Seguiremos adelante?

    dosaliadosaodragao

    Seguiremos adelante
    Como junto a tí seguimos
    Y como saludo te decimos
    Hasta Siempre Comandante

    A letra original da música em questão serviu de homenagem a Che Guevara, líder político que comandou a Revolução cubana. Porém, adaptando – como alguém já o fez –, a letra cai que nem uma luva quando se trata de agradecer a Lucho González. Sim, El Comandante partiu do FC Porto rumo ao Qatar e aos petrodólares que por aí abundam. No frenesim dos dias e das competições em que o FC Porto está envolvido, não houve sequer tempo para uma verdadeira despedida e para um cair na realidade.

    Luís Gonzalez foi, primeiro, 8; depois, 3. Mas foi muito mais do que isso: na primeira passagem pela cidade invicta, dentro das quatro linhas, foi o garante de classe e racionalidade, de beleza e improviso, de passes açucarados (olá, Lisandro) e golos de categoria. Passeou talento, coleccionou fãs e, pulso a pulso, ganhou estatuto de ícone e chegou a capitão de equipa. Na segunda, mais velho e com menos disponibilidade física, resgatando o estatuto e legado que havia deixado no Dragão, foi (talvez) mais fundamental no balneário do que em campo. Longe de ser bem gerido fisicamente por Vítor Pereira, foi-o ainda menos por Paulo Fonseca. Nesta última fase, mais vítima do que réu, ainda e sempre encarnando em pleno o espírito do Dragão, foi sempre dos que deram a cara pela equipa, surgindo nos momentos mais complicados e, até ao fim, lutou. Mesmo quando um treinador o pôs em campo mas fora de jogo. Lucho, por tudo, merecia ter saído com outra pompa e circunstância – afinal, qual foi o estrangeiro que, em seis épocas completas de azul e branco, sempre se sagrou campeão? Um luxo apenas de Lucho. Resta-me dizer: Gracías, El Comandante. Y no olvides nunca: esta es tu casa!

    Gracías! Hasta Siempre Comandante!  Fonte: lancenet.com.br
    Gracías! Hasta Siempre Comandante!
    Fonte: lancenet.com.br

    Da novela-problema em que Paulo Fonseca, desde o início, transformou o meio-campo azul e branco, há um novo capítulo. Fernando, o ‘Polvo’. Aqui são necessários dois pontos de ordem: primeiramente, este caso é fruto de mais uma actuação, se não desastrada, pelo menos questionável, da SAD portista (tal como outras, já aqui abordadas). Chega a ser incrível como a Estrutura azul e branca não se precaviu em relação ao médio luso-brasileiro: por um lado, deixou esta situação arrastar-se até ao presente momento, em que estamos a quatro meses do final do seu contrato e não há sinal de renovação à vista; por outro, se havia indícios de que Fernando não estava interessado em continuar no FC Porto, havia então que tentar garantir o melhor encaixe financeiro possível (e Fernando sempre teve interessados em diversos pontos).

    A segunda questão prende-se com o (alegado) comportamento do ‘Polvo’. Se, de facto, o ‘25’ do FC Porto rompeu o acordo verbal que tinha com Pinto da Costa, assinando, desde já, com o Manchester City, é lamentável e desrespeitoso para quem lhe abriu as portas da Europa e lhe deu a oportunidade de jogar ao mais alto nível. Perante este cenário, das duas, uma: ou Fernando renova com o FC Porto (ainda que com a possibilidade de sair já no próximo Verão como supostamente estava acordado) e recupera o seu estatuto de pedra basilar da equipa, ou o FC Porto se mantém irredutível e faz do ‘Polvo’ um exemplo para futuro, afastando-o – ainda que com grave prejuízo desportivo. Para o adepto portista, está bom de ver qual o desenlace preferível; de qualquer modo, a bola parece-me estar mais do lado de Fernando. Só ele saberá se prefere correr o risco de ficar encostado até ao final da temporada, hipotecando qualquer hipótese de estar presente no Mundial do Brasil, tão-só para garantir que tem um contrato milionário a partir do início da próxima época.

