Carta aberta a Daniel Podence

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    Parece repetitivo, eu sei, mas também no teu exemplo já há algum tempo que andávamos a ouvir o compromisso de promessa do teu talento. Enquanto se confirmava a afirmação de um outro jovem, ia-se ouvindo que um dos próximos era o Podence. Como se não bastasse o jeito, ainda tens nome de craque – vale o que vale, mas fica bem em qualquer camisola. Por infeliz coincidência ou por distracção minha, vi-te jogar pela primeira vez no começo da presente época, em Alvalade, no jogo de apresentação da equipa. Jogaste na segunda parte, lembro-me. Nessa altura já seria certa a tua cedência para a outra equipa. Dizem que faz parte do processo e eu acredito, até porque resultou. Com naturalidade fizeste-te referência desse plantel e durante quatro meses marcaste mais golos do que muitos avançados envolvidos em transacções de mercado. E tudo isto com uma taça pelo meio, ganha a pulso. É obra.

    Depois, todo o paradigma que apresentas. Existem, pelo menos, dois ou três ditados que servem na perfeição ao teu exemplo, já para não falar em todo o índice de paradoxalidade que existe na comparação entre a tua altura e o teu talento. Não digo isto gratuitamente, nem tão pouco pela piada que poderás achar: é apenas porque não é normal alguém assim, parecendo frágil, relativizar dentro de campo todas as teses que se sustentam na lei da força e da física. Não deixa de ser irónico, a propósito, ver-te fazer cruzamentos milimétricos para a cabeça de um jogador que tem mais umas dezenas de centímetros. Que dupla. Chega a roçar o Universo fabulístico, como a história do Golias.

    Fonte: Sporting CP
    Fonte: Sporting CP

    Mas falemos daquilo que importa. No último jogo foste titular, mas quando não o és (não sei se já reparaste) o estádio olha sempre para a zona de aquecimento, querendo perceber se já estás preparado. Tornaste-te num género de armamento de utilidade constante, um alívio para quem gosta de ter jogadores que agitam o jogo. É por tudo aquilo que o teu caso representa que já se garantiu a imortalidade do nosso clube. Não há como não pensar no futuro mais risonho. É isso: quero terminar esta carta a falar nele.

    Se voltaste antes do tempo previsto para a casa que te viu crescer é porque fazias falta mais cedo. Já o confessei antes: magoa-me o consecutivo adiamento do nosso sonho, embora saiba que a concretização está perto, cada vez mais. Se para o próximo ano é que é, então que seja. Que seja também contigo, e que a espelhagem da nossa felicidade, a de jogador e a de adepto, coincida com o resto do teu crescimento, já que vais aprender com a pessoa que melhor te pode ensinar. Esta época antes temos tempo para deixar raízes; sei que me percebes. Daqui a nada vamos começar a ouvir falar de reforços e das promessas da América Latina. Também faz parte.

    Mas eles que se cuidem até perceberem que, para falar contigo, não és tu que tens de estar em bicos de pés.

    Foto de Capa: Sporting CP

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    Ricardo Gonçalves
    Ricardo Gonçalves
    Como uma célebre música diria, "eu tenho dois amores", com o desporto e a comunicação a ocuparem 50/50 do seu coração. Entusiasta confesso daquilo que é a alegria do futebol, promete transmitir-vos através de palavras as emoções que se sentem durante os 90 minutos (e além disso). Escreve sem acordo ortográfico