Especial Clássico: Sporting 1-0 FC Porto

    O Estádio José Alvalade XXI foi o palco do jogo grande da 23ª jornada: Sporting e FC Porto mediram forças e acabaram por ser os da casa, com um tento solitário de Slimani, a alcançar a vitória. Com este resultado, os leões cimentaram a sua posição na tabela classificativa e aumentaram a vantagem para o seu rival do Norte: são já 5 pontos que separam leões (2º) e dragões (3º). João V. Sousa (Sporting) e Francisco Manuel Reis (FC Porto) analisam a partida.

     

    O Sexto Violino

    Sporting Clube de Portugal

    O Sporting entrou melhor, chegando a instalar-se por completo no meio-campo do Porto. No entanto, o domínio não se traduzia em ocasiões de golo (tem sido uma constante nestes últimos jogos) e os dragões rapidamente equilibraram. Foi este o melhor período da equipa visitante no jogo, em que a magia de Quaresma (centro de trivela parta Varela e remate à barra) podia ter escrito uma história diferente. No entanto, o Sporting nunca perdeu o norte e, mesmo com um falhanço incrível de Jackson, conseguiu ir para o intervalo sem golos sofridos.

    Na segunda parte os leões voltaram a entrar mais fortes e pressionantes (os centrais do Porto não se entendiam) e o adversário nunca mais se encontrou. Slimani marcou aos 52’, num golo precedido de fora-de-jogo. A desvantagem de se apoiar um clube que está na vanguarda da luta pelas mudanças no futebol português tem destas coisas: quando aqueles que estão contentes com o futebol da mentira que por cá existe sentem a sua supremacia ameaçada, caem em cima dos Sportinguistas à primeira hipótese. Tem graça que o golo de hoje aconteça quando já estamos afastados da luta pelo título. Dispenso estes rebuçados, e trocava-os de boa vontade pelos foras-de-jogo mal marcados e pelos penáltis por assinalar que este ano já nos prejudicaram. Não sou um especial apreciador do adágio “escrever direito por linhas tortas” mas, pela parte que me toca, apenas digo que ainda faltam “devolver-nos” vários pontos está época – e muitos mais ainda se pensarmos nos últimos 30 anos.

    Quanto ao jogo em si, é um orgulho ver uma equipa com seis jogadores da Academia no onze inicial vencer um clássico contra um conjunto com individualidades e um orçamento superiores. O Sporting não fez uma grande exibição, mas ainda assim foi a melhor em várias semanas. Agora é preciso continuar a crescer, com a mesma humildade e o mesmo realismo, e não deixar fugir o 2º lugar.

    William Carvalho e Slimani foram fundamentais na vitória do Sporting  Fonte: Zero Zero
    William Carvalho e Slimani foram fundamentais na vitória do Sporting
    Fonte: Zero Zero

    Rui Patrício (5) – grande defesa a remate de Varela na primeira parte, mas curiosamente mostrou-se intranquilo na segunda parte e foi mesmo o pior elemento da defesa. E sem razão aparente, dado que o Porto raramente incomodou. O lance que Dier salvou não é admissível, e logo de seguida tem mais uma falha após uma bola parada, que Montero corrigiu

    Cédric (6) – o primeiro frente-a-frente com Quaresma prometia uma noite tenebrosa para o lateral-direito do Sporting. Felizmente, o 7 do Porto foi desaparecendo, sobretudo após o intervalo, e Cédric ganhou confiança. Ainda que não tenha subido muito, conseguiu o mais importante, que foi fechar a ala direita do Sporting

    Dier  (7) – quem não souber a idade deste jogador dificilmente adivinha que tem apenas 20 anos. Sempre bem colocado e mais sereno do que o colega de sector, só não passou despercebido porque quando era chamado a intervir impunha-se com categoria. Mais cedo ou mais tarde será titular do Sporting. Ainda assim, a sua única falha podia ter dado golo, ainda que a responsabilidade maior fosse de Patrício: não conseguiu interceptar o passe de ruptura para Jackson, mas recuperou muito bem e fez um corte milagroso, quando todos já contavam com o golo do empate. Fez esquecer Maurício, e isso não é para qualquer um

    Rojo (7) – mesmo quando joga bem, nunca se sabe o que vai sair dos pés do argentino. Hoje foi um desses dias: nada a dizer quanto ao seu posicionamento e à sua eficácia nos cortes, mas por vezes ainda se nota uma ansiedade excessiva. Nem sempre joga da forma mais simples possível, e tem de se deixar daqueles passes longos “à Polga”

