Ao longo deste ano, se houve um tema que foi uma constante nos meus artigos – e nos de outros redatores –, esse tema foi o desequilíbrio do nosso campeonato. Hoje pego de novo nesse universo, explorando em particular um fenómeno cada vez mais habitual na nossa liga e em ligas estrangeiras: a estratégia de compra e rotação por empréstimo de jogadores por parte dos clubes grandes.
Para analisar de forma coerente este fenómeno, convém percebermos bem sobre o que falamos realmente, os empréstimos. Este tipo de transferência consiste, como o nome indica, num empréstimo de um jogador, normalmente sem custos ou de custo reduzido, por um período mínimo de contrato entre duas janelas de transferências. Mas o que é importante reter é mesmo a função dos empréstimos: quando um clube empresta um jogador, normalmente ele é o elemento prioritário da transferência, pois ela acontece para que este não perca ritmo e evolução quando não tem espaço na equipa, procurando essa progressão e espaço noutro clube temporário.
Obviamente que os clubes são parte interessada e pretendem sempre sair deste processo com outras mais valias, mas, talvez na maioria dos casos, a prioridade é o jogador. O problema está aqui. Neste momento a prioridade não é o jogador nem o retorno desportivo das equipas, mas sim, quase exclusivamente, o retorno e lucro financeiro dos clubes, criando-se, de certa forma, uma espécie de poder invisível dominado pelos “grandes”.
Atualmente, a política de contratações de Benfica, FC Porto e Sporting – uns mais que outros – passa muito por esta estratégia: comprar autênticos carregamentos de jogadores a clubes mais pequenos da nossa ou de outras ligas, para depois redistribuí-los de novo por equipas quer do nosso campeonato quer de ligas estrangeiras. Se isto lhe parece completamente normal, então acrescentemos outro facto – os jogadores comprados pelos grandes com o objetivo de rodarem num verdadeiro carrossel são, na sua maioria, de qualidade inferior e de preço baixo.
Para ilustrar esta afirmação, peguemos em alguns exemplos recentes desta estratégia, nomeadamente por parte do Benfica: durante esta semana, foram noticiadas em órgãos de comunicação social desportivos as contratações de Patrick Vieira, do Marítimo, e de Willyan, do Nacional da Madeira. Enquanto que para o primeiro se adivinha uma transferência a custo zero – devido a final de contrato – para Willyan desconhecem-se os contornos do processo, dado que o brasileiro ainda tinha contrato com o Nacional até 2020.
São duas contratações por parte do Benfica que se podem considerar, no mínimo, improváveis e desnecessárias. Sem querer desvalorizar os dois jogadores, parece-me que, à vista desarmada, estes não mostraram qualidade suficiente para jogar no clube da Luz. E estou certo, porque provavelmente não jogarão: Willyan foi imediatamente emprestado ao Vitória de Setúbal, enquanto que, nas palavras da comunicação social, Patrick deverá ser também “emprestado a outro emblema”. Ou seja, o Benfica serviu quase exclusivamente como um intermediário para a transferência, tendo como único interesse o domínio dos direitos económicos dos jogadores, os quais passa a deter.