Quando a força se sobrepõe à imaginação

    E, quase sem se dar por isso, já estamos à porta da terceira jornada do campeonato. O sorteio da Liga dos Campeões já lá vai (resultou na construção de um panorama minimamente favorável para o FC Porto) e o plantel às ordens de Julen Lopetegui está concentrado a cem por cento no jogo com o Estoril. Este avançar repentino do tempo significa também que o fecho do mercado está a aproximar-se e, no reino do Dragão, há situações urgentes a rever neste aspeto em particular.

    Já falei, na semana passada, da questão do lateral-esquerdo. Aquela que, para mim, surge agora como aquela que deveria ser a situação mais premente para a estrutura portista é a do reforço do meio-campo. Não me entendam mal: há muitas e boas soluções para o miolo azul e branco, mas falta uma peça-chave. Falta um elemento “de último passe”, que assuma a batuta do jogo portista e que seja capaz de desequilibrar e dar um toque de magia ao futebol azul e branco quando determinados jogos se revelarem fora do alcance do conhecimento tático e da prática do modelo de jogo idealizado pelo treinador.

    Analisando o meio campo titular do FC Porto atual, destacamos Danilo Pereira como o elemento mais recuado, com Imbula e Herrera mais adiantados no terreno. Este é um tipo de meio campo cada vez mais raro no futebol atual. Um médio mais posicional, apoiado (na transição defensiva) por dois box-to-box que não se inibem de pisar áreas mais adiantadas do terreno e até surgir em zona de finalização; aliás, esta tem sido a ideia de Lopetegui: contra o Vitória de Guimarães não foram raras as vezes em que Imbula se aproximou de Aboubakar e tentou o remate, sendo que, contra o Marítimo, foi Herrera a assumir mais frequentemente este papel.

    No entanto, a eficácia desta ideia não tem atingido o nível desejado pelos portistas. Numa primeira instância, porque Herrera e Imbula não estão na sua melhor forma e, em segundo lugar, mas não menos relevante, porque nenhum dos jogadores tem o perfil ideal para este papel e para o modelo de jogo do Porto. A equipa acaba por se desequilibrar defensivamente e é Danilo que fica obrigado a estender o seu raio de ação para recuperar a bola antes de esta entrar na “zona crítica”. É um miolo construído à base da força e que, em condições normais, funciona em alta rotação, sendo difícil para qualquer adversário ganhar, física e taticamente, o centro do campo ao FC Porto.

    Olhando para aquilo que era o meio campo dos dragões na época passada, é fácil identificar as diferenças. No lugar de Danilo, surgia Casemiro. Ainda que com estilos diferentes, ambos desempenham bem o papel de médio mais posicional, na primeira linha à frente do quarteto defensivo. Herrera continua a ser o “número 8” mas agora alterna as suas funções com Imbua, como foi descrito acima. Em vez do francês, estava Óliver, um criativo de gema mas que não descurava a pressão sobre o adversário, aquando da perda de bola. E neste último ponto reside a diferença, que mexe com todo o futebol da turma de Lopetegui.

    Óliver encaixa como uma luva na ideia de jogo de Simeone e o regresso ao Porto será impossível Fonte: Página do Facebook de Óliver Torres
    Óliver encaixa como uma luva na ideia de jogo de Simeone e o regresso ao Porto será impossível
    Fonte: Página do Facebook de Óliver Torres

    É também por pensar nas caraterísticas de Óliver (que encaixam na perfeição no sistema de Diego Simeone, no Atlético) que olho com algum ceticismo para a opinião daqueles que defendem a contratação de Corona e consequente desvio de Brahimi para o centro do terreno. Acolheria com todo o grado o extremo mexicano no plantel do FC Porto, mas sem que isso implicasse a transição do fantasista argelino para o meio. Se Danilo e Imbula seriam “escudeiros” altamente fiáveis, acabar-se-ia por perder a capacidade de pressão alta na primeira zona de construção adversária. Brahimi não deixa de ser um jogador permissivo a nível defensivo.

    O regresso de Óliver seria ouro sobre azul, mas, tendo em conta que foi titular na primeira jornada da Liga espanhola e tem deixado o seu atual treinador encantado, essa é uma hipótese gorada. O modelo de jogador que o Porto deve procurar é alguém que tenha lucidez, visão de jogo e aquela centelha de criatividade capaz de resolver jogos; e que ao mesmo tempo seja capaz de temporizar ao segundo a “mudança de chip”, de maneira a tornar eficiente a pressão em zona alta e a recuperação rápida. Aceitam-se sugestões.

    Foto de capa: Facebook do FC Porto

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    Francisco Sebe
    Francisco Sebehttp://www.bolanarede.pt
    "Acordou" para o desporto-rei quando viu o FC Porto golear a Lazio, no dilúvio das Antas. Análises táticas e desportivismo são com ele, mas o amor pelo azul e branco minimiza tudo o resto.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.