O futebol é cada vez menos dos bem-formados

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    Hoje, dia 14 de Maio de 2016, o futebol português viveu um dos dias mais elucidativos e reveladores quanto ao seu estado actual. Na Ledman LigaPro – ou Segunda Divisão, como se chamava antes da ditadura do dinheiro -, discutiam-se os lugares de promoção à Liga NOS – ou Primeira Divisão, para os mais conservadores – e também a despromoção ao Campeonato de Portugal Prio – aqui, como o dinheiro em movimento é mais escasso, o nome é menos chique.

    Para contextualizar os mais desatentos, estavam a batalhar pela subida o Freamunde e, sobretudo, o Portimonense e o Feirense, e pela descida havia um leque de equipas entre as quais o Benfica B e o Farense a tentar continuar nos campeonatos profissionais na próxima temporada. Sobre a luta pela subida pouco me alongarei, mas é curioso ler o comunicado que o Portimonense publicou depois de o Feirense bater o Gil Vicente, na penúltima jornada, com dois golos nos descontos – o último, aos 96 minutos -, e o conjunto de Barcelos reduzido a… 8 jogadores.

    É mais cómodo e conveniente que os clubes se mantenham numa área geográfica próxima, de forma a diminuir despesas em deslocações e dormidas de adversários e equipas de arbitragem, mas isso não pode ter influência na presença de uma equipa em detrimento de outra. Contudo, basta estar atento, não só ao número das equipas do norte e do sul nos campeonatos profissionais, como à forma como uns se mantêm em detrimento de outros, para se constatar que não é por falta de talento ou competência que o norte é largamente dominador no que ao número de equipas diz respeito. Este caso Portimonense/Feirense foi só mais um exemplo disso mesmo.

    Ainda mais engenhosa, trabalhada e, permitam-me, repugnante, foi a luta pela manutenção. Escreveu uma vez Marinho Peres no livro Golpe de Estádio, uma tentativa de denúncia daquilo que é o futebol em Portugal, que se há quem se revolte com o que vê nos jogos de futebol televisionados… imagine o que se passa nos não televisionados. Na presente época, o Benfica B ficou aquém de todas as expectativas, descendo mesmo aos lugares de despromoção e correndo o sério risco de cair para o terceiro escalão. Na 36.ª jornada, o Farense – também na luta pela manutenção – visitou o Seixal num jogo muito importante para os objectivos de ambas as equipas, mas utilizou Harramiz, jogador emprestado pelo Benfica, conforme proíbem os regulamentos.

    Nesse sentido, não só lhe foi aplicada uma derrota administrativa (num jogo que perderam de qualquer forma) como foram retirados à equipa de Faro dois pontos adicionais. Perante o sucedido, o presidente António Barão afirmou ter-se tratado de um erro e disse achar que o jogador já não fazia parte dos quadros das ‘águias’. Como se não fosse suficientemente pouco credível, menos se torna quando se verifica que a equipa algarvia vendeu, algum tempo antes, os direitos televisivos à Benfica TV, e que teve nos ‘encarnados’ o seu principal patrocinador.

    Fonte: Público
    Fonte: Público

    Regressando ao dia de hoje, ou quase, importa olhar às nomeações para a última e decisiva jornada da Segunda Divisão – sim, eu sou dos conservadores. Para o Benfica B vs Freamunde, Bruno Paixão foi o escolhido. No Aves vs Mafra, Luís Ferreira. E no Oliveirense vs Leixões, Manuel Mota foi o eleito. Para quem defende as nomeações, difícil tarefa esta de justificar a escolha de três dos árbitros mais frequentemente ligados às polémicas com o clube da Luz. Como não há fumo sem fogo, logo aos 23 minutos do Benfica B vs Freamunde se percebeu como seria o dia. Bruno Paixão, depois de assinalar livre directo à entrada da área, reuniu com o seu assistente e resolveu mudar a decisão para penalty a favor do Benfica B, entretanto convertido por Gonçalo Guedes. Aos 39’, o Freamunde foi reduzido a 10 jogadores e aos 41’, novo penalty para o Benfica. Pelo meio, os visitantes reclamaram grande penalidade na área ‘encarnada’, mas nada foi assinalado. Nada podia ser assinalado.

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