Quando a 28 de Agosto de 2011, Yohan Blake (JAM) tornou-se o mais jovem campeão mundial de sempre dos 100 metros (na altura, com 21 anos), muitos pensaram que se poderia iniciar a partir dali uma rivalidade épica na velocidade com o seu companheiro de equipa e estrela maior mundial, Usain Bolt. Bolt estava presente nessa final de Daegu e concentrava todas as atenções do mundo depois das performances e recordes de Pequim e Berlim. No entanto, Usain fez uma falsa partida na final da prova rainha da velocidade e seria desqualificado. Nesses campeonatos, Bolt venceu a final dos 200 metros, mas Blake tinha abdicado dos 200 metros, pelo que o duelo entre os dois não se sucedeu.
Em 2012, Blake não parou de surpreender o mundo e correu os 200 metros em 19.26s em Bruxelas, o segundo tempo mais rápido de sempre na distância e com uma má partida. Com uma partida normal, estudos indicaram mais tarde que o recorde dos 200 metros teria caído naquela noite. Nos Campeonatos Jamaicanos, que serviram de Trial para os Jogos Olímpicos de Londres, Blake bateu Bolt nas duas distâncias (100 e 200) e deixou um claro aviso ao homem mais rápido do planeta. Em Agosto, nos Jogos Olímpicos de Londres, o mundo parou para ver um duplo duelo entre os dois jamaicanos. Bolt levou a melhor nos 100 e nos 200 metros, mas Blake demonstrou a sua força, arrecadando nas duas provas a medalha de Prata, com tempos muito bons. A rivalidade (amigável) que se tinha começado a construir um ano antes, estava finalmente de pé e Blake não estava pronto para desistir.
Tudo começou a mudar em 2013. Mas antes e porque não pretendemos seguir aqui uma linha cronológica contínua, iremos falar de um episódio que marcou a carreira de Blake e que, volta e meia, o assombra, principalmente quando o episódio é abordado por fãs casuais do desporto. O doping. Pouco antes dos Mundiais de Berlim (os Mundiais onde Bolt voou mais do que alguém alguma vez o fez), Blake, junto com mais 4 companheiros, testou positivo para um estimulante de nome dimetilamilamina. Esta substância não era, à data dos eventos, proibida pela WADA, a agência que controla o doping mundialmente. No entanto, continha uma estrutura muito similar a uma substância proibida, tuamine.
Blake não foi suspenso oficialmente por algum organismo internacional, uma vez que a substância só viria a ser proibida mais tarde. No entanto, a agência antidopagem jamaicana achou por bem castigar os atletas em causa por 3 meses, retirando Blake da única prova onde iria participar, aos 19 anos, nos Mundiais (a estafeta 4×100), de forma a afastar eventuais suspeitas. Blake sempre afirmou não ter ingerido a substância propositadamente, não tendo conhecimento da mesma. Independentemente de o ter feito ou não, é particularmente injusto o atleta ser constantemente lembrado de algo que não infringiu qualquer regulamento à altura e que apenas foi sancionado internamente, pela própria comissão jamaicana.
É curioso que se a própria comissão tivesse abafado o caso (e poderia fazê-lo, pois não era ilegal à altura o consumo da substância e poderia ter optado por uma simples advertência “à porta fechada”), hoje existiria muito menos falatório sobre supostos casos de doping jamaicanos. Pior ainda é quando há quem relacione a queda de Blake com o uso ou o não-uso de substâncias dopantes. Como aqui se esclareceu, este caso aconteceu quando Blake tinha 19 anos. Ele atingiu o seu auge anos depois disso e começou a sua queda ainda depois.
Então a que se deveu a queda de Blake? A principal explicação é bem simples e é o principal pesadelo da maioria dos atletas de alta competição: lesões.