Tottenham: De olhos no título

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    Desde que me lembro, sempre vi o Tottenham como uma das boas equipas da Premier. Porém, desde que me lembro, nunca a vi lutar por muito. Nunca a vi com grandes estrelas (salvo raras exceções), com grandes aparições europeias. Contudo, sempre foi daquelas equipas que colocava logo atrás dos “Manchesters”, Chelsea, Arsenal, Liverpool. No ano do milagre (Leicester campeão), esteve perto, mas nunca admitiu essa pretensão, no ano passado a mesma coisa. Este ano o mais difícil é o City, que parece não ter quem o trave.

     

    Desde que Pochettino assumiu o comando dos norte londrinos, foi notória uma certa evolução em termos de intromissão, se assim o posso dizer, entre os eternos candidatos à conquista do campeonato inglês. Não sei se é coincidência ou não, já que o plano desportivo na área do futebol do clube, a médio longo prazo, planeado em meados da década anterior, só começaria a dar frutos neste momento, e o treinador em vigor poderia apenas constituir uma pequena parcela da responsabilidade pelo alcance de tal estatuto.

     

     

     

    O Tottenham apresenta uma série invejável de grandes talentos. Os quais poderão facilmente ser atraídos pela sedução do clássico interesse dos colossos multimilionários. Harry Kane é a estrela maior, mas na sua órbita há mais meia dúzia delas: Dele Alli, Eriksen, Dier, Lamela, Son, Hugo Lloris. Erik Lamela não tem tido protagonismo, mas penso que ainda irá a tempo disso mesmo. Encontra-se no fim da longa recuperação de uma lesão (contraída há 1 ano!). Resta saber que forma irá atingir, e se a vemos no topo ainda esta temporada.

     

    Quanto às hipóteses de lutar pelo título inglês na presente temporada, posso dizer que acredito que sejam poucas. Poderá vir a ser por demérito seu, mas o implacável Manchester City mete medo. Sinceramente, não vejo as tropas de Guardiola a recuar, antes pelo contrário. Sei que é bastante cedo, e que análises deste cariz numa competição do grau competitivo como a Liga Inglesa sejam pouco fiáveis, mas não podemos ser precipitados, afinal, recorrendo à História, em 1941 todos davam a vitória ao Eixo, mas a guerra durou mais quatro anos! Neste caso, a guerra ainda vai durar mais sete meses.

     

    A realidade é que no lado do City, aliam-se a consistência e uma qualidade futebolística brilhante e inabalável. Até agora, na Liga, nada a apontar quanto às exibições realizadas. Quanto ao United estou mais cético. Primeiro, existem dúvidas em certos jogadores que terão de corresponder obrigatoriamente às exigências: Lindelof não está em forma (e inadaptado ainda), e tem falhado; a Lukaku muito dizem que “desaparece” nos jogos grandes. Chelsea em busca de uma consistência demonstrada no ano passado, derivado às caras novas que integraram o plantel na última janela de mercado (excelentes contratações, mas o entrosamento com os companheiros ainda se vai cimentando, como é natural), Arsenal e Liverpool, os restantes candidatos crónicos ao Inglês, como já nos habituaram, logo no início já fazem prever uma época a ver o título a léguas de distância. Esperar para tirar conclusões mais sóbrias.

     

    Focando-me no Tottenham, o que posso dizer é que tem, neste momento, equipa para disputar o campeonato. Lesões ou outras condicionantes podem atrapalhar ou mesmo impossibilitar essa intenção. Peças chave lesionadas em Inglaterra podem muito bem deixar cair por terra isso mesmo. No caso concreto do Tottenham, Kane ou Dele Alli fora da equipa, já para não falar dos defesas Alderweireld ou Vertonghen, o primeiro que comete muitas poucas faltas. Revela-se um excelente central em termos técnicos, juntando-se a isso o facto de não recorrer muito a faltas para parar os adversários. Um dado indicador de uma extrema competência, pois pouco compromete.

