21 de setembro de 2014. É por dias como este que adoro desporto; é por dias como este que adoro Fórmula 1. Singapura, iluminação artificial e emoção. Muita emoção. Tanta que levou mesmo a que a corrida fosse ‘fechada’ com o cronómetro ao invés das voltas previstas. No final, Lewis Hamilton subiu ao lugar mais alto do pódio e festejou um regresso à primeira posição do campeonato já dado como impossível por muitos.
“O Lewis vale o dinheiro que nos custou”, afirmou o eterno Niki Lauda após a corrida. E este desabafo repentino e honesto resume o dia. Resume aliás o fim-de-semana e, até agora, a época. Em cento e vinte minutos, Nico Rosberg viu a vida andar para trás enquanto o seu companheiro de equipa lhe ‘roubava’ o estatuto de líder. De confusões entre colegas de equipa a desastres mundamentais, o Mundial de 2014 resume-se a apenas uma equipa mas nem por isso deixa de ser emotivo. Engane-se (e arrependa-se) quem o diga.
Há dias assim — dias de loucos. Aquele foi um deles. Já no dia anterior ficaram lançadas achas para a fogueira com o britânico a terminar com a pole position graças a uma vantagem de, imagine-se… sete centésimos de segundo para Nico Rosberg, o seu colega de equipa! No entanto, o destaque do fim-de-semana vai mesmo para domingo, quando logo no início Rosberg foi forçado a desistir da corrida devido a falhas técnicas no carro.
Nada estava ganho. Longe disso. Lewis saíra com a pole, sim, mas tinha ainda pela frente cerca de cinquenta voltas. Cinquenta voltas que se viriam a revelar emocionantes (não só lá na frente) e talvez decisivas. Ainda perdeu a liderança para Vettel numa ida às boxes — que, aliás, permitiu ao alemão, tetracampeão em título, liderar pela primeira vez neste campeonato(!), mas por pouco tempo. Segundos depois, lá estava o Mercedes de Hamilton com uma velocidade de ponta inalcançável a ultrapassá-lo rumo a mais uma vitória.
Elegante, autoritário, histórico. Esta foi a corrida de Lewis Hamilton. Pelo que fez, pelo que aconteceu, pelo impacto que pode ter tido. Numa época em que apenas três pilotos conheceram o sabor da vitória (Daniel Ricciardo por três vezes, Nico Rosberg em quatro corridas e, por fim, Lewis Hamilton em sete fins-de-semana) nem tudo tem sido fácil. A Mercedes lidera desde sempre o mundial de construtores e é praticamente campeã; provável é também que um dos seus pilotos venha a vencer o campeonato (o australiano da Red Bull está a 57 pontos do alemão), mas os problemas na própria equipa alemã estiveram várias vezes presentes.
Hamilton e Rosberg discutiram, foram um contra o outro e viram-se a abandonar as provas por diversas vezes. A rivalidade não passa despercebida a ninguém, os problemas também não e a Mercedes chegou mesmo a recorrer ao Twitter para tentar ultrapassar a situação da melhor forma – ao gosto da maioria. Fruto da exímia condução, Hamilton (campeão em 2008) lidera hoje o Campeonato de Fórmula 1. Era impensável há duas corridas, quando na Bélgica abandonara o Grande Prémio. Mas desta vez o impensável aconteceu. O impensável aconteceu e poderá ter sido decisivo na competição. Para já, mudou e relançou o mundial.