Afinal, o que correu mal?

    tinta azul em fundo brando pedro nuno silva

    Acabou! A época 2014/2015 foi péssima: o Porto vai sair deste ano desportivo sem um único troféu, nem uma “supertaçazinha”, que é ganha às custas da época anterior, pois nem a temporada transacta foi de sucesso.

    Há muitas razões que podem ser apontadas para o insucesso desta época mas as mais importantes, ou pelo menos as que saltam mais à vista, podem ser listadas (sem ordem de importância) de forma mais ou menos correcta.

    Arbitragens

    Primeiro e para arrumar a questão, as exibições dos homens do apito. Já foram mencionadas as más arbitragens ao longo da época, até discriminados alguns erros em jogos específicos (podem ser mencionados outra vez se necessário) mas parece que estes têm que ser menosprezados devido a más exibições do Porto. Está errado. O facto de qualquer clube em qualquer momento da época passar uma má fase nada desculpa a constante tendência para beneficiar uma só equipa. Foi uma almofada nos momentos maus, foi um facilitador em jogos dificeis, nunca os deixaram cair. É sempre mais fácil beneficiar um clube que tem mais adeptos e mais simpatia da imprensa do que qualquer outro em Portugal.

    Más escolhas técnicas e tácticas de Lopetegui

    Já muito foi falado sobre Lopetegui, os próprios adeptos estão divididos em relação à continuidade do treinador – ao que tudo indica, porém, ficará para o ano. Não foi uma temporada fácil para o técnico espanhol, que chegou ao nosso futebol como um desconhecido.

    Há sempre muita desconfiança quando um treinador estrangeiro vem para o futebol português. Afinal, este não lhe conhece as “manhas” nem os truques, diz-se que há a tendência para menosprezar os adversários e facilitar contra os clubes do fundo da tabela. Para aumentar ainda mais este olhar de soslaio, o treinador é espanhol. Dá sempre aquele sentimento patriota – admito que também sofro disso – quando um “hermano” vem para uma posição de poder no nosso país, neste caso no futebol. Ainda para mais, o raio do espanhol pôs-se a protestar com as arbitragens do Benfica, veja-se lá a soberba!

    O que é certo é que as escolhas nem sempre foram as acertadas. Lopetegui chegou com a ideia de não haver titulares (o Porto aposta sempre forte na primeira fase da Liga dos Campeões pelo que a rotatividade tem que acontecer) e de que todos podiam fazer parte da equipa inicial seja qual for a equipa-base. A Liga portuguesa, no entanto, é uma liga de algum combate em que se exige máxima concentração em todos os jogos, principalmente nas deslocações, logo a concentração de um jogador que tem jogado pouco e o entrosamento não são os mesmos de um jogador que está constantemente a em acção.

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    Jackson foi figura de proa na época do FC Porto
    Fonte: Página de Facebook de Jackson Martínez

    Outro pecado de Lopetegui foi uma abordagem táctica ineficaz e a falta de um plano B em jogos importantes. Por exemplo, o Porto não ganhou nenhum jogo ao Benfica este ano e, no entanto, os vermelhos nunca tiveram a iniciativa de jogo (aliás nem contra o Sporting). Mesmo no Dragão, a estratégia portista caiu por terra quando Jesus desceu a equipa depois de Tello ter criado perigo nos minutos iniciais. A partir daí não houve um segundo plano, assim como não o houve na Luz quando o primeiro não estava a resultar ou no Dragão, contra o Sporting, para a Taça de Portugal. Muitas foram as vezes em que o Porto bateu contra o muro de betão elevado pelas equipas adversárias; poucas foram as vezes em que o superou com eficácia.

    Apesar destes e de outros erros, Lopetegui foi mudando ao longo do ano, tendo sido mais os jogos em que mexeu bem nas substituições do que mal e a equipa tem, realço, uma ideia de jogo. Uma auto-análise só fará o técnico melhorar e encarar a próxima temporada com mais esperteza (sim, esperteza é a palavra indicada).