    Jefferson (6) – na primeira parte, o cabeceamento de Jackson que não entra por milagre acontece devido a um desposicionamento seu, mas depois do intervalo acompanhou a melhoria da equipa. Acertou a defender e mostrou-se, como é seu hábito, muito atrevido no ataque, embora os cruzamentos não lhe tenham saído bem

    Adrien (7) – boa exibição, e muito importante sobretudo na primeira parte, quando o jogo podia cair para qualquer dos lados. Está um jogador adulto e ponderado, e desenvolve um trabalho defensivo que nem sempre é visível mas que em muito contribui para equilibrar o meio-campo. Hoje defendeu muitas vezes ao lado de William, deixando André Martins um pouco mais à frente.

    André Martins (5) – aos 3 minutos seguia para a área sem oposição, mas o árbitro inventou uma falta. De resto, sem querer parecer demasiado duro para um jogador que até acabou por ser decisivo, apenas se voltou a fazer notar quando fez a assistência para Slimani. Depois disso pareceu ganhar algum ânimo e foi importante na pressão aos atarantados centrais do Porto, saindo tocado aos 68 minutos. Mas terá de fazer mais.

    Carlos Mané (5) – percebo a aposta de Jardim num elemento que tinha vindo de bons jogos, mas ficou claro que o jovem extremo ainda está muito “verde”. Teve um cabeceamento perigosíssimo aos 50’ e uma grande jogada após o golo, em que só foi parado em falta (Abdoulaye podia ter sido expulso). De resto, não desequilibrou e definiu mal da única vez que tentou servir Slimani, ainda na primeira parte.

    Diego Capel (6) – a raça e a vontade de sempre, embora não tenha estado inspirado e os cruzamentos para Slimani também não tenham aparecido. É normalmente criticado por se agarrar muito à bola, mas hoje teve bastante critério e soltou-a sempre que se justificou.

    Slimani (7) – jogar com Slimani implica cruzamentos para a área, o que quase nunca aconteceu. Na única oportunidade que teve, o argelino marcou. O que é que se lhe pode pedir mais? Não tem os pés de Montero mas está numa forma fantástica, e o Sporting bem pode agradecer-lhe.

    Carrillo (-) – demorou a aparecer mas, quando o fez, desempenhou o papel que lhe era pedido: com o jogo partido e o Porto a tentar atacar, levou a bola controlada para bem longe. Também ajudou na defesa.

    Montero (-) – podia ter voltado aos golos, mas o remate saiu à figura. De resto, é visível que não está particularmente confiante, ainda que seja um elemento imprevisível sempre que a bola lhe chega aos pés.

    Wilson Eduardo (-) – pouco mais de 5 minutos para ajudar a fechar e para poder saborear enquanto interveniente directo esta vitória sobre o seu antigo clube.

    FIGURA: William Carvalho (7) – mais um jogo em que mostrou que é claramente um jogador que tem qualidade para muito mais do que o campeonato português, mas sinceramente irritou-me em um ou noutro lance em que podia ter jogado mais simples. Parecia estar a querer mostrar-se, o que é compreensível, mas em certos momentos pedia-se mais nervo e objectividade. Ainda assim, e apesar da pressão do meio-campo do Porto, conseguiu soltar-se e lançar o ataque. Quando a bola chega aos seus pés, parece que ninguém neste mundo vai conseguir tirá-la. Teve pormenores deliciosos. Não fez um jogo perfeito, mas não consigo imaginar o que seria o Sporting sem ele. Destaque também para o trabalho fantástico de Leonardo Jardim na organização da equipa. O treinador não deixa nada ao acaso, e o bom trabalho desenvolvido reflecte-se em campo.

    FORA-DE-JOGO: Volume ofensivo do Sporting
    Hoje as coisas correram bem, mas longe vão os tempos em que a equipa goleava. Actualmente os adversários já vão conhecendo melhor os processos do Sporting, e a generalidade dos jogadores também atravessa uma fase menos exuberante. A equipa está curta e não tem soluções no último terço. Os extremos não aparecem, e A. Martins não se afirma como criativo

    João V. Sousa

    Pronúncia do Norte

    Futebol Clube do Porto

    Numa partida bastante intensa e disputada, jogada maioritariamente no meio-campo, o FC Porto acabou por nunca conseguir impor o seu futebol, ao contrário do que havia conseguido fazer no último jogo, contra o Nápoles. A intranquilidade defensiva, a incapacidade para sair a jogar, a dificuldade em assumir o meio-campo, a ausência de uma pressão alta, forte e coordenada, a distância entre os sectores, a falta de apoio ao ponta-de-lança e a desinsipiração das unidades mais desequilibradoras (à excepção de Quaresma) foram os principais defeitos do FC Porto ao longo dos noventa minutos.

