O Casemiro talvez você não conheça, a aldeia donde ele vinha nem vem no mapa.
Assim começa a música de Sérgio Godinho, que não é sobre o jogador do Real Madrid, mas quase podia ser. O Casemiro também é quase um desconhecido ao pé de estrelas como Ronaldo, Bale ou Benzema, mas a verdade é que jogou a titular nos últimos sete jogos, dando a ideia de ser uma peça fundamental para Benítez. Por isso, quando, antes do clássico de sábado, o treinador lhe disse que ia para o banco, Casemiro estranhou a decisão, mas esperou para ouvir as razões.
Punha o ouvido atento, via as coisas por dentro, que é uma maneira de melhor pensar, via o que estava mal e como é natural, tentava sempre não se deixar enganar.
Benítez, tal como explicou aos jornalistas no final do jogo, disse aos seus jogadores que a sua intenção ao colocar um meio campo apenas com Kroos e Modric era apertar o Barcelona, recuperar a bola em zonas mais adiantadas e conseguir manter a sua posse.
Mas o Casemiro, que era fino de ouvido, tinha as orelhas equipadas com radar, ouvia o tipo muito sério e comedido, mas lá por dentro com o rabinho a dar a dar.
A explicação parecia estranha porque, sentado no banco, Casemiro não via o Real apertar, bem pelo contrário. E tudo ficou ainda mais estranho quando viu, por volta dos dez minutos de jogo, o Barça trocar 36 passes à vontade, com a bola a passar pelos 10 jogadores de campo, num lance em que os catalães tiveram a posse de bola ininterruptamente durante mais de um minuto e meio e que acabou no golo de Suárez.
O Casemiro, que era tudo menos burro, tinha um nariz que parecia um elefante. Sentiu logo que aquilo cheirava a esturro, ser honesto não é só ser bem-falante.
As explicações de Benítez não convenceram Casemiro. Muitas equipas decidem reforçar o meio campo quando defrontam o Barcelona, mas o Real Madrid fez o contrário. Benítez, a jogar em casa contra o Las Palmas e o Levante, por exemplo, achou que era necessário um meio campo a três, com Casemiro como médio mais defensivo, mas contra o Barcelona achou que bastavam Kroos e Modric.
Não sei se o Real é mais forte com Casemiro ou não (Ancelotti, no ano passado, venceu o clássico de Madrid apenas com Modric e Kroos no meio), o que digo é que Benítez não foi coerente com as suas próprias escolhas e deixou a sensação de que escolheu a equipa que o público queria e não aquela que acha ser a mais forte. Assim, não admira que, sentado no banco, Casemiro fosse cantarolando o refrão da música de Sérgio Godinho:
E dizia ele com os seus botões: Cuidado Casemiro, cuidado Casemiro, cuidado com as imitações. Cuidado minha gente, cuidado minha gente, cuidado justamente com as imitações.
Concluindo, Benítez não escolheu o onze em que mais acreditava e só há uma coisa pior do que ter Benítez como treinador: é ter Benítez como treinador a fazer algo em que nem ele próprio acredita.
A moral deste conto, vou resumi-la e pronto, cada um faz o que melhor pensar, não é preciso ser Casemiro para ter sempre cuidado para não se deixar levar.
Foto de Capa: Facebook de Casemiro