O absolutismo benfiquista ou quando o delírio se torna regra

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    Vivem-se dias agitados para os lados da Luz. Nitidamente, a chamada estrutura benfiquista não contava que o Sporting ganhasse no Dragão, razão pela qual teve de tomar medidas. Como tal, nos últimos dias, assistiu-se a um corrupio de figurões encarnados, na ânsia de levantarem suspeitas sobre o Marítimo, sobre o Sporting, sobre o que calhar. Primeiro foi João Gabriel e o “jogo da mala”; depois foi José Eduardo Moniz – ex-opositor de Luís Filipe Vieira e, actualmente, mais um a amar o Grande Irmão – a “estranhar” que o Marítimo tenha poupado jogadores em risco de exclusão para a recepção ao Benfica (que mania esta de os clubes quererem ter os melhores jogadores disponíveis, José; enfim, do mesmo modo, também qualquer pessoa poderia “estranhar” como é que um antigo opositor se transforma em yes-man…); por fim, Rui Gomes da Silva, cuja honestidade intelectual é semelhante à de uma maçaneta de porta, escreveu no Facebook que tem dois princípios de que nunca abdica (se o próprio não se auto-elogiar, quem o fará…) e despejou frases de filósofos que provavelmente conheceu três minutos antes no citador.pt. O objectivo é sempre o mesmo das últimas semanas: levantar todo o tipo de suspeitas sobre o Sporting e o próximo adversário do Benfica. O vice-presidente encarnado atreveu-se mesmo a usar a expressão “contra tudo e contra todos” (já falei da sua honestidade intelectual?). Notável.

    Esta reacção é mais um episódio do absolutismo benfiquista que, nos últimos anos, se instalou entre nós. Tal como os monarcas medievais, também Vieira, secundado pela sua corte de esbirros, gere um império autoritário, intolerante e obstinado, que julga possuir o direito divino ao poder e que olha a todos como seus servos. Todos devem prestar vassalagem ao Benfica. Qualquer atitude que se desvie do que o clube pretende é encarada como subversiva e alvo de uma campanha exemplar de acusações, contra-informação e represálias. Em sentido inverso, quem se porta bem é premiado. O Benfica mandatar um dirigente para se queixar da gestão do plantel do Marítimo é tão surreal como se o Tottenham tivesse feito birra por o Chelsea ter utilizado os melhores jogadores na partida que deu o título ao Leicester. No fim de contas, os blues, tal como o Marítimo, também já não estavam a lutar por nada, mas não deixaram de ser ambiciosos no desempenho do seu trabalho. No entanto, tudo isto é incompreensível para muitos benfiquistas. Como não podia deixar de ser, a turba encarnada aplaude freneticamente os seus dirigentes. Perante tão evidente exemplo da famosa estrutura a carburar, importa esmiuçar, então, quem são estes adeptos do Benfica – não todos, é verdade, mas uma larga maioria – que se escandalizam com tamanha afronta levada a cabo pelo Marítimo. A lista é tão longa quanto esclarecedora. Vejamos:

    – são os mesmos que tentam desculpar o facto de o actual presidente, como é sabido, ter sido apanhado a escolher árbitros – à boa moda Pinto da Costa Vintage, que Luís Filipe Vieira tanto criticava;

    – são os mesmos que, em 2005, acharam normal que um Estoril-Benfica se tivesse jogado no Algarve;

    – são os mesmos que passaram esta época a desvalorizar o caso dos vouchers e a dizer que não passava de “cortesia”, fazendo esquecer que o que está em causa é o facto de os quatro jantares oferecidos em cada cupão (eram e continuam a ser sete cupões por jogo) poderem facilmente ultrapassar a quantia permitida – não há qualquer mecanismo para impedir que tal aconteça;

    – são os mesmos que acharam normal que Marco Ferreira, o último árbitro, durante mais de um ano, a assinalar um penálti contra o Benfica e a expulsar um jogador encarnado – e que por sinal foi também o último a estar em duas derrotas do clube na mesma época – tenha sido nomeado para a final da Taça e depois despromovido, vendo-se forçado a abandonar a actividade;

    vouchers
    O mesmo clube que considera natural oferecer jantares a àrbitros acha agora vergonhoso que o Marítimo tenha total autonomia na gestão do próprio plantel (!)
    Fonte: CMTV

    – são os mesmos que, quando se começou a falar de o Benfica ser o único clube sem penáltis ou expulsões contra, consideraram normal que Nuno Almeida tivesse assinalado uma grande penalidade aos 90 minutos do jogo contra o Braga (o Benfica vencia por 5-0) e que Bruno Paixão tenha expulsado André Almeida aos 90 minutos do jogo contra o Vitória de Guimarães, quando o jogador até já estava castigado para a partida seguinte por ter atingido o limite de amarelos. Assim se “quebram” recordes curiosos e se atira areia para os olhos dos adversários, para delírio de muitos adeptos encarnados;

    – são os mesmos que desvalorizaram e abafaram o facto de Marco Ferreira, árbitro escorraçado no final da última época, ter vindo a público dizer que Vítor Pereira lhe ligava para favorecer o Benfica. “Nas semanas em que eu ia dirigir um jogo do Benfica ele ligava-me sempre a pedir para ter cuidado (…). E fazia isso não só a mim como a vários colegas”;

    – são os mesmos que procuraram apagar o penálti de Luisão frente ao Estoril na 1ª jornada, quando o jogo estava empatado, pelo simples facto de que o Benfica acabou por golear por 4-0 (com todos os golos a surgirem nos últimos 15 minutos).

    luisao estoril

    – são os mesmos a quem nunca se ouviu uma palavra sobre o penálti claro de Mitroglou na Luz frente ao Paços de Ferreira, na 6ª jornada, quando havia 0-0;

    penalti mitro

    – são os mesmos que, de igual modo, nunca se pronunciaram sobre o penálti que ficou por assinalar no Benfica-Arouca, quando havia 1-0 para os encarnados.

    19 lisandro arouca melhor

    – são os mesmos que consideram normal que o Benfica seja o clube menos amarelado da Liga.

    – são os mesmos que alimentam (des)conversas até à exaustão sobre o lance da mão de Tonel em Alvalade, aclamando Rui Gomes da Silva, que disse que o atleta do Belenenses “só fez mão porque quis” e que, se fosse adepto azul, “teria vergonha” do jogador. Porém, esses mesmos adeptos não levantaram quaisquer ondas (pois claro) quando Vilas-Boas, do Rio Ave, ofereceu o golo a Jiménez (não se lançam aqui quaisquer suspeições sobre o jogador do Rio Ave, porque são infelicidades que acontecem no futebol, como qualquer pessoa com um pingo de honestidade sabe; apenas se pretende demonstrar a hipocrisia reinante na Luz, alimentada pelas principais figuras do clube);

    – são os mesmos que acham normal que Slimani tenha estado condicionado durante quase cinco meses, sem saber se iria ser castigado ou não, ainda para mais tendo-se aberto o precedente de ponderar um castigo no campeonato devido a um jogo da Taça;

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