Ao ritmo da oitava vez

    dosaliadosaodragao

    Para o adepto portista, num exercício doloroso, já começa a ser impossível não pensar no que foi desperdiçado ao longo de meses e meses com Paulo Fonseca ao leme. Na verdade, agora que olhamos para este FC Porto, surge até o ensejo de, numa perspectiva jurídica bastante redutora, requerer uma indemnização por lucros cessantes. Tornando apreensível, significaria responsabilizar Paulo Fonseca pelo rendimento que a vítima (FC Porto) deixou de auferir (ganhar) devido à ocorrência de dano (a sua gestão).

    Esta doutrina espalha-se por cada vez mais adeptos portistas e tem uma razão de ser: o FC Porto dos últimos jogos. Mesmo que a equipa não seja ainda brilhante (e isso, com franqueza, seria pedir demais), ela revela-se hoje muito mais organizada, compacta e coesa; mais, Luís Castro devolveu-lhe algum daquele poder de fogo e rasgo tão associados ao Dragão, e ressuscitou alguns jogadores, que surgem hoje muito mais confortáveis nos tapetes relvados das mais diversas competições.

    Todas estas pequenas conclusões são (também) fruto do confronto diante do Benfica, mas muito para além disso… Com uma mensagem forte e impositiva, para dentro e para fora, Luís Castro arrumou a casa e cerrou fileiras. Devolveu o conjunto azul-e-branco à sua matriz histórica (um 4-3-3 com um único pivot defensivo) e, com isso, devolveu também alguns jogadores às suas posições originárias, com tarefas perfeitamente definidas e inteligíveis para os mesmos. À cabeça, Fernando e Defour – o primeiro voltou ser dono e senhor do espaço entre a defesa e o meio-campo, com à-vontade para soltar os seus tentáculos e dar equilibro à equipa; o segundo foi o maior beneficiado com a mudança no comando técnico, captando aquilo que Luís Castro queria de si, qual dínamo, principalmente quando a equipa não tem bola e necessita de um elemento que pressione em todo o terreno.

    Depois – estendendo a análise até ao jogo de ontem – percebemos que Fabiano nada a fica a dever a Helton (ânimo, Capitão!), e que Diego Reyes será um caso sério (como há muito já o digo) assim que ganhe dimensão física e os níveis de maturidade atinjam outros patamares. Mesmo elementos como Herrera (bom jogo na noite de ontem, dando uma profundidade ao meio-campo de que este continua a carecer), Ghilas (muito trapalhão diante do Benfica, mas com uma enorme capacidade de combate e faro de golo) e Quintero (compensa em magia e a qualidade técnica a falta de consistência e intensidade que ainda denota) têm de aproveitar o momento para, conhecendo os maiores palcos e desafios, crescerem e maturarem, tornando-se verdadeiros reforços para o que virá na próxima temporada. E quão injusto seria se não deixasse ainda uma palavra a Mangala (um verdadeiro capitão, enquanto isso signifique alguém que assume, comanda e sofre por uma causa), Quaresma (o melhor tratador da bola do futebol português) e Jackson Martínez (um golo e variados pormenores de classe mundial).

    Uma noite ao ritmo de cha cha cha  Fonte: talentspy.tumblr.com
    Uma noite ao ritmo de cha cha cha
    Fonte: talentspy.tumblr.com

    Entrando no relvado do maior clássico do futebol português, o que fez, realmente, a diferença foi a crença e a vontade. O FC Porto, desafiando-se a si mesmo, entrou com todas as ganas e encostou, desde cedo e por muito tempo, o Benfica às cordas. Marcou, desperdiçou, dominou e, quando tal não foi possível, controlou as operações, impondo uma derrota por 1-0 que, fossem outros os níveis de eficácia (e também de sorte), poderia ter chegado a outros números. Em suma, bateu o Benfica de Jorge Jesus pela oitava vez – e isto é um facto.

    Não deixa de merecer alguma reflexão, creio eu, o facto de Jesus ter modificado 5/6 peças na sua estrutura-base para vir jogar… ao Dragão – ainda que, somando os minutos de todos os 28 jogadores utilizados no Clássico, os atletas do Benfica apresentem muito mais tempo de jogo na equipa ‘A’ do que os seus adversários (mais um facto). No entanto, as tais alterações promovidas por Jesus reflectem o pensamento actual do Benfica: o campeonato não é uma prioridade, é mesmo uma obsessão, e vencê-lo tornará, desde logo, a temporada em vitoriosa, independentemente do que aconteça em todas as outras competições em que está envolvido. Não deixa de ser um status quo interessante e que reflecte, de certa forma, os níveis de ambição que a Luz emana face ao “melhor plantel dos últimos 30 anos”.

    É impossível não traçar um paralelo com a fantástica época do FC Porto de André Villas-Boas ao comando. Fantástica, porque repleta de vitórias (esmagadoras também) e de conquistas. Quando a poucos dias da 18ª jornada da Liga, e com 8 pontos de vantagem sobre o 2º classificado, o FC Porto recebeu o Benfica para, tal como agora, disputar a 1ª mão da meia-final da Taça de Portugal, Villas-Boas não mudou meia equipa. Apostou nos melhores e até correu mal – Coentrão e Javi estabeleceram o 0-2 que o FC Porto haveria de reverter na 2ª mão. Mas a mensagem era clara: o campeonato estava encaminhado, a Liga Europa também era um objectivo mas a Taça era para ganhar! Mais do que rotação, naquele plantel soube fazer-se rotatividade e uma plena gestão de expectativas. Com os resultados (fantásticos) que a História perpetuou e perpetuará.

    O Benfica, com mérito, tem o título na mão – 7 pontos sobre o Sporting (que são 8) e 12 sobre o FC Porto são números ‘irrecuperáveis’ na meia-dúzia de jornadas que faltam para o término do campeonato. Por isso, não deixa de ser estranho que o treinador da equipa encarnada tenha decidido correr o risco que correu no Dragão. Pouco calculado, diria eu; abençoado pela sorte, acrescentaria. De qualquer forma, e a meio da eliminatória, tudo está em aberto. Como todas as competições, à excepção do campeonato. Ainda que Jesus e o Benfica se fechem nele.

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    Filipe Coelho
    Filipe Coelho
    Ao ritmo do Penta e enquanto via Jardel subir entre os centrais, o Filipe desenvolvia o gosto pela escrita. Apaixonou-se pelo Porto e ainda mais pelo jogo. Quando os três se juntam é artigo pela certa.                                                                                                                                                 O Filipe não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.