Cerca de uma semana e meia após a rescisão do contrato que ligava Nuno Espírito Santo ao FC Porto a indefinição face ao futuro mantém-se no reino do dragão. Esta não é uma situação nova, mas é claramente mais uma mancha sobre a gestão desportiva do clube que, de forma algo incompreensível, começa a perder terreno na preparação de uma época que se avizinha muito importante para os adeptos e para o futuro da própria Direção do FC Porto.
Esta situação denota, desde logo, as dificuldades financeiras pelas quais o clube está a passar. São já vários anos sem conquistar títulos e investindo em futebolistas que não se têm valorizado, representando estes despesas para o FC Porto sem que haja receitas significativas que as permitam colmatar. É evidente que a situação é delicada, é evidente que o futuro não parece tão risonho quanto qualquer adepto desejaria, mas é também evidente que, reunindo-se uma conjugação equilibrada ao nível da qualidade do treinador e dos futebolistas, o regresso aos títulos parece possível.
Se relativamente aos jogadores as incógnitas são muitas, relativamente ao treinador o véu tem vindo a cair a pouco e pouco e, atualmente, parecem restar três nomes em cima da mesa: Sérgio Conceição (a hipótese mais forte), Paulo Sousa (aparentemente também alvo do Crystal Palace FC e do B Borussia 1909 e. V. Dortmund) e Pedro Martins (que nos últimos dias tem vindo a ser fortemente associado ao Olimpiacos FC). Assim sendo, importa perceber o que cada um destes treinadores pode trazer ao FC Porto e, acima de tudo, o que os distingue na sua forma de pensar o jogo.
Começando por Sérgio Conceição, o treinador natural de Coimbra é, como se sabe, portista de alma e coração. A sua personalidade não deixa ninguém indiferente e, se por um lado transmite garra e determinação para dentro do balneário, por outro lado também conduz a variados desentendimentos com jornalistas, jogadores, e até mesmo com membros da Direção. Em Portugal, no SC Braga, Sérgio Conceição foi despedido por justa causa por “falta de lealdade e respeito” para com o clube, a Direção, e o Presidente António Salvador. Pese embora as dificuldades de relacionamento e algumas limitações táticas que a equipa foi evidenciando, sobretudo na organização ofensiva e na transição defensiva, ao nível dos resultados Sérgio Conceição recolocou o SC Braga na Liga Europa após uma desastrosa época 2013/14. No Vitória SC Conceição herdou um plantel muito desequilibrado e uma equipa taticamente devastada pelo seu antecessor, Armando Evangelista. Ainda assim, conseguiu retirar a equipa da posição delicada em que se encontrava (com zero pontos) e deixa-la no 10º lugar da tabela classificativa. Para tal, foram sempre evidentes as qualidades da equipa nos momentos de transição ofensiva e defensiva. Finalmente, em França, e num FC Nantes francamente pobre ao nível da qualidade individual, Sérgio Conceição conseguiu conduzir a equipa ao 7º lugar da tabela classificativa. Apesar de as individualidades serem, neste caso, dificultadoras do trabalho do treinador, o FC Nantes sempre apresentou muita qualidade em organização defensiva (a fazer lembrar alguns princípios do SL Benfica de Rui Vitória) e em transição ofensiva. Em organização ofensiva, apesar de nem sempre ser possível, a ideia era clara: futebol de posse, com bola no chão.