Na passada 6ª feira o FC Porto deu por encerrada a sua participação na Taça de Portugal Placard 2016/2017 após ser derrotado pelo GD Chaves por 3-2 na sequência da marcação de grandes penalidades. Uma vez mais o FC Porto apresentou-se como sendo uma equipa de duas faces, com diferenças significativas entre a forma como aborda os jogos no Estádio de Dragão e na condição de visitante.
Ponto prévio: era sabido que o GD Chaves poderia ser um adversário perigoso para o FC Porto, tendo em conta que esta é uma das equipas que em Portugal, atualmente, melhor interpreta os momentos defensivos do jogo. A jogar contra os flavienses os adversários têm criados menos do que é habitual, sendo que o jogo contra o SL Benfica é um excelente exemplo deste facto. As caraterísticas apresentadas pelo GD Chaves são precisamente aquelas que podem surpreender as equipas mais fortes: uma estrutura defensiva forte e, ofensivamente, a capacidade de saber esperar pelo momento certo (em transição ofensiva ou através de lances de bola parada) para “colocar em sentido” a equipa adversária.
Parecia claro que, para fazer face a este GD Chaves, o FC Porto precisaria de entrar em campo na máxima força (no que à utilização dos seus melhores futebolistas diz respeito). Já Nuno Espírito Santo pensou de forma diferente, tendo deixado de fora Óliver Torres e Jesús Corona, precisamente dois dos jogadores mais capazes de desbloquear a organização defensiva das equipas adversárias.
A verdade é que o FC Porto raramente foi capaz de encontrar espaços para penetrar na organização defensiva do GD Chaves e, dessa forma, o jogo foi-se desenrolando até chegar a uma fase em que o coração começava a ter mais influência do que o cérebro no futebol praticado dentro das quatro linhas. E é precisamente nessa fase, em que seria importante que o jogo do FC Porto fosse mais pensado, mais capaz de apresentar a paciência necessária para encontrar espaços na já fisicamente desgastada defesa do GD Chaves, que Nuno Espírito Santo opta por lançar em campo Laurent Depoitre.
O desengonçado futebolista belga funciona, para a dinâmica coletiva do FC Porto, como um chocolate envenenado, na medida em que atrai a atenção de toda a equipa mas acaba por ser inconsequente. A sua entrada em campo levou a que começasse a haver um menor cuidado e elaboração na construção, tendo sido esta trocada pelo (preguiçoso) jogo direto. Alex Telles, Marcano, Felipe e Maxi Pereira, não tendo a possibilidade de procurar o ausente Óliver Torres, começaram a optar pelo chuto para o ar na busca de Depoitre. A partir dos 78 minutos de jogo, quando o FC Porto mais necessitava de procurar o golo da vitória, aquilo a que se assistiu foi ao desperdício de talento ofensivo ao não se entregar a bola aos médios para que estes pudessem iniciar o processo de criação.