Só é enganado pelo discurso pós-dérbi da “estrutura” do Sporting quem quer – alguns sportinguistas; embora cada vez menos. Os factos explicam-se facilmente e claramente, e em apenas duas linhas: o Benfica ganhou, reforçando a liderança e empurrando o rival para o 3.º lugar (a uma distância de cinco pontos). Por sua vez, Bruno de Carvalho e Jorge Jesus não perderam tempo em atirar mais areia para os olhos daqueles que não conseguem (ou não sabem) desviar-se, usando da habitual retórica populista e demagógica para justificar outro insucesso desportivo. Assim, presidente e treinador do Sporting continuam a auto-ilibar-se, semana após semana, competição após competição, de quaisquer responsabilidades pelos desfechos negativos que se vão somando desde o início desta união profissional, pese o avultado investimento que ambos representam, contrariando as elevadas expectativas dos seus sócios e adeptos.
O discurso de Jorge Jesus não é sério; mas é natural. É compreensível pelo prisma do adversário. Numa semana de eliminação das competições europeias, às mãos do Légia de Varsóvia, perder na Luz, frente ao seu anterior clube, frente a Rui Vitória, abortando a recuperação pontual e classificativa, num jogo em que, sejamos justos, a sua equipa (desta vez focada a 100 por cento) merecia mais, não é, obviamente, fácil de digerir. Por isso, falar de arbitragem entretém sócios e adeptos. No rescaldo do dérbi, evita-se discutir o fracasso europeu, o actual 3.º lugar (a um ponto do 4.º) ou a incompreensível (aos olhos do comum mortal) substituição de Bas Dost. Discute-se, por outro lado, a actuação de Jorge de Sousa, árbitro de má memória para os benfiquistas, rosto dos “ventos de mudança” anunciados há pouco mais de um ano – aquando da eliminação do Benfica na última Taça de Portugal –, mas que, desta vez, se vê convenientemente incluído numa alegada estratégia, preparada à escala planetária, para beneficiar o Benfica e prejudicar o Sporting.
O discurso de Bruno de Carvalho também não é sério; porém, neste caso, não é natural. Nem o discurso nem, e muito menos, a postura. Embora a estratégia seja antiga, e o seu fim esteja bem identificado – o de se perpetuar no cargo a todo o custo –, não deixa de surpreender a forma despudorada como Bruno de Carvalho a usa; o presidente do Sporting reinventa, a cada gesto ou palavra, o populismo mais básico e primário.