No passado domingo percebi porque é que amo futebol. Ao minuto 76 do Arouca – Benfica, Lima mostrou-me a razão pela qual eu “perco” horas e horas a fio, semana após semana, a ver 22 jogadores disputarem uma só bola de futebol.
O Benfica já tinha dado a volta ao marcador, depois do primeiro golo dos arouquenses, e a preocupação com uma eventual perda de dois ou três pontos tornou-se ainda menor com a expulsão de Hugo Bastos. Senti que o Benfica chegaria ao terceiro golo e à merecida tranquilidade no marcador. Era só uma questão de tempo, e o tempo foi curto demais para o Arouca: na jogada seguinte, Ola John, na ala esquerda do ataque benfiquista, mostrou possuir grande visão de jogo e foi com mestria que colocou a bola nos pés de Lima. O avançado brasileiro isolou-se apenas e só perante Goicoechea.
Esta é a pureza e a essência do futebol: aqueles dois ou três segundos em que Lima, sozinho, corre em direção à baliza. O público, no estádio, levanta-se e sustém a respiração, como quem diz “Por favor, Lima…”. Em casa, outros arregalam os olhos para a televisão e erguem-se ligeiramente do sofá na ânsia de festejar o golo. No carro, há quem deixe de prestar atenção à estrada e olhe inutilmente para o rádio à procura de uma imagem que nunca irá surgir. No estádio, em casa, ou no carro, o subconsciente pergunta de forma unânime aquilo a que Lima irá responder em breve: vai ou não ser golo?
É golo! E o público, no estádio, exalta-se e rejubila de felicidade. Demonstram-no no abraço ao melhor amigo ou, quem sabe, ao desconhecido do lado. Em casa, o vizinho de cima também grita golo, e eu sorrio, como quem cumprimenta um velho amigo. No carro, há quem aumente o volume do rádio e acompanhe o longo e exaustivo festejo do locutor.
Futebol é isto. Futebol é aqueles dois ou três segundos de adrenalina antes do golo, que fazem milhões de pessoas partilhar o mesmo sentimento. Futebol é perceber que, enquanto corria na direção da baliza do Arouca, Lima teve o mundo a seus pés. Há algo mais bonito do que o futebol?