Importa ressalvar que aqui, na palavra totós, leia-se: todos os adeptos do futebol – serão mesmo? – ligados sentimentalmente a qualquer clube que, por cegueira futebolística e por limitações no que concerne ao raciocínio lógico, colocaram em causa a honra, o valor, até mesmo a idade, de um jovem que vence agora o prémio mais importante do futebol europeu para jovens jogadores. Assim de rompante. Como o aparecimento de Renato. De rompante também foi embora a frustração desmedida dos haters. O mundo do futebol não precisa deles.
Se para todos os portugueses esta conquista é um orgulho, para nós, benfiquistas, tem um sabor especial. Não para nos vangloriarmos que temos a melhor formação em Portugal, nem para afirmar que agora tudo o que sai da fábrica de talentos do Seixal transforma-se em ouro. Muito menos para enumerar em catadupa, todos os méritos de Vieira naquilo que é o crescimento do Benfica enquanto instituição. Mas, ver o nosso clube e a nossa formação assim representada, deve-nos orgulhar.
Renato Sanches acaba por ser…o Benfica. Já não nos pertence, mas aquilo que ele está a conquistar, quer a nível desportivo, quer a nível “patrimonial” (já são muitas as conquistas” representa o benfiquismo no seu lado mais puro. Até porque Renato, com aquele estilo de quem parece que está no Bairro da Musgueira, a jogar contra os seus amigos, descomplexado, tem evidenciado como poucos essa pureza. Essa genuinidade que ´tão cara ao futebol de hoje em dia. O futebol, transformado por muitos num negócio de milhões, precisa de gente como Renato. O menino que levanta, apaixona e leva à loucura qualquer adepto (do futebol).
Ele passa. Ele falha. Mas, imagine-se, logo a seguir, é o primeiro a tentar e, se falhar outra vez, vai tentar outra vez. De forma ainda mais difícil. O adepto esbraceja, desespera, mas logo a seguir está a aplaudir (de pé), quase rendido aos defeitos do miúdo. Pois são os defeitos que fazem sobressair (ainda) mais as qualidades. E é neste carrossel de personalidade que Renato ganhou o respeito dos benfiquistas. Porque o puto maravilha não se cinge a fazer correr o jogo. Muito menos é jogador para segurar tacticamente uma equipa. Aliás, ele abana as equipas. Qualquer equipa que se sinta presa, estagnada a nível táctico deveria ter um Renato à mão. Um jogador que parece estar sempre fora de contexto. Não por não entender o jogo. Mas porque parece sempre que quer mais, que pensa num patamar acima dos seus colegas todas as jogadas.
Renato não é consensual. Não pode ser. Nenhum jogador deve ser amado por todos. Senão, onde estariam as rivalidades (saudáveis) e como se alimentariam as tertúlias entre amigos? Mas Renato é sempre bom tema de conversa. Porque o que ele faz não deixa ninguém indiferente. Uns acham que ele roça o brilhantismo, outros ainda olham para ele com desconfiança – aqueles tais defeitos às vezes ajudam o adversário a marcar golos e coisas assim -, mas enquanto o respeito na discussão futebolística for mantido, o mundo estará bem. Enquanto limites não forem ultrapassados, como um adepto de um clube incitar ao ódio num minuto de silêncio de um gentleman do futebol português, a discussão futebolística continuará a ser uma arte nobre. O futebol precisa de menos totós e mais Renatos…