Cumpriram-se esta semana exatamente trinta anos desde a primeira grande conquista europeia do FC Porto: 2-1 diante do Bayern Munchen, em Viena, Áustria.
Foi ali que tudo começou, nesse mítico dia 27 de maio de 1987, no temível Prater, repleto de bávaros prontos a conquistarem mais uma Taça dos Campeões Europeus. Privado do seu matador Fernando Gomes, o emblema azul e branco entrou em campo com um onze com oito portugueses: Mlynarczyk, João Pinto, Celso, Eduardo Luís, Augusto Inácio, André, Jaime Magalhães, António Sousa, Quim, Futre e Madjer.
João Figueiredo, jornalista do Mais Futebol, retrata na perfeição as palavras que sempre faltam para descrever momentos tão belos como este:
“A história do FC Porto tem mais de um século, mas a história do FC Porto moderno tem data específica. A 27 de maio de 1987 o azul ficou mais vivo que nunca e a Europa conheceu, de vez, a chama do dragão. Completam-se (…) 30 anos da primeira conquista europeia do FC Porto, numa altura em que, em Portugal, ser campeão europeu oscilava entre a utopia e a memória a preto e branco do Benfica de Eusébio e companhia. O Estádio do Prater, em Viena, ficou para a história do FC Porto, do futebol português e europeu. Nasceu o calcanhar de Madjer, o mundo descobriu o génio de Paulo Futre e Juary tornou-se o primeiro brasileiro a marcar numa final da Taça dos Campeões Europeus.
Heróis conscientes, mas pouco dados a nostalgias. Apenas em conversas de amigos. «Felizmente, estamos cá para recordar. Estamos todos vivos, menos um, o nosso amigo Zé Beto», recorda Jaime Magalhães, referindo-se ao guarda-redes portista, suplente de Mlynarczyk em Viena, que faleceu em 1990, a poucos dias de fazer 30 anos, vítima de um acidente de viação.
Dura realidade. O choque amargo que, ainda assim, dá o sabor certo à noite do Prater. Foi real e não sonho. Ou, como remata Frasco, foi «um sonho real».
São os melhores, de facto.” E porque ninguém melhor do que quem lá esteve e assistiu, in loco¸ ao momento único, será melhor para contar o que se viveu: “Fiz a narração do jogo ao lado do Ribeiro Cristóvão e é um dia que nunca me vou esquecer, porque essa foi a minha estreia internacional. E logo num jogo daquela dimensão. Foi deslumbrante para mim e acabou por ser o momento mais marcante da minha carreira.
(…) o Porto não era uma equipa da alta-roda europeia e o Bayern era um colosso. Ainda por cima o Prater estava lotado com adeptos alemães. Ao intervalo, o Artur Jorge fez uma lavagem ao cérebro dos jogadores e o Porto surge transfigurado, começa a acreditar que era possível virar o jogo. E depois houve aqueles momentos mágicos, que todos os portugueses se lembram: o golo de calcanhar do Madjer (77 minutos) e o do Juary (79), que sentenciou a partida. Aquilo foi uma autêntica loucura. Era um clima mais intimista, havia uma outra relação entre as pessoas, havia menos concorrência. Lembro-me que éramos todos das mesmas cores: azul-e-branco. Depois da vitória, as pessoas choraram, gritaram… foi indescritível.” Miguel Prates
Foto de Capa: Sapo Desporto