Contra a promoção da violência só resta o corte de relações

    sexto violino

    O Sporting cortou hoje relações com o Benfica. Depois de ter tomado conhecimento do conteúdo do texto, só posso subscrever por completo a decisão tomada. Destaco as seguintes passagens: “durante o derby de Domingo, no Estádio José Alvalade, as ameaças proferidas na véspera (“amanhã há mais”) [no jogo de futsal na Luz, onde também foi exibida uma faixa com a inscrição “very light 96”, a celebrar o assassínio de um Sportinguista] vieram a concretizar-se com o lançamento indiscriminado por parte dos adeptos do SLB de artefactos pirotécnicos sobre os adeptos do Sporting; No pavilhão encontrava-se a assistir ao jogo o presidente do SLB que visualizou a referida faixa e não tomou qualquer medida na altura, nem o SLB emitiu nenhuma declaração a repudiar veementemente esta alusão a um assassinato”; “Quando se esperaria, pelo mais elementar bom senso, uma declaração de reprovação e demarcação, por parte dos órgãos dirigentes do SLB, vem o seu porta-voz oficial, numa comunicação grave e totalmente irresponsável, qualificar toda esta situação denunciada pelo Sporting de «folclore».

    Nunca gostei de alinhar no discurso que culpa o Benfica enquanto entidade pelo assassinato de Rui Mendes na tristemente célebre final do Jamor em 1996. A violência não é um mal exclusivo do clube X ou Y mas sim um problema com raízes sociais profundas, pelo que evito sempre usar esta argumentação falaciosa. Porém, se é verdade que a divisão entre clube e energúmenos que festejam um assassinato tem de ser feita, também é verdade que o Benfica é o único emblema cujos adeptos alguma vez provocaram uma morte. O clube da Luz é o único em Portugal cuja História está manchada com sangue. Se, como disse, evito generalizar e culpar o Benfica e os benfiquistas por um assassinato cujos responsáveis são unicamente um criminoso e alguns cúmplices, também estranho o comportamento dos dirigentes encarnados. Se eu fosse apoiante do clube em questão, o que mais queria era que os dirigentes se demarcassem por completo de quaisquer actos bárbaros. No entanto, infelizmente isso não acontece.

    Recapitulemos: em 1996, o jogo prosseguiu contra a vontade do Sporting; desde então, que tenha conhecimento, nunca o Benfica adoptou uma postura clara e inequívoca de solidariedade para com a família da vítima; no derby de Sábado no futsal, uma faixa com a inscrição “very light 96” foi exibida pelos No Name Boys (como foi possível a entrada do pano no pavilhão? Sei de um caso de um cachecol apreendido antes de um derby de futebol na Luz apenas porque tinha a inscrição Sporting 7- 1 Lampiões…) sem que ninguém da direcção do Benfica condenasse o sucedido; no dia seguinte, vários adeptos benfiquistas arremessaram tochas para uma bancada cheia de Sportinguistas. Uma vez mais, os responsáveis encarnados remeteram-se ao silêncio.

     

    Estamos a falar da celebração de um assassínio no Sábado e, no Domingo, de momentos de pânico que fizeram lembrar a única morte registada nos estádios portugueses! Ao não reagir aos comportamentos animalescos de adeptos do seu clube – pior, ao reagir, através do repugnante João Gabriel, apenas para classificar uma declaração do Presidente do Sporting como “folclore”a direcção do Benfica passa uma mensagem clara de tolerância para com a violência no desporto. Que muitos dos homens-fortes dessa instituição são trafulhas, ex-presidiários e seres intelectualmente repelentes já não é novidade para ninguém. Que relativizem um assassinato, a sua celebração (praticada nas suas instalações, por adeptos seus) e o ataque cobarde a cidadãos com pirotecnia (do qual resultaram seis feridos) é uma novidade preocupante. Talvez notícias como esta façam algum sentido.

    O futebol já potencia actos irracionais que deixam muitas vezes a nu o que de pior há nos seres humanos. Quando são as altas instâncias de um clube grande a acirrar ainda mais os ânimos, motivando a aprovação acéfala de milhares de seguidores alienados, pouco mais há a fazer a não ser temer pelo futuro do desporto. Apesar de ver vários adeptos benfiquistas mais empenhados em ridicularizar o Sporting ou Bruno de Carvalho do que preocupados com a gravidade deste assunto, acredito que a grande maioria condene estes actos. Mas a verdade é que, dezanove anos depois do trágico jogo do Jamor, o Benfica está envolvido num episódio de relativização e branqueamento da violência. E desta vez os seus dirigentes são cúmplices, o que torna tudo isto ainda mais abjecto e inqualificável.

    Pela minha parte espero por uma severa punição ao Benfica, embora saiba que vou esperar sentado. Perante tamanha falta de respeito da direcção desse clube pelo episódio mais triste da História do futebol português, que ao que tudo indica passará como se nada fosse, resta-me fazer minhas as palavras da excelente coreografia erguida pelas claques do Sporting: “Antes só e honrado… do que mal acompanhado!”.

    P.S.1: quaisquer comparações entre estes comportamentos e o desrespeito por parte de Sportinguistas ao minuto de silêncio após a morte de Eusébio – por muito lamentável que esta atitude também seja, obviamente – revelam uma enorme desonestidade. Primeiro, porque não foi nenhum Sportinguista que matou o Pantera Negra; segundo, porque o que está aqui em causa é a segurança (e a vida, no caso de Rui Mendes) de seres humanos e não um simples acto simbólico. E estou à vontade para falar, uma vez que estive presente no Estoril-Sporting do ano passado e pertenci à larga maioria de Sportinguistas que respeitaram o minuto de silêncio em memória de Eusébio.

    P.S.2: Benfica e Porto colocam os adeptos visitantes o mais longe possível do relvado, de modo a minimizar o impacto sonoro, e enjaulam os adeptos visitantes naquilo a que chamam “caixa de segurança”. Quando é que o Sporting fará o mesmo? Para além dos comportamentos a que já aludi, chegámos ao ponto de jogar em casa e um jogador nosso ser incomodado pela claque adversária na cobrança de um canto. Não sou partidário destas “gaiolas” mas, se os rivais o fazem, não podemos ser nós os anjinhos e os puros. Assim, espero que a tal caixa seja uma realidade já no próximo derby. De preferência bem lá em cima e, se não for pedir muito, fora da bancada central!

    P.S.3: já que estamos com a mão na massa, aproveito para pedir também o fecho do fosso. Não é a primeira vez que alguém cai lá para dentro. Espero que não seja necessário haver um desfecho mais grave para se tomarem medidas…

    P.S. 4: já depois de ter escrito o texto deparei-me com esta notíciaDois pesos e duas medidas? Impressão nossa…!

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    João V. Sousa
    João V. Sousahttp://www.bolanarede.pt
    O João Sousa anseia pelo dia em que os sportinguistas materializem o orgulho que têm no ecletismo do clube numa afluência massiva às modalidades. Porque, segundo ele, elas são uma parte importantíssima da identidade do clube. Deseja ardentemente a construção de um pavilhão e defende a aposta nos futebolistas da casa, enquadrados por 2 ou 3 jogadores de nível internacional que permitam lutar por títulos. Bate-se por um Sporting sério, organizado e vencedor.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.