A temporada 2016/2017 ficou marcada pelo regresso do Sporting ao Futebol Feminino. O meu artigo é sobre a forma como aconteceu o regresso e não sobre o regresso em si, porque este era algo que queria e defendia já faz algum tempo.
O meu problema neste processo é o que a FPF fez: convidar equipas só porque têm mais nome tem a sua lógica comercial, mas sou contra estas lógicas, o desporto é para ser jogado dentro de campo e não fora. Se queriam ter os grandes do desporto nacional com equipas femininas, deviam primeiro criar as bases para que tal acontecesse com o melhoramento das condições; concordo que lhes abram as portas e lhes facilitem em algumas coisas, mas sou contra o abrir as portas todas, sou contra o por as equipas na principal divisão, destruindo o trabalho que várias equipas tiveram ao longo dos últimos anos, sendo quase ignoradas neste prisma. Já ninguém ouve falar do Futebol Benfica, do Ouriense ou do CAC, agora só o Sporting e o Sporting de Braga interessam.
Foi muito mais fácil para a FPF aproveitar o nome Sporting, já que nem Benfica nem Porto aceitaram criar equipa feminina, do que conseguir criar bases para o futebol feminino ser falado em todo o lado. Antes de continuarmos, tenho de dar os parabéns precisamente aos dragões, que já têm três escalões de formação de futebol feminino, numa aposta que começou em 2013/14, e não cederam à tentação de ir pelo caminho mais fácil, preferindo manter a sua aposta na formação antes da criação da equipa sénior, o que é uma atitude de salutar.
Mas voltando à ideia chave, passaram a existir jogos em direto no canal do clube, outro canal também já deu pelo menos dois jogos do campeonato e, assim, uma federação conseguiu descartar-se do trabalho de promover a modalidade, ficando isto a cargo principalmente de um clube. O caso mais flagrante deste trabalho feito é o recente jogo entre Sporting e Sporting de Braga, com 9263 espetadores na bancada, um recorde em Portugal e que bateu o Portugal vs Roménia de outubro passado, no playoff de acesso ao Euro 2017, no qual vamos marcar presença pela primeira vez.
Mas mais importante: o que veio trazer o Braga ao Futebol Feminino além do nome? É que a equipa minhota não tem equipas de formação, ou seja, nunca poderá ser uma equipa sustentada e estará sempre a ter que ir “roubar” jogadoras às outras equipas. Espero que a FPF obrigue o Braga a criar escalões de formação, aliás, já devia ter estado entre as condições obrigatórias para se criar a equipa sénior no principal campeonato.
A própria FPF já tinha cometido o erro de ajudar os grandes há uns seis anos atrás, quando permitiu que as equipas B começassem na II Liga, prejudicando todos os outros clubes. Bem sei que as equipas B ajudaram e ajudam e muito o futebol português, mas na minha opinião estas equipas na melhor das hipóteses deviam ter começado na divisão nacional mais baixa da altura e não no segundo escalão. Talvez depois, por mérito desportivo, chegassem a este escalão.