     

    A dupla mais talentosa de White Hart Lane, neste caso, de Wembley Fonte: Instagram Oficial de Harry Kane
    A dupla mais talentosa de White Hart Lane, neste caso, de Wembley
    Fonte: Instagram Oficial de Harry Kane

     

    O Tottenham joga muito à base das alas. Laterais que fazem todo o corredor, apoiando os médios, como Dembélé, Eriksen e Dele Alli, Sissoko e Son; e colocam muita bola em zonas de finalização através de cruzamentos, onde Kane (em excelente forma e alvo das maiores cogitações de mercado, como nada mais, nada menos do que o Real Madrid), principalmente, costuma ser o homem procurado para corresponder aos mesmos. Enquanto este processo ofensivo acontece, existe Dier, que na minha honesta opinião me surpreendeu muito. No Sporting atuava, basicamente, a central, achava que iria dar jogador de equipa grande, como é o que está a acontecer, mas chegar a este nível confesso que não esperava. É uma torre de controlo que limpa tudo naquele meio campo. Sempre atento e ativo, permite ao Tottenham subir em profundidade, ao manter a equipa equilibrada e ocupando o espaço imediatamente na retaguarda da linha da bola. Deve ser dos jogadores preferidos de Maurício Pochettino, já que lhe dá essa segurança em zonas subidas do relvado. Ao mesmo tempo pode alinhar na defesa nas fases necessárias do jogo, constituindo o 4º defesa ao recuar.

     

    Alderweireld e Eric Dier - dois pilares da defesa norte londrina Fonte: Tottenham Hotspur
    Alderweireld e Eric Dier – dois pilares da defesa norte londrina
    Fonte: Tottenham Hotspur

    Falando em segurança, irremediavelmente terei de falar de Hugo Lloris. Atravessa o melhor momento da carreira. Também um dos grandes responsáveis deste sucesso que o Tottenham se pode gabar. Muito forte entre os postes e na saída dos mesmos, muito felino, já salvou muito ponto. Um guarda redes ao nível dos melhores, atualmente.

     

    Pochettino, quando acima “atirei para o ar” se o sucesso desportivo do Tottenham se devia, primordialmente, ao plano para a área do futebol delineado há uns tempos, ou ao técnico argentino, o que me parece é que se devem às duas vertentes: primeiro, Pochettino sem ter à disposição estes jogadores, não conseguiria pôr em prática o seu esquema tático. Esquema esse que, quanto a mim, o caracteriza: defesa compacta e subida, alas que fazem todo o corredor, que apoiam os médios e servem os avançados, e um ataque criativo e letal. Contudo, ao analisar-mos bem esta equipa, reparamos que não foi muito cara para o Tottenham. O investimento, tendo em conta a qualidade apresentada, foi muito, mas muito baixo. Ao mesmo tempo, vendas como Modric e Bale permitiram ao clube organizar-se financeiramente e construir uma equipa como esta, ao invés de gastar logo tudo num só jogador. De louvar.

     

    Aliado a este projeto está Pochettino. Sabe muito bem usar os jogadores que tem à disposição, ao ser pragmático: adequa a equipa ao oponente que enfrenta, não tem um onze pré definido para todos os jogos, e muito menos um sistema tático uno. Por exemplo, conhecido como franco utilizador dos três centrais, de modo a ter o campo mais povoado mais adiante no terreno, no jogo frente ao Real Madrid usou os quatro defesas. Ou seja, joga consoante contra quem joga! Um treinador numa fase inicial de carreira, mas ao que tudo indica, irá dar muitas alegrias aos adeptos do seu clube, que o adoram e pedem que a direção lhe ofereça um contrato de 10 ou 15 anos…

     

    Bem, considero o Tottenham uma formação a ter muito em conta quanto à disputa do título inglês, mas como é habitual, não luta apenas contra os dois ou três adversários diretos, como Chelsea, Man. United e City, como aparenta que vai ser a corrida, mas contra mais as restantes equipas que constituem a Premier e que fazem dela a competição mais imprevisível do globo. Avanços e recuos são o que caracterizam as campanhas pelo campeonato de Inglaterra, e no final o que conta é quem recuou menos, e não quem avançou mais.

    Foto de capa: Tottenham Hotspur

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    Diogo Fresco
    Diogo Frescohttp://www.bolanarede.pt
    Fã de um futebol que, julga, não voltará a ver, interessa-se por praticamente tudo o que envolve este desporto, dando larga preferência ao que ocorre dentro das quatro linhas. Vibra bastante com a Seleção Portuguesa de Futebol.                                                                                                                                                 O Diogo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.