Portugal 0-1 França: Astérix e os (ainda) irredutíveis gauleses

    “2 minutos de desconto? Acabe mas é com isto, senhor Danny Makkelie, que eles estão a precisar de intervalo e eu quero ir ao bar”. Era isto que eu dizia se fosse um dos espectadores que se deslocou ao Estádio de Alvalade para ver o Portugal x França.

    O astérix Valbuena viria a resolver o jogo à bomba e prolongar uma maldição gaulesa sobre Portugal, num jogo onde, apesar ter o carácter particular, estávamos perante duas equipas de topo mundial, com alguns dos melhores do mundo, e por isso exigia-se uma partida de maior qualidade e emoção. Foram 45 minutos de tédio, com uma e outra equipa a fazerem posse de bola, a tentarem circular pelas linhas e através de cruzamento incomodar os guarda-redes. Na teoria este era o objetivo, mas na prática tudo correu mal às duas equipas. Quando a bola chegava aos últimos 25 metros, o passe quase sempre saía errado, o cruzamento torto ou a bola era roubada pelo adversário.

    Ambas as equipas mostraram receio uma da outra e ocuparam muito bem os espaços centrais, o que levou a que na primeira parte apenas existissem dois remates à baliza: um por Matuidi aos 30’, após boa combinação com Griezmann e Sissoko, que Patrício defendeu com os pés, e outro por CR7, num livre muito longe da baliza, que Lloris sacudiu para o lado.

    O momento do festejo de Valbuena, que deu a vitória à França Fonte: Facebook de Valbuena
    O momento do festejo de Valbuena, que deu a vitória à França
    Fonte: Facebook de Valbuena

    As estratégias anularam-se uma à outra. Fernando Santos regressou ao 4-3-3, com Éder na frente e Ronaldo na esquerda (Nani estava na outra ala), mas ofensivamente a equipa não esteve bem, apesar de ter contado com um João Mário muito interventivo no miolo e a ser o principal. Para completar o triângulo do meio-campo, Fernando Santos escolheu Adrien e Danilo Pereira. Na defesa nenhuma surpresa. Patrício na baliza, Vieirinha e Eliseu nas laterais com Pepe e Carvalho a fazerem dupla.

    A França, de Deschamps, apresentou-se em 4-4-2, com Lloris na baliza, Sagna e Evra nas linhas, e Koscielny e Varane foram os centrais. No meio-campo, Sissoko descaiu para a direita, Matuidi para a esquerda, e Cabaye jogou a trinco com Pogba à sua frente. No ataque, Benzema e Fékir, que relegou Griezmann para o banco, mas logo aos 13’ foi substituído pelo jogador do At. Madrid, por lesão.

    Muita gente nos espaços centrais, muito pouco espaço entre linhas, impedindo rasgos e desmarcações, algo só conseguido por Matuidi, no lance já mencionado. Portugal, e como já é hábito com Fernando Santos, apresentou-se muito sólido defensivamente, mas com bastantes lacunas ofensivas, apesar da boa performance de Éder, a jogar de costas para a baliza, a segurar e tabelar com os colegas. Mas, depois, não existiu um cruzamento em condições para si, o que tornou a sua tarefa muito complicada.

    Por todos estes motivos e pelo futebol lento apresentado pelas duas seleções, o empate era mais que justo e o intervalo era aquilo de que todos precisavam para descansar e voltar com outras ideias e mais vontade. Certamente Fernando Santos e Deschamps chamaram a atenção dos seus pupilos porque não deviam estar a gostar do que viam, mas o que é certo é que tudo voltou na mesma. O mesmo futebol, a mesma pasmaceira, apesar de a França ter mais posse e tentar mais do que Portugal chegar ao golo. Os contra-ataques portugueses não saíam e Lloris nem sequer precisava de suar.

    Adrien esteve desinspirado no meio-campo português Fonte: Facebook Seleções de Portugal
    Adrien esteve desinspirado no meio-campo português
    Fonte: Facebook Selecções de Portugal

     

    A dança das substituições começou com o regresso de Miguel Veloso para o lugar do desinspirado Adrien (a intensidade de André André teria sido mais útil) e o de Cédric para o posto de Vierinha aos 61’. Logo a seguir, Fernando Santos pensou no jogo da Arménia e retirou Ronaldo para colocar Quaresma, que desta vez não agitou, e mais para o fim entraram Danny por João Mário e Bernardo por Danilo Pereira. Na primeira parte, José Fonte tinha entrado para o lugar de R. Carvalho, que saiu com um corte na cara.

    Várias mexidas e nenhuma delas acrescentou nada; Portugal manteve sempre o mesmo estilo, sempre a mesma ideia, e nunca mostrou grande de vontade de ganhar o jogo. Ora isto tem sido visível noutros jogos, mas o génio de Ronaldo tem disfarçado as lacunas ofensivas. Hoje, o melhor do mundo não brilhou, Portugal não marcou e a fatura pagou-se cara, bem perto do fim, com um golaço de livre de Valbuena, recém-entrado na partida.

    Um castigo justo para Portugal e um golo que premiou a melhor equipa em campo, embora nos tenha presenteado com um futebol pouco espetacular e muito lento.

    Até ao final, Portugal iniciou o chuveirinho mas sem resultados. Lloris continuou sem precisar de defender.

    Foi a 10ª vitória consecutiva da França sobre Portugal, aumentando uma maldição que perdura desde 1975. A estrela da sorte de Fernando Santos hoje não brilhou e Portugal voltou a perder. Todos sabemos que é preferível ganhar e jogar mal do que jogar muito bem e não ganhar, mas também sabemos que uma equipa que jogue bem vai ganhar mais vezes e está mais perto de ganhar. E, convenhamos, o conjunto de Fernando Santos já andava a abusar da sorte de jogar mal e ganhar sempre!

    A Figura:

    Os adeptos – num jogo tão fraco tenho que elogiar os adeptos por terem apoiado as respetivas equipas do início ao fim e não terem adormecido a ver o jogo ou assobiado à sua equipa. Valeu por isso!

    O Fora-de-jogo:

    Nani – 90 minutos em campo e quase nem se fez notar. Que fraca exibição; mais uma. Quaresma já começa a justificar mais minutos com a camisola das Quinas porque o estatuto não pode perdurar para sempre.

    Foto de capa: Facebook Selecções de Portugal

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    Luís Martins
    Luís Martinshttp://www.bolanarede.pt
    A mãe diz-lhe que começou a ler aos 4 anos, por causa dos jornais desportivos. Nessa idade já ia com o pai para todo o lado no futebol e como sua primeira memória tem o França x Brasil do Mundial 1998. Desde aí que Zidane é o seu maior ídolo mas, para ele, Deus só há UM: Pablito Aimar.                                                                                                                                                 O Luís não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.