um pouco de jeito para a bola.
Os fins-de-semana eram passados em função do futebol. Sábados a jogar no clube local, e as tardes de domingo colado ao rádio (enquanto se tentava estudar alguma coisa) a ouvir os jogos da 1ª e 2ª divisões, acreditando que a nossa equipa iria ganhar, porque tinha os melhores jogadores. Se não ganhavam era por falta de sorte.
Era esta inocência associada à beleza do jogo jogado em campo que alimentava a paixão pelo futebol, e me fazia querer ser um “Balakov”, um “Iordanov”, um “Figo”. Tivemos equipas tão boas, com jogadores de tamanha qualidade, que o escasso número de títulos conquistados não espelhava minimamente todo esse manancial.
Parecia-me estranho e difícil de acreditar que aquelas equipas não conseguissem ganhar campeonatos. E não podia ser só falta de solte. Ninguém podia ser tão azarado assim.