Foi no dia 7 de novembro de 2010, em pleno Estádio do Dragão. O FC Porto, treinado por André Villas-Boas, comandava a Liga Portuguesa com sete pontos de vantagem sobre o SL Benfica mas, do lado encarnado, morava também uma super-equipa treinada por Jorge Jesus. O FC Porto entrou em campo estruturado num 4-3-3, com Hélton na baliza, Sapunaru, Maicon, Rolando e Álvaro Pereira na defesa, Guarín, João Moutinho e Belluschi no meio-campo, e Silvestre Varela, Hulk e Falcão na frente de ataque. Do lado do SL Benfica o dia foi de “invenções” para Jorge Jesus que, dispondo a equipa num 4-3-3, optou por colocar Roberto na baliza, Maxi Pereira, Sidnei, Luisão e David Luiz na defesa, Javi García, Carlos Martins e Pablo Aimar no meio-campo, e Fábio Coentrão, Salvio e Alan Kardec na frente de ataque.
Apito na boca de Pedro Proença, 49817 espetadores no Estádio do Dragão, e a bola começou a rolar. Não foram precisos mais de 30 minutos de jogo para que o inesperado acontecesse: o FC Porto vencia já por 3-0! Logo aos 12 minutos se percebeu o quão errado estava Jorge Jesus quando decidiu colocar David Luiz a jogar a defesa esquerdo. A ideia era seguramente a de travar Hulk, mas o que sucedeu foi precisamente o oposto: o “Incrível” adiantou a bola, passou “de mota” por um David Luiz descomandado e apático, e serviu Varela para este, sozinho no centro da área, atirar a contar. 1-0 no marcador. Aos 25 minutos, novamente David Luiz a ser colocado fora da jogada, desta feita pela técnica de Belluschi; este cruzou para Falcão que, com um sensacional toque de calcanhar, colocou novamente o Estádio do Dragão em festa. 2-0 para os azuis e brancos. Aos 29 minutos Belluschi fez mais uma vez uso da sua técnica para ultrapassar Sidnei e servir um repentino Falcão; o colombiano rematou colocado e sem hipóteses para Roberto. 3-0 no marcador.
Intervalo no Estádio do Dragão e a surpresa era já por demais evidente. O que também era evidente é que Fábio Coentrão a jogar a extremo era um jogador banal (já quase todos o tinham percebido há alguns anos!) e que nessa noite David Luiz quase parecia um futebolista da Segunda Liga, tal a forma displicente como abordou os lances que deram origem aos dois primeiros golos. Na segunda parte o FC Porto abrandou o ritmo, mas o festival Belluschi-Hulk-Falcão não tinha ainda terminado. Aos 80 minutos Fábio Coentrão não teve forma de travar Hulk sem ser com recurso à falta. De penálti, o brasileiro atirou forte e colocado para o 4-0. Já perto do final do jogo, aos 90 minutos, Hulk apontou um golo que era também a sua imagem de marca: pegou na bola a partir da direita, fletiu para o meio, e rematou forte e rasteiro para mais um grande golo (com algumas culpas potencialmente imputáveis a Roberto). 5-0 para os azuis e brancos, apito final na partida e, no Estádio do Dragão, restava uma marcada sensação de humilhação.
Num encontro em que Jorge Jesus e a forma temerosa como abordou o jogo levaram ao seu próprio apocalipse, o FC Porto de André Villas-Boas tornava cada vez mais claro que se tratava de uma equipa desenhada a pensar em grandes feitos. Se de um lado o treinador que orgulhosamente afirmava que a sua equipa praticava o melhor futebol da Europa mudou radicalmente a estrutura da equipa a pensar unicamente em travar um jogador (Hulk), colocando David Luiz a defesa esquerdo, Fábio Coentrão a extremo esquerdo, e relegando Saviola para o banco de suplentes, do outro lado André Villas-Boas foi fiel à sua estrutura, sistema e modelo de jogo e, desse modo, acabou por vencer tranquilamente.
Naquela noite, no Estádio do Dragão, o então campeão nacional foi uma caricatura de si mesmo e, a 20 minutos do final, ainda teria tempo de ver o “capitão” Luisão a “abandonar o barco”. O brasileiro, já totalmente desnorteado, foi expulso por tentativa de agressão. Com a vitória alcançada o FC Porto cavaria um fosso de 10 pontos de vantagem relativamente ao SL Benfica e tornava cada vez mais evidente que iria terminar a época com o troféu de campeão nacional de futebol nas mãos. Seguramente, nenhum portista jamais esquecerá aquela noite de outono!
Foto de Capa: Mística do Dragão
artigo revisto por: Ana Ferreira