O jogo encaminha-se para o fim, mas há um jogador que resiste às investidas dos adversários, das emoções e do tempo. Foge à pressão contrária com a tranquilidade de quem ganha, mesmo estando a perder e constrói com a pressa de quem perde, mesmo ganhando. Em lançamento, num passe em profunidade ou em posse, com a frescura física de um jogador que acaba de entrar.
Nos 90 minutos anteriores já tinha dado à equipa o apoio incondicional de um soldado capaz de morrer pela causa – dobrou os laterais, fez de terceiro central e até foi à frente para ajudar à pressão sobre a saída de bola do adversário. E não, não se cansa.
Confundi-lo com um miúdo de 18 anos recém-entrado não é nenhum absurdo. Porque ele alia a disponbilidade física à garra de quem acaba de chegar e muito precisa de fazer até cravar, com unhas e dentes, um lugar no onze.
Assim é Assis. Seguro das suas acções, mas ciente da efemeridade de uma boa exibição. Não dá nada por garantido (mesmo que não exista concorrência interna) e não facilita em nenhum dos muitos lances que toma como seus.
A equipa agradece. Os laterais, os extremos e o seu parceiro de meio-campo sabem que serão compensados e atiram-se ao ataque cegos de confiança num guarda-costas que tem todos os 170 cm e 69 quilos do seu corpo comprometidos com o jogo.
O sucesso do Desportivo de Chaves, equipa sensação da primeira metade do campeonato português, explica-se pelas acções do ‘volante´ brasileiro, capaz de fechar vias principais e atalhos rumo à própria baliza (posicionalmente irrepreensível), contribuindo para a recuperação de bola (feita ou facilitada por ele) e consequente início de transição ofensiva.
O interesse na contratação de um jogador com esta quantidade de recursos é, pois, natural, tal como é a novela que lhe pode estar associada. Braga e Porto chegaram-se à frente e deixaram para trás equipas do campeonato espanhol e francês. Num duelo a dois, parecem ter sido os minhotos a ganhar a batalha aos portistas.
Neste duelo, a vontade de Assis terá sido preponderante, escolhendo um contexto que o favorece em dois aspectos fundamentais. O primeiro prende-se com o facto de voltar a treinar com Jorge Simão, um técnico que já o ajudou a crescer na transição de contextos competitivos (da 2ª para a 1ª Liga). O segundo tem a haver com necessidade gritante de desinibição ofensiva do Braga.
O brasileiro, da mesma forma que amparava as subidas de laterais e colegas de meio-campo em Chaves, pode, também, sustentar, e com menos solicitações, o processo ofensivo do Braga, fazendo funcionar um carrossel intermitente, a necessitar de um alguém que lhe ligue a ficha.
Foto de capa: GD Chaves