Abdicar para ganhar

    a minha eternidade

    O Futebol Clube do Porto recebe esta quarta-feira o Bayern de Munique, no Dragão, para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. O clube alemão treinado por Pep Guardiola é uma das melhores equipas do mundo, apenas ladeado (na minha óptica) pelo Barcelona.

    As duas formações enfrentam algumas baixas para este desafio europeu que poderão condicionar os respectivos plantéis. Pelo lado dos dragões não estarão em campo Tello, por lesão, e Marcano, devido a castigo. Jackson, apesar de convocado, não tem treinado com bola nas últimas semanas e não deverá, portanto, jogar de início; no máximo, poderá eventualmente ser opção nos minutos finais do jogo. Neste enquadramento, os azuis e brancos deverão actuar no seu sistema usual (4x3x3), com Fabiano nas redes; Alex Sandro, Indi, Maicon e Danilo na defesa; Casemiro, como pivot defensivo, será coadjuvado pelos interiores Herrera e Óliver no meio campo; Brahimi, Quaresma e Aboubakar formarão o trio mais ofensivo. O colosso alemão irá ter de lidar positivamente com a contrariedade das inúmeras baixas a cargo do seu departamento médico. Entre os indisponíveis está Mehdi Benatia (defesa), David Alaba (que de lateral passou a médio centro), Javi Martínez (trinco posicional e equilibrador) e Schweinsteiger (jogador que melhor une os dois momentos no meio campo: recuperação/construção). Juntando a esta razia, os dois mais ilustres ausentes são os dois criativos/velocistas/finalizadores Robben e Ribéry, que dão uma qualidade suprema à equipa, atribuindo-lhe uma aura de quase imbatibilidade.

    Independentemente destas limitações na preparação do jogo, o gigante alemão irá apresentar um onze temível, escalonado numa estrutura de 4x3x3. Manuel Neuer na baliza, Dante e Boateng (centrais), Bernat na lateral esquerda e Rafinha na direita; no meio-campo deverão alinhar Xabi Alonso, Lahm e Thiago Alcântara; como três homens mais avançados, Guardiola deverá lançar de início Mario Götze, Thomas Müller e Robert Lewandowski. Como sistema alternativo, o espanhol poderá utilizar também um 5x3x2, com três centrais e os laterais muito adiantados, entrando Badstuber para central (saindo Lahm do sector intermediário). Se for este o esqueleto inicial, Götze deverá recuar para médio, deixando Müller e Lewandowski soltos perto do golo.

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    Herrera foi um dos portistas elogiado por Pep Guardiola
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Apesar de ser uma equipa com pouquíssimos pontos fracos, os dragões poderão ferir o Bayern de Munique em alguns momentos. Será importante identificar zonas de pressão ou jogadores específicos para roubar a bola e aproveitar a exposição alta da equipa bávara, que abre, devido a uma predisposição excessivamente ofensiva, espaço nas suas costas. Os centrais (não tão hábeis) saem a jogar desde trás e sobem, em várias ocasiões, com a bola controlada para lá do terreno adversário. A dupla de centrais deve ser pressionada ou as suas opções antecipadas pelos avançados portuenses. Xabi Alonso deverá ser alvo de uma marcação individual alternada entre os dois médios interiores (Óliver e Herrera), visto que é o jogador mais habilitado para o início de construção do Bayern, não só no precioso passe curto, mas também no teleguiado lançamento longo (se este jogador for anulado, todo o processo colectivo de posse perde discernimento). Os laterais alemães participam em todos os momentos do ataque posicional, permitindo a abertura em posse no momento ofensivo. Visto que Müller e Götze deverão procurar movimentos interiores e apoios entre linhas, a profundidade deverá ficar a cargo dos dois laterais incansáveis e de técnica apurada. Mesmo assim, julgo que o Porto deverá tentar condicionar o Bayern a lateralizar o jogo e deixar que a bola caia preferencialmente nestes dois jogadores (Bernat e Rafina), não se desgarrando na ocupação da zona central, nevrálgica para condicionar o jogo interior apoiado e combinações em tabela e em diagonais (o ponto mais temível dos alemães).

    Julgo que o Porto se pode superiorizar nos momentos de recuperação de bola a meio campo, visto que tem um trio de médios fisicamente mais apto do que o do seu concorrente: Xabi, Lahm e Thiago, jogadores excepcionais no passe curto, mas algo macios e pouco rápidos em processo defensivo. A ausência de Tello (importante para uma invasão do espaço em velocidade) e a de Jackson (exímio em combinações mas também predisposto e competente como primeiro defesa a sair em pressão) serão difíceis de contornar. O posicionamento defensivo alto da defesa bávara poderá ser aproveitado com uma nuance de movimentação por parte do trio de avançados portista. Seria interessante ver Quaresma executar movimentos interiores, abrindo espaço nas faixas a Brahimi e Aboubakar. Assim, o Mustang seria mais um na batalha pelo miolo e, também, em momento de recuperação de bola, poderia executar um último passe letal, solicitando diagonais aproveitando o espaço vago lateral/central oferecido pelos alemães.

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    FC Porto ou Bayern – só há lugar para um nas meias-finais
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Julen Lopetegui e os seus comandados deverão ter a noção de que vão passar a maior parte do jogo sem o contacto com a bola (algo inédito esta temporada). À “superioridade autista” de Guardiola, excessivamente ego centrada no seu estilo e modelo, o técnico basco terá de opor uma abordagem mais condicionada, empreendendo uma contra-estratégia que altere alguns princípios de jogo. Para discutir a eliminatória, os dragões, mesmo que não adoptem uma postura receosa e de contra-ataque, baixando excessivamente linhas e esticando longo na frente, terão de abdicar da sua tradicional troca de bola circular entre os defesas e o seu guarda-redes. Em vez de chegar à baliza contrária com “20 passes”, o Porto poderá iniciar uma construção apoiada e curta, embora não possa sair a jogar de forma pausada e tranquilamente pensada (como tem sido apanágio esta época). Basta o Bayern ganhar uma bola na primeira fase de construção para fazer golo; como tal, os azuis e brancos devem ter a humildade de alterar este seu princípio (sem alterar a filosofia). Não existindo “jogos perfeitos”, para ganhar, o Porto terá de fazer uma “partida sem falhas”.

    Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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    David Guimarães
    David Guimarães
    O David tem uma paixão exacerbada pelo Futebol Clube do Porto. Esse sentimento de pertença apertado com a comunidade de afectos portuense não lhe tolhe a razão, activa-a, aprimorando-a em forma de artigo.                                                                                                                                                 O David não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.