Da pequenez dos minúsculos; Daquilo que torna os grandes ainda maiores

    diva de alvalade catarina

    Deveria hoje estar aqui, diante de vós, a regozijar-me com a vitória de ontem no batatal-ao-qual-alguém-se-atreveu-a-chamar-de-campo-de-futebol do Arouca. Em boa verdade, não me apeteceu festejar absolutamente nada. Ainda que com os três pontos no bolso – e não mais fizemos do que a nossa obrigação -, se eu tivesse um saco de boxe em casa, ter-lhe-ia certamente dado uso por volta da hora em que o MRS pregava aos peixes – a maioria indigna de outra categorização que não a de meras tainhas -, na sua habitual homilia dominical.

    Muito do que resulta, à vista desarmada, do jogo em Arouca é o paradigma de tudo o que eu detesto – melhor dizendo, abomino – no futebol português. E não é por ter sido apenas chato, como o João Almeida Rosa ontem lhe chamou: é, outrossim, por chegar a ser desprestigiante, medíocre, pequenino e, até, irrisório.

    Em primeiro lugar, aquele sapal no qual se lembraram de colocar meia dúzia de sementes de relva é, tão só, a prova de que as equipazecas como o Arouca não gostam, não sabem e não querem jogar futebol. Pior do que isso, não só não querem jogar como não querem que mais ninguém o faça. E, para que tal propósito se concretize, vale tudo. Aposto com todos e cada um de vós que treinaram naquele terreno a semana inteira. Se preciso fosse, fariam bi-diários e mandavam os juniores e restantes camadas jovens treinarem ali. E ainda mandavam ligar a rega, para a coisa ficar ainda mais composta, como o outro em tempos se lembrou de fazer. Só para matar as poucas sementes de relva que ainda restassem, porque isto do futebol é coisa de homens de barba rija, de preferência toscos e com os pés atados…

    Depois, o horror inenarrável do diminuto tempo útil de jogo, tão tradicional no futebol português. O David Simão não morreu engolido pela lama daquele sapal sabe Deus como, tamanha foi a quantidade de vezes que tentou beneficiar das suas conhecidas propriedades terapêuticas – só até ao segundo tento do Sporting, claro está, porque a partir daí foi todo um fulgor crescente e nunca antes visto naquela alma (estavas a cumprir ordens de quem te paga o ordenado, não é, lampião? Pode ser que para a próxima te saias melhor…). E, como ele, quase todos os outros, saindo goradas as tímidas e, quiçá, pouco honestas, tentativas de Pedro Emanuel, que, como bem se percebeu nas imagens da SportTV, a espaços gritava do banco “Joooogaa”.

    David Simão persegue Carlos Mané  Fonte: Facebook do Sporting
    David Simão persegue Carlos Mané
    Fonte: Facebook do Sporting

    Tenho para mim que este é um problema cultural. De falta de quase tudo, de pequenez de espírito, no geral, mas de falta de hombridade, em particular. No meio de tanta pobreza franciscana, permitam-me que ressalve Roberto. Ao acompanhar o jogo, comentei com o meu avô que aquele ponta-de-lança tinha garra, que se sabia movimentar e segurar a bola, e que não tarda estaria a dar o salto para uma equipa de segunda linha da tabela (e não de quinta ou sexta, como este Arouca). Não esperava, no regresso a casa, ouvi-lo dizer aos microfones da Antena 1 que o Sporting tinha sido melhor, e que não ia falar de um (suposto, eventual e muito questionável) penálti que não vira. Só lhe fica bem. Anotei.

    Noutros tempos, nada longínquos, tenho por certo que o Sporting teria deixado pontos naquele terreno. E tenho dúvidas se não teria mesmo deixado todos os três pontos em jogo. E esta foi a única coisa boa que ontem vi: uma equipa que, sem estar em condições de jogar futebol – naquele cenário, nem com pitons apoiados sobre nuvens isso seria possível -, soube ser equipa. Soube descer do pedestal de quem está habituado a jogar de smoking (meçamos as distâncias e reservemos o fraque para quem é digno dele), calçar as galochas e enfrentar o teatro de guerra. OK, o Jonathan se calhar levou o figurino demasiado a sério. Permitam-me considerar que é apenas irreverência inerente à parca idade, por forma a não ter de lhe chamar estupidez pura e nada gratuita.

    No final de contas, são três pontos que valem o mesmo que todos os outros. Para nós, já de si tão grandes mas com a ambição de sermos (bons) Gigantes, deviam valer um bocadinho mais: afinal, no Domingo joga-se, no Reino do Leão, o Clássico dos Clássicos do futebol Português. E que bem sabe voltar a casa com o altivo sorriso de quem começa, finalmente, a pôr reiteradamente em prática o lema sobre o qual os nossos antecessores edificaram o Reino do Leão!

    Foto de Capa: Facebook do Sporting

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    Catarina Santinha
    Catarina Santinhahttp://www.bolanarede.pt
    Mulher do Norte por natureza, está emigrada no Algarve e deixou o coração em Lisboa, cuidadosamente depositado no seu Cativo em Alvalade. Leoa de coração, jurista por paixão, fanática do fitness por opção, a Catarina sabe que o sangue que corre nas suas veias é verde, e recusa-se a conceber que possa ser doutra cor.                                                                                                                                                 A Catarina não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.