Recuemos à época de 2003/2004. No Benfica da altura alinhavam Simão Sabrosa, Nuno Gomes, Miguel, Tiago, Petit ou Mantorras. O espanhol Camacho era o timoneiro e o Porto de Mourinho dominava o futebol entre portas. Foi há tanto tempo, ocorre-nos.
Nesse mesmo plantel do Benfica despontava um menino franzino, vindo dos juniores, mas que tinha uma garra e um pontapé fora do normal para os seus 18 anos. Na época seguinte, com Trapattoni ao leme, foi um dos esteios que levou o Benfica ao título, depois de alguns anos de seca. Augurava-se um futuro brilhante, meia-Europa estava de olho nele. Mais uma época de águia ao peito, com a champions como montra, e era hora de tomar decisões.
Com 20 anos tinha os exigentes adeptos benfiquistas rendidos ao seu futebol e entrega, mas inicia um conflito – quer sair do clube que o formou a qualquer custo. Seguem-se dois empréstimos a clubes ingleses – Portsmouth e Everton. Mas sem sucesso. As decisões fora das quatro linhas pareciam não ser tão acertadas como as que tomava dentro do campo. Apesar disso, Koeman, seu ex-técnico no Benfica, resgata-o para o Valência, onde ainda brilha uma época. O resto do tempo em Espanha foi gasto a perder fulgor, até que o Besiktas se lembrou dele. A Turquia também não foi boa conselheira e o craque só a espaços apresentava fogachos do seu magnífico futebol. Finalmente aterrou na Rússia, numa altura em que parecia que já só o dinheiro o levava de clube em clube.
Voltemos aos dias que correm. Passados 3 anos, provavelmente poucos portugueses se lembram dele, onde ele joga, ou se a época lhe corre bem. Pelo menos até aparecer uma nova história, de mau final, que decifre o seu paradeiro. Mas ele tem sido destaque nesta primeira fase do campeonato Russo. Com golos nos últimos jogos, um até de levantar o estádio, tem empurrado o seu Lokomotiv para uma série de vitórias e para tentar uma cavalgada na classificação até aos lugares cimeiros.
Foi titular nos últimos sete jogos do seu clube, o que já não acontecia há mais de um ano e meio, aquando da sua primeira época em solo russo. Mas por esta altura na Russia é altura de paragem de Inverno e as paragens não lhe têm feito bem. Será tempo de analisar se todas estas vivências de uma carreira lhe ensinaram algo importante no futebol – os jogadores têm que brilhar dentro das quatro linhas, não fora.
Como adepto confesso das tuas qualidades dentro de campo, espero que voltes em Fevereiro como saíste de Dezembro. Leva para a Rússia de novo esse perfume que caracteriza o teu futebol, a calma que dás ao meio-campo, mas sem perder a intensidade. Brinda os guarda-redes adversários com mais chapéus como fizeste ao do Terek Grozny recentemente, lembra-te que ‘só’ tens 30 anos, apesar do que já viveste e concentra-te naquilo que fazes melhor – jogar futebol.
A prova de que ter só futebol nos pés pode não chegar apara atingir o topo, de que a capacidade de trabalho e as decisões tomadas ao longo da carreira são muito importantes neste mundo. Ai Manuel Fernandes, Tivesses a destreza fora das quatro linhas que apresentas a isolar avançados e a escrita seria hoje outra certamente.
Fonte: F.C. Lokomotiv Moscow