    É nesta conjuntura que o meio-campo da equipa portista – que em nenhum momento desta época se mostrou tão sólido e funcional quanto era desejável – (sobre)vive. Depois da derrota na Madeira e da vitória sofrida e sem cor diante do Estoril, ficou claro que quem defendia que o problema começava a ser Lucho e a sua falta de intensidade estava errado. É certo que o argentino já não seria mais a solução de todos os problemas, mas estava ainda longe de ser o problema central. Neste capítulo, para alguém que se habituou a ver Maniche, Raúl Meireles, João Moutinho (para além do já citado Lucho) encher o campo e servir de elo de ligação entre a defesa e o ataque, é confrangedor assistir a que as soluções do hoje sejam Defour, Josué e Herrera (e mais à frente Carlos Eduardo e Quintero) – o que ficará ainda mais acentuado se o afastamento de Fernando se concretizar.

    Qualquer equipa que queira ser mais do que a soma das suas individualidades necessita de um meio-campo de qualidade, a verdadeira ‘sala das máquinas’ de um colectivo forte e que se imponha. E, por isso, óbvio se torna que, com a saída de Lucho e o putativo afastamento do ‘Polvo’, as soluções surgem como insuficientes. Mais, se dentro do campo a instabilidade colectiva é notória, o que dizer em termos de balneário com o abandono desta espinha dorsal (deste trio de peso, bem ou mal, só Helton se mantém intocável)? O que dizer de um clube que deixa sair o seu capitão, que não sabe o que vai suceder com o pêndulo da equipa e que não se reforça devidamente? Na realidade, numa altura em que em o FC Porto necessitava de um incremento de qualidade, apenas chegou Quaresma (e resgatou-se Abdoulaye), deixou-se sair Lucho e Otamendi (apesar da má época, é um central de qualidade, como já o demonstrou em anos passados) e não se resolveu Fernando. Em suma, perdeu-se a oportunidade de, através do mercado de inverno, arrumar a casa e recarregar baterias.

    O Estoril foi apenas mais uma das equipas a assustar o Dragão  Fonte: Maisfutebol
    O Estoril foi apenas mais uma das equipas a assustar o Dragão
    Fonte: Maisfutebol

    Mas mais do que apontar nomes (e até sectores) em claro sub-rendimento, o que impressiona neste FC Porto – principalmente após os jogos na Madeira e no Dragão diante do Estoril – é a falta de alegria e de confiança da equipa. Tentando omitir os princípios de jogo demasiado ‘pacences’ deste FC Porto (a equipa de Fonseca não impõe respeito ao adversário, seja pela pouca ou nenhuma pressão a que sujeita o opositor no momento da perda de bola, seja pela pouca agressividade atacante com poucos homens a chegar à frente e ameaçar o adversário, seja pela pouca capacidade de posse e gestão da bola, seja até pelo recuo de todos os jogadores aquando das bolas paradas defensivas, algo que nunca vira a uma equipa do FC Porto!), é impressivo que os onze que têm entrado em campo nas últimas semanas se materializem num conjunto(?) tão apático, amorfo e confuso quanto pouco solidário e dinâmico, aparentemente nada motivado e que demonstra ínfima vontade de jogar e honrar o símbolo que representa. Enfim, uma equipa que aparenta fazer tudo em esforço e de forma atabalhoada – numa palavra, um conjunto de homens que não tem sabido ser Porto!

    A forma mais imediata de se perceber se um determinado jogador está tranquilo, confiante e seguro do que está a fazer é através do seu rosto. Correndo as faces daqueles que envergam o equipamento do tri-campeão nacional, vemos homens que, não se sentindo, de todo, confortáveis, alegres e confiantes nas suas acções (muitas vezes bloqueados), não conseguem explanar em campo aquilo que sabemos que valem. Por um motivo ou por outro, a mensagem de Paulo Fonseca não tem passado – é esta a conclusão a que chego. E creio que apenas os pequenos milagres que vão ocorrendo (designadamente os recentes nos jogos da Taça, com Marítimo e Estoril), consequência de muito mais coração do que cabeça, em plena anarquia táctica, continuam a segurar (por um fio) uma equipa que – isto, sim, um verdadeiro milagre! – ainda está em todas as competições.

    A cada jogo, a cada rescaldo, a cada dia, discutem-se opções e jogadores. Incluindo-me neste lote, cada vez mais me interrogo se o sub-rendimento de valorosos atletas (Danilo, Otamendi, Alex Sandro, Defour, Herrera, Quintero, Jackson, …) é, afinal, causa ou consequência de uma equipa que, vendo despedir-se o seu líder e comandante dentro de campo e cuja mensagem desde o comando técnico não passa, se apresenta sob brasas, pouco coesa e que não rende. Semana após semana.

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