    Na primeira parte, o Sporting entrou muito pressionante, impedindo do FC Porto de sair para o jogo com facilidade e obrigando os dragões a cometer demasiados erros imperdoáveis na primeira fase de construção de jogo. De resto, essa sucessão de erros infantis – perdas de bola absurdas, passes errados e hesitações fatais – não foi mal exclusivo da primeira parte. Apesar de tudo, mesmo tendo o Sporting rondado a área por diversas vezes, não foi capaz de criar uma ocasião de golo efectivamente perigosa durante a primeira parte. Ao invés, o FC Porto teve três: o remate de Varela depois do brilhante cruzamento de letra de Quaresma (que show!), o tiro do Harry Potter à trave e o cabeceamento na pequena área de Jackson Martínez. Mesmo sem um fio de jogo muito claro, mesmo perdendo claramente a luta do meio-campo para o Sporting, mesmo tendo a desconcentração reinado em alguns períodos, o FC Porto chegou ao intervalo com mais motivos para reclamar uma vantagem.

    No segundo tempo, a história mudou. O Sporting entrou ainda mais pressionante e o FC Porto foi ainda menos capaz de assumir o jogo. Cinco minutos após o reatar do desafio, Carlos Mané deixou o primeiro aviso a Helton, num cabeceamento à queima-roupa que o capitão azul e branco defendeu com mestria. Instantes depois, o golo surgiu mesmo: William Carvalho lançou André Martins (em posição irregular) sobre a direita e o jovem médio português descobriu Slimani – absolutamente sozinho – na área, que não perdoou. A partir daí, o Sporting começou a recuar ligeiramente as linhas, optando por não pressionar tão em cima, mas o FC Porto jamais demonstrou ter capacidade para crescer para cima dos leões. Entretanto, o FC Porto teve um forte revés: a perda do capitão Hélton, que se lesionou sozinho uns minutos depois do golo, saindo sob uma bonita ovação. A última meia hora foi uma batalha de meio-campo, sem grandes oportunidades de parte a parte (o corte de Dier in extremis depois de Jackson passar por Patrício evitou o golo na melhor ocasião para o Porto e a defesa de Fabiano a remate de Montero evitou o golo na melhor ocasião para o Sporting). No final, Fernando ainda havia de ser expulso.

    Apesar do golo irregular – curioso e irónico, dada a atitude do presidente do Sporting e dos seus adeptos nos últimos tempos -, e embora não tenha sido muito mais perigoso do que o FC Porto, creio que o Sporting chegou justamente à vitória. O FC Porto esteve sempre muito dependente da genialidade de Quaresma e revelou-se menos equipa do que o Sporting. Com 5 pontos de desvantagem, o acesso directo para a Liga dos Campeões parece cada vez mais complicado. Entretanto, no próximo jogo do campeonato não há Danilo, Quaresma, Fernando (suspensos) e Helton (lesionado).

    Durante a primeira parte, Quaresma fez o que quis de Cédric  Fonte: Zero Zero
    Durante a primeira parte, Quaresma fez o que quis de Cédric
    Fonte: Zero Zero

    Helton (8) – fez um excelente jogo até ao momento em que se lesionou (aparentemente) com bastante gravidade. Além da excelente resposta ao cabeceamento de Slimani, poucos minutos antes do golo do Sporting, mostrou a serenidade habitual nas saídas da baliza e a perfeição do seu jogo de pés.

    Alex Sandro (6) – não tendo defendido mal, deixou algumas vezes o seu lado desprotegido; a atacar esteve longe de ser tão perigoso como é habitual – muito raramente chegou ao último terço do campo e prestou pouco auxílio a Quaresma no momento ofensivo.

    Mangala (6) – como tem sido habitual esta época, consegue, no mesmo jogo, juntar lances em que faz sobressair o seu impressionante poder físico e a sua incomum capacidade de antecipação a lances em que revela uma imaturidade e uma insensatez impróprias de um central de topo. Uma coisa é certa: tem raça e carácter e deixou isso bem evidente uma vez mais.

    Abdoulaye (6) – o lance do golo, em que se esquece de Slimani, acaba por manchar uma exibição relativamente conseguida do defesa senegalês. Tal como o seu parceiro no eixo defensivo, teve algumas “paragens cerebrais” – designadamente na altura de sair a jogar -, mas voltou a demonstrar todo o potencial que lhe é reconhecido: força física, jogo aéreo imperial, velocidade e poder de antecipação.

