Quando as equipas estão “em alta” a crítica negativa é sempre mais difícil. Porém, nem tudo é perfeito no atual FC Porto e, ofensivamente, a maior desaprovação que pode ser feita ao trabalho desenvolvido por Sérgio Conceição passa pela excessiva dependência criativa que a equipa tem de Brahimi.
No início da época, quando Óliver Torres e Jesús Corona eram presenças assíduas no onze inicial, os desequilíbrios conseguidos pelos azuis e brancos tinham origens diversas: ora Óliver fazia um passe vertical a quebrar linhas, ora Corona decidia no “um para um”, ora Brahimi, em condução, ligava as zonas mais recuadas e mais adiantadas do jogo do FC Porto. Com a “ida a jogo” de futebolistas menos criativos e mais “musculados”, casos de Héctor Herrera e Sérgio Oliveira, os dragões ganharam uma maior solidez defensiva no meio-campo mas perderam significativamente a criatividade no momento ofensivo.
Há nas opções de Sérgio Conceição, claramente, o “trauma” da derrota frente ao Besiktas JK em pleno Estádio do Dragão (quase a fazer lembrar o “trauma” de José Mourinho quando o Real Madrid CF foi goleado por 5-0, em 2010, frente ao FC Barcelona). Porém, num contexto como o da Liga Portuguesa, adversários tão perigosos quanto os turcos não abundam! E é precisamente nesse contexto, frente a adversários que levam os azuis e brancos a ter que resolver situações em espaços curtos, que as dificuldades surgem e as fragilidades são mais evidentes.
Sem Óliver Torres e Jesús Corona na equipa e pese embora seja certo que, por exemplo, o mexicano peca pela inconstância, as dificuldades são mais do que muitas (como se viu, por exemplo, no Estoril). Brahimi, quer baixando em construção quer em zonas de criação, é o único futebolista dos azuis e brancos que, pelas suas caraterísticas, consegue desequilibrar as defesas adversárias. Quando este se encontra mais marcado, em dias de menor inspiração ou, simplesmente, ausente da equipa, a tendência passa por uma excessiva procura do jogo aéreo dos avançados (analisem-se [quase todos] os jogos nos quais o FC Porto perdeu pontos).
Em contextos como o da Liga Portuguesa, nos quais o adversário raramente tem qualidade para conseguir “ferir” os dragões, não se compreende a opção por tanto músculo no meio-campo quando aquilo que a equipa necessita é de criatividade para ultrapassar os “autocarros” montados pelos opositores. Assim, nesse tipo de jogos (que são a maioria na Liga Portuguesa!), e pese embora o trabalho de posicionamentos desenvolvido por Sérgio Conceição seja de grande qualidade, é essencial que haja uma maior aposta em futebolistas que permitam a criação de desequilíbrios no momento ofensivo. Caso contrário, e contra aquele que é o desejo de todos os portistas, mais dissabores poderão surgir no futuro em jogos com (aparente) baixo grau de dificuldade.
Foto de Capa: Facebook de Yacine Brahimi
artigo revisto por: Ana Ferreira