Após o apito final dado pelo árbitro Ovidiu Haţegan no jogo entre Juventus e FC Porto, o previsível confirmou-se: Portugal terá menos uma equipa na Liga dos Campeões na época 2018/2019, passando de três clubes nacionais para dois. Com a mais curta prestação europeia dos últimos 15 anos, a Liga Portuguesa cai dois lugares no ranking da UEFA, cedendo o quinto lugar à França e permitindo à Rússia subir ao sexto lugar.
Nesta altura – e sabendo a Liga que Portugal ainda terá no próximo ano três equipas na “Liga Milionária” –, resta reunir esforços e ideias com os clubes e pensar no próximo passo a dar na estratégia europeia – se é que a Liga tem uma – para recuperar o prestigiado quinto lugar. Porque a verdade é que há fatores crónicos que parecem sempre dirigir os clubes portugueses rumo ao fracasso europeu. E que fatores são esses?
Um deles é, quer queiramos quer não, financeiro. Quando se trata de comparar recursos financeiros entre a Liga Portuguesa e as restantes ligas de topo europeias, a nossa sai em desvantagem. Em praticamente tudo: a nível de orçamento individual e de valor de mercado de cada clube (basta uma pesquisa pelo portal Transfermarkt), a nível de assistências nos estádios ou até ao que os direitos televisivos dizem respeito. E nisso, grande parte da culpa recai sobre a Liga, que ainda não soube abraçar na totalidade uma postura de futebol-negócio como as demais.
Um dos golpes que demonstraram essa passividade ou ingenuidade negocial do organismo foi a abordagem feita na venda dos direitos televisivos. A Liga NOS é a única das principais ligas europeias, segundo a KPMG, que não vendeu os seus direitos televisivos em conjunto, mas sim pela iniciativa individual de cada clube. Quem beneficiou deste modelo? Os Três Grandes, claro está. Quem foi prejudicada? A Liga, que se torna mais desequilibrada, diminuindo as possibilidades de os restantes clubes nacionais se reforçarem e fazerem boa figura europeia. E não só: com equipas ainda mais fracas, o nosso campeonato torna-se “um passeio” para Sporting, FC Porto e SL Benfica, que não tendo desafios à altura nas competições domésticas vão mal preparados para as competições europeias – quantas vezes vimos os Três Grandes a golear na Liga, debatendo-se depois, com dificuldade, contra equipas medianas na Europa?
Mas talvez mais importante do que os motivos financeiros, existe um outro fator de que nos esquecemos muitas vezes: somos fracos mentalmente. Talento e qualidade não nos faltam, mas esses não são equilibrados com um espírito vencedor e corajoso. Pensei que a conquista do EURO 2016 – alicerçada mais na mentalidade do que na qualidade do futebol – dissipasse uma atitude medrosa que os nossos clubes demonstram na Europa, mas tal não aconteceu. Jorge Jesus disse recentemente que os treinadores portugueses são os melhores do mundo. Todos os dias, numa enxurrada de rumores, os média repetem que os jogadores portugueses são desejados por meia europa. Mas se temos tão bons treinadores e jogadores, porque nos subjugamos a uma habitual auto desvalorização e exaltamos as qualidades do adversário, ignorando as nossas? Alguns dizem que as competições europeias não são “o nosso campeonato”. Se continuarmos a repetir este discurso, talvez não o seja. Não se pede um campeão europeu português, mas pede-se sim empenho e coragem.
Foto de Capa: Sports Illustrated