    Fernando (5) – o “Polvo” não consegue jogar mal, mas hoje esteve longe de se destacar. O momento em que sobressaiu foi mesmo o lance – se é que lhe podemos chamar assim – em que se atira para cima de Montero para ver o cartão vermelho. Faltaram aqueles cortes exuberantes que costuma fazer, faltaram aqueles passes bem medidos com que começou a brindar-nos recentemente, faltou a presença de espírito no tal momento da expulsão.

    Defour (6) – fez claramente o seu pior jogo desde o seu “regresso” à equipa. Mesmo imprimindo muita intensidade em todos os momentos defensivos, não foi capaz de se soltar para aparecer com perigo no ataque. Jogando tão preso atrás, esteve longe de brilhar.

    Carlos Eduardo (5) – confirmou a tendência para “desaparecer” nos “jogos grandes”. Tal como Defour, entregou-se ao jogo e não virou a cara à luta, mas esteve sempre alheado do jogo, incapaz de encontrar o espaço que gosta de ter para lançar a equipa com os seus passes precisos ou para progredir com a bola controlada. Viu-se pouco e a equipa, órfã do seu maior conector entre o meio-campo e o ataque, ressentiu-se disso.

    Varela (6) – batalhando muito, como sempre, nunca foi capaz de desequilibrar e era isso que se lhe pedia. Ajudou a compensar as subidas desenfreadas de Danilo, vigiou bem Jefferson, discutiu todas as bolas com o empenho de sempre, mas só fez um remate perigoso (numa bola que lhe chegou numa bandeja) e nunca encontrou inspiração para furar a defesa leonina.

    Jackson Martínez (6) – depois de dois jogos em que parecia determinado a voltar ao seu melhor nível, Jackson voltou a desiludir. Não pela ausência de golos – isso é perdoável -, mas pela displicência em algumas intervenções: perdeu quase todas as bolas nos duelos com os centrais (Rojo esteve imperial!) e falhou vários domínios relativamente simples. Ainda assim, é importante reconhecer que esteve muito sozinho na frente: sem o devido apoio, era difícil fazer mais.

    Quintero (6) – entrou na partida para a agitar, fazendo uso da sua capacidade para descobrir espaço onde ele não existe e dinamizar um meio-campo demasiado frouxo. Infelizmente, um ou dois pormenores revelaram-se insuficientes para cumprir essa missão. O facto de ter andado em zonas muito recuadas do terreno – reflexo da dificuldade gritante do FC Porto em sair a jogar – não beneficiou o seu jogo nem a equipa.

    Fabiano (6) – não foi protagonista, como na última deslocação do FC Porto a Alvalade (no jogo da Taça da Liga), mas cumpriu o seu papel e fez uma boa defesa a remate de Montero.

    Ghilas (-) – entrou muito tarde e, num mísero quarto de hora, não teve oportunidade de revelar a sua utilidade. Combativo como sempre – este argelino é um tanque! -, teve apenas um lance de realce: o pontapé de bicicleta nos minutos finais, que teria dado um golo de antologia se tivesse acabado no fundo das redes.

    FIGURA: Quaresma (8)

    Claramente o melhor jogador do FC Porto esta noite. Fez o que quis de Cedric durante a primeira parte e foi o único a desequilibrar na frente de ataque portista. No segundo tempo, a equipa chegou menos à frente e Quaresma foi mais vigiado. De resto, desde aquele primeiro bailado que culminou num cruzamento de letra para Varela (por que não marcaste, Silvestre?!) ao remate em arco que só parou com um estrondo na barra da baliza de Rui Patrício, mostrou uma série de pormenores de grande categoria. Está finalmente nas suas melhores condições físicas e mentais e isso repercute-se dentro de campo. Paulo Bento não pode ignorar o momento de forma deste Mustang endiabrado.

    FORA-DE-JOGO: Danilo (4)

    Um péssimo jogo de Danilo. Esta temporada tem sido bem mais consistente do que o seu compatriota da banda oposta – Alex Sandro –, mas hoje fez uma das piores exibições da época. Perdeu vários duelos com Capel, foi sempre muitíssimo lento a recuperar a posição depois das suas investidas ao ataque (quantas vezes não ficou uma clareira do lado direito da defesa portista?) e também esteve muito aquém do que pode e sabe fazer no ataque. O cruzamento para a cabeça de Jackson na primeira parte foi o único lance em que se destacou pela positiva.

    Francisco Manuel Reis

     

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