Faça-se justiça a Aurélio Pereira

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    “É preciso jogar sem jogadores da formação do Sporting para ganharmos alguma coisa”. Este tipo de piadas foram ditas e repetidas em Maio, quando Portugal se sagrou campeão europeu de sub-17 com uma maioria de jogadores de Benfica e Porto no onze. Após os três empates na fase de grupos do europeu de França, sempre que um Sportinguista mostrava orgulho pela presença massiva de jogadores do clube na selecção (e às vezes nem era preciso isso), a frase passava a algo como “por estarem lá tantos do Sporting é que não ganhamos a ninguém”. Portugal avançou na competição e o gozo foi desaparecendo, tendo sido substituído por uma muitas vezes mal disfarçada tentativa de mostrar indiferença.

    Mas a verdade é que foram 10 em 23. Dez jogadores formados em Alvalade integraram o lote dos vinte e três melhores jogadores portugueses – entre os quais Cristiano Ronaldo, um dos melhores futebolistas de todos os tempos. Não há volta a dar: a formação do Sporting contribuiu mais para este título do que a de todos os outros – e isto não é arrogância nem desprezo, mas sim felicidade. Todas as fotografias, vídeos e crónicas deste europeu estarão para sempre relacionadas com o clube verde-e-branco, porque o sucesso da formação leonina e da selecção em França estão umbilicalmente ligados.

    Ainda assim, após a conquista do Europeu, os artigos que mais fizeram justiça à Academia do Sporting são estrangeiros. É o caso do britânico Daily Mail, que refere que “Portugal pode agradecer ao Sporting” pelo facto de 10 dos 14 jogadores usados na final terem sido formados no clube, da estação televisiva francesa TF1, que fez uma peça com o título “França-Portugal: o grande vencedor é o Sporting” (quantas vozes acusatórias não se ouviriam se Bruno de Carvalho ou o Facebook leonino ousassem escolher semelhante título?), e ainda do site desportivo espanhol Panenka, que destaca a injustiça de o guardião português não ter sido captado pelas imagens no momento em que Ronaldo ergue a taça, dando à peça o sugestivo título “Ruipatricismo”. Por cá, elogiar a formação leonina é quase tabu. O papel dos jornalistas não deveria ser procurar histórias com valor-notícia? Pois aqui têm uma situação de grande interesse e com potencial para ter eco no estrangeiro, como se viu. Mas, se não fosse Bruno de Carvalho a puxar a brasa à sua sardinha, como compete ao presidente de um clube, este assunto seria ainda menos mencionado. E, claro, por vir de quem vem, é um inaceitável acto de propaganda, de fanatismo, de tentativa de apropriação de um título da selecção, do que calhar.

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    Para a francesa TF1, “o grande vencedor” da final “é o Sporting”. Claro que há exagero. Mas quem duvida que haveria polémica caso fosse o Sporting a dizê-lo?

    As redes sociais do Sporting sugeriram a utilização do meio-campo leonino na selecção, baseando-se num artigo muito bem sustentado no Jornal Sporting acerca das vantagens das rotinas entre futebolistas. Gerou-se o caos. “Ai, que o Sporting está a condicionar o seleccionador!”. Pouco depois, quando Renato Sanches ainda era suplente, A Bola fez uma capa a pressionar para que o médio do Benfica fosse titular. Argumentos? Nenhum, a não ser que Renato e Ronaldo começam pela mesma letra (!). O jornal chamou-lhe “Fórmula RR”. Notável! Mas os mesmos que criticaram o Sporting por promover os seus jogadores, como qualquer clube nacional ou estrangeiro faz, aplaudiram a iniciativa. De igual modo, após ter celebrado um título graças a Rui Patrício, o vice-presidente do Benfica Rui Gomes da Silva disse que se fosse presidente das águias não escolheria o leão para guarda-redes. Estas declarações tiveram destaque. Estranho país este em que as redes sociais de um clube não podem falar dos seus próprios jogadores, mas em que o vice de um outro clube já pode provocar o rival e ainda lhe dão palco.

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