Com a idade aprendi a gerir melhor o meu tempo – por exemplo, escrevi este textozinho durante um período de compensação de um jogo do FC Porto. Ainda deu para o rever e publicar. Excelente! Porém, nem tudo foi um mar de rosas. Enquanto o escrevia, atentem bem, três penáltis (ou terão sido quatro?), a favor do mesmo FC Porto, ficaram por assinalar. Dois deles em simultâneo, no derradeiro lance do jogo – uma especialidade com direitos de autor (uma assinatura “João Pinheiro”). Entretanto, os jogadores Felipe, Maxi Pereira e Layún fizeram três faltas para amarelo, mas, a bem do futebol português, da isenção e da equidade, foram poupados à expulsão. Era o que mais faltava, jogadores destes, famosos pelo fair-play com que abordam cada lance, não beneficiarem da mesma protecção divina de Pizzi, esse facínora, reconhecido globalmente pela extrema violência que imprime nos seus golos e assistências. O tipo foi devidamente denunciado ao longo da última semana e meia; e o que aconteceu? Lá se safou novamente. É preciso terminar com esta vergonha.
Pinto da Costa e Luís Gonçalves continuam, de resto, a tentar fazê-lo. Ainda no último FC Porto-V. Setúbal se viram obrigados a dirigir-se à equipa de arbitragem, em pleno túnel de acesso aos balneários, no intervalo e no final da partida. É disto que falo: os responsáveis do futebol português mantêm-se imperturbáveis, enquanto pessoas sérias, acima de quaisquer suspeitas, se vêem obrigadas a saírem do conforto dos seus lugares, na tentativa de recolocarem as coisas no sítio certo. A visita ao centro de treinos dos árbitros, na Maia, pelos vistos, foi insuficiente. Deu uma ajuda, é certo. Seria injusto negá-lo, ou afirmar que nada, a partir desse ponto, se alterou. Ainda assim, esta nova tentativa para dignificar o futebol português parece curta.
Felizmente, existe neste país comunicação social livre e imparcial, comprometida em denunciar a realidade; capaz de desmontar a teia mediática e corruptível pró-benfiquista. Não fosse o “Dragões Diários” – entre outros – e hoje, muito provavelmente, ninguém se recordaria de metade do que já foi feito e dito, daquilo que deveria e não deveria ter acontecido. O colinho, os vouchers, o Calabote, entre muitos outros casos, absolvidos pela justiça desportiva e civil, mas mantidos à tona por quem, décadas a fio, se emprenha pela verdade desportiva.
As suspensões de Rui Vitória e Luís Filipe Vieira, que directa ou indirectamente, por meios próprios ou outros, mantêm desde o início da época um registo de coação e de pressão sobre os árbitros e restantes agentes desportivos parecem não ter sido suficientes. Felizmente, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol foi, desta vez, célere em abrir novo processo – aquele comunicado que defende a punição para quem coage, intimida e pressiona é, de facto, inadmissível.
Falando um pouco mais a sério, abdicando do tom jocoso que aqui me trouxe, resta-nos aquilo em que se tornou o futebol português – Bruno de Carvalho com os seus discursos e comunicados; Jorge Jesus com o seu ataque semanal à honra pessoal e profissional de Jorge de Sousa; o espectáculo dado aquando da sua expulsão no Bonfim; as declarações dos peões Nuno Saraiva e Octávio Machado; a invasão de um centro de treinos de árbitros por elementos da claque oficial do FC Porto; as declarações públicas de Pinto de Costa e de Luís Gonçalves; as visitas dos mesmos junto das cabinas dos árbitros; os artigos do “Dragões Diários”; as conferências de imprensa de Nuno Espírito Santo. Tudo isto, desde o início e, pelos vistos, até ao fim. Sem castigos, ou quaisquer consequências.
Tudo somado, será Luís Filipe Vieira e Rui Vitória a contarem mais suspensões e multas. É a impunidade total! A da pior espécie possível: a da justiça selectiva. Comparar as acções destes – somente as condenáveis –, em comparação com as dos seus congéneres rivais, é mais do que desequilibrado. É ridículo.