Já lá vão uns aninhos desde que a velha máxima de que “a defesa é o melhor ataque” era levada à letra. Por anos, entendo os guerreiros que tinham de fazer a formação quadrado para se defenderem das tropas romanas e dos atacantes gauleses. Bom, o Benfica não vai jogar com italianos ou franceses, pelo menos para já, mas para o caso da história se repetir, vamos analisar bem as coisas.
O raiar da época… Esqueçam este começo de texto à conto da Disney. No início da temporada, o Benfica de Vitória parecia ter um quarteto defensivo bem definido. Nélson Semedo à direita, Jardel e Lindelof no eixo e Grimaldo à esquerda.
Não havia nenhum benfiquista que reclamasse face a esta ideia. Nas laterais tínhamos dois miúdos rápidos, bons de bola, de pés, com potencial de crescimento e que, daqui a uns tempos, entenda-se dois a três na melhor das hipóteses, trariam lucro ao clube.
Na zona mais central da defesa, tínhamos a experiência de Jardel, não só aquela que ele já acumulou do Benfica, como aquela que já trouxe do Olhanense, e o melhor defesa central do campeonato português, que o ano passado fez uma época fantástica e é natural da terra do Ibrahimovic, logo, bónus.
Tudo parecia bem, mas acabou mal. A defesa do Benfica faz lembrar uma sitcom que, inicialmente, tinha imenso sucesso e todos gostavam de ver, mas que depois teve problemas na produção e viu alguns dos atores principais irem embora, sem se saber bem se ou quando voltam.
Nélson e Lindelof vão mantendo os papéis principais e vão lembrando as pessoas de que as coisas podem correr bem e de que os outros dois ainda podem voltar e reunir o gang para o final da season. Já Eliseu e Luisão fazem-nos lembrar tempos de glória, mas também de alguma insegurança e desconfiança.
O Luisão é, sem sombra de dúvidas, um dos tipos mais rijos do plantel do Benfica! Já são mais de 500 jogos de águia ao peito e isso é sinal de respeito. Sim, mas já vai sendo tempo de pensar num substituto. Verdade que era Jardel e uma lesão comprometeu a passagem de testemunho e que, à falta de melhor, ele é perfeito, mas se Jardel já vai ao banco combinar jantares com o Júlio César, então já pode começar a ir ao campo de braçadeira envergada, como no Estoril para a taça.
E, por fim, o caso Grimaldo. Lesionou-se na altura em que estava a render mais, a afirmar-se cada vez mais como o lateral-esquerdo de referência no Benfica, uma das grandes surpresas do campeonato português, que já tinha dado nas vistas no final da época passada e até tinha marcado no Restelo ao Belenenses. A vida corria-lhe na perfeição, a ele e ao Benfica, que o tinha, mas algo tinha de estragar este momento.
Uma lesão afastou-o dos relvados e começaram os testes. Iria Vitória pôr o titular do ano passado, Eliseu, no lugar de Grimaldo, como sendo a alternativa mais óbvia? Ou o INEM que é o André Almeida ia para a esquerda?
Inicialmente, foi Eliseu. Escolha bem clara. O objectivo era a equipa não perder equilíbrio e ter ali uma entidade que lhe é familiar e que conhece os mecanismos dos companheiros. Depois, o Almeida teve a sua chance. As coisas não lhe correram mal, mas Rui Vitória é um homem que não gosta de correr riscos, por isso, Eliseu voltou logo para o lugar.
Nesta altura, a base defensiva do Benfica é esta: Nélson, Luisão, Lindelof e Eliseu. O boletim clínico de Grimaldo é meio desconhecido, o que levanta algumas questões, e Jardel está a voltar aos poucos. Tem corrido mal? Nem por isso. Apesar de Lindelof demonstrar alguma inconsistência, sobretudo comparado com o rendimento anterior, Luisão, lá do alto da sua experiência e careca, tem posto alguma ordem nas coisas. Ainda é preciso ter em conta que Eliseu, mesmo não sendo o favorito dos adeptos, e sendo um jogador com algumas dificuldades, é um retrato fiel do seu treinador, um tipo que pouco inventa e que procura jogar simples, às vezes, até de mais.
A juntar ao Capitão vai valendo o moleque. Nélson tem sido incansável e é por estes dias o melhor lateral-direito do campeonato português. Só não calça na seleção porque diz que um tal de João Cancelo, também formado no Benfica btw, vai tomar conta do lugar, mas vamos ver.
O texto começou em tom de crítica negativa ao trabalho defensivo deste Benfica, mas na realidade é uma review positiva. Os rapazes têm-se portado bem e acima de tudo têm demonstrado nervos de aço em alturas mais complicadas transmitindo uma certa confiança ao resto da equipa, que só é abalada por outras coisas, mas isso vamos deixar para outras núpcias.
Artigo revisto por: Diana Martins