    Hiperbolização do plantel

    Muito se falou sobre o orçamento do Porto em contratações este ano. Os Dragões tinham gasto em Setembro de 2014 cerca de 33 milhões de euros, o Benfica 30 milhões (veja-se a “enorme” diferença de 3 milhões) e o Sporting cerca de 16 milhões. Entraram no nosso plantel principalmente promessas de craques, jogadores que tinham estado menos bem nos seus clubes e alguns emprestados – seria, portanto, um ano para apostar forte na recaptura do campeonato. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia – era necessário colocar estes jogadores a funcionar como equipa e a alguns era preciso recuperá-los primeiramente. De uma forma simplista, pensou-se que seria colocar uns craques e estava o trabalho feito mas nada é assim tão preto no branco. E neste capítulo, apesar das imensas saídas, o nosso rival directo desta época levava uma vantagem invisivel. A espinha dorsal que ficou nas águias é sólida, sabe jogar e tem muita experiência no nosso campeonato, sendo que, além do mais, pôde concentrar-se só na Liga desde cedo.

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    Hélton. 37 anos, 15º jogador com mais jogos na história do FC Porto
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Houve ainda uma inconstância nos nossos jogadores, alguns tipicamente na sua fase de adaptação a novo clube ou a novas funções. Aconteceram evoluções positivas como as de Casemiro ou Tello; outros baixaram de produção como Brahimi; e alguns há que pautaram o campeonato por alguma inconstância como Quaresma (que esteve melhor do que na época passada) e Herrera. Se se fizesse um gráfico com a qualidade das exibições nas partidas do campeonato, alguns atletas iriam do 0 ao 10, o que não pode acontecer numa prova de estabilidade/regularidade.

    Há jogadores que devido ao seu talento ou pico de forma nunca deixaram de estar ao seu melhor nível durante a época como Danilo, Jackson Martinez, Oliver e, em menor escala, Alex Sandro. Tal como já disse numa crónica anterior, o Porto tem uma grande equipa mas não é a melhor que já teve, ao contrário do que muitos quiseram afirmar.

    Responsabilidade dos jogadores

    Um assunto já tocado pelos meus colegas do Bola na Rede, por mim e pela grande maioria dos adeptos – a falta de ambição dos jogadores. O Porto guerreiro a que fomos habituados não perdia com o Sporting em casa daquela forma, não desperdiçava a oportunidade de se aproximar do Benfica quando se deslocou ao Nacional nem se deixava empatar pelo Belenenses ao minuto 84 num jogo que podia dar o título ao rival. Houve uma perda de identidade notória! Há uma falta de experiência, idade e de saber o que é o Porto. Poucos são os jogadores no nosso plantel para os quais olhamos e que reconheçamos como um pilar de estabilidade, do saber o que é ser portista. É um problema que, na minha óptica, transcende o treinador – os jogadores parecem olhar para o Porto cada vez mais como uma ponte para outros clubes e só assim se percebe a falta de pernas em jogos que têm de ser ganhos obrigatoriamente. Talvez seja preciso cobrar à boa maneira portista outra vez, em vez de estarmos sempre a fazer cafunés a profissionais.

    Resta preparar a nova época com especial cuidado, analisar cada sector, posição e encontrar jogadores que vão ao encontro das características de jogo do treinador, em vez de contratarmos bons jogadores que vão demorar a assimilar as suas ideias. Loepetegui não vai mudar muito a forma de jogar, é casmurro nesse capítulo, pelo que saibamos então encontrar os atletas certos para a equipa.

    Outros pontos importantes de referir são a estabilidade financeira do clube e a política económica – aí reside o cerne de toda a estrutura. A nível financeiro, a direcção tem de ser muito inteligente pois esta, sim, é a maior ameaça ao nosso clube. Com ponderação e cabeça fria encaremos o que aí vem com a força do Dragão e sempre prontos a apoiar o clube do coração no melhor e no pior.

    Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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    Pedro Nuno Silva
    Pedro Nuno Silva
    Portista de corpo e alma desde que se conhece e amante de futebol, quando o assunto é FC Porto luta para que no meio do coração lhe sobre a razão.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.