A época de 2015-2016 deu pano para mangas e continua a dar. A mudança de Jorge Jesus para o Sporting foi o início daquela que foi possivelmente a época de maior atrito entre o Sporting e o Benfica nos últimos tempos. A princípio as emoções dividiam-se entre o ódio e a desconfiança, naquela que muitos afirmam ter sido a melhor contratação do Sporting CP. Com a garantia de que ia despertar o leão adormecido, os benfiquistas passaram a chamar-lhe Jorge Judas, e vários sportinguistas que momentos antes tinham celebrado a conquista da Taça de Portugal com Marco Silva, numa final electrizante, olhavam desconfiados para o treinador do “limpinho, limpinho”, que assumiu as rédeas do leão para ser um dos treinadores mais bem pagos do Mundo e o mais bem pago de Portugal, a receber 3,6 milhões brutos ao ano.
Feitas as contas, o resultado foi o que se viu. Alegam os rivais que o Sporting não ganhou nada, porque pelos vistos a supertaça é um troféu que só contaria se fosse para o museu Cosme Damião, mas, tirando isso, é um facto que o Sporting não ganhou nada, numa época claramente atípica. Alegam os descrentes que não vale a pena pagar milhões a um treinador que não ganhou nada, mas esse é o tipo de visão limitada de pessoas que não conseguem sonhar com o que está para lá da linha do horizonte. É verdade que a contratação de Jorge Jesus, inicialmente foi um investimento de risco, tendo em conta o salário avultado, mas ganhar ou não títulos não é o mais relevante, quando o técnico consegue potencializar ao máximo as capacidades da equipa e dos jogadores, tornando-a bastante competitiva e intensa. A conquista de troféus e campeonatos é claramente importante, mas depende de vários factores, muitos deles externos e incontroláveis, como é o caso da presença de outras equipas com muita qualidade em prova. Seriamos vencedores incontestáveis e óbvios se jogássemos sozinhos. Como isso não acontece, a dificuldade aumenta e a probabilidade diminui, mas não significa que estejamos no caminho errado.
Os investimentos compensam quando dão retorno, e para não sermos de visão limitada temos de compreender que o retorno nem sempre se traduz em conquistas. Numa das suas saídas que já não surpreendem ninguém, Jorge Jesus afirmou que o apuramento para a Champions já pagou o seu ordenado para os anos contrato. Claro que isto não fica bem quando é dito no país do politicamente correcto em que as pessoas se ofendem com facilidade, mas não deixa de ser uma verdade. Do ponto de vista objectivo e pragmático, Jorge Jesus tem razão naquilo que disse. Mas vou muito mais além disso. Ao comando do SL Benfica, o clube encaixou mais de 225 milhões de euros em transferências, sendo que este valor corresponde às 8 transferências mais caras. Witsel foi vendido ao Zenit por 40 milhões de euros, Rodrigo ao Valência por 30 milhões e jogadores como Matic ou Markovic foram vendidos a 25 milhões. O rendimento que muitos destes jogadores apresentam em campo hoje em dia, não é nem de perto aquele que apresentavam quando comandados por Jorge Jesus, o que demonstra a capacidade do técnico em tirar partido e potencializar a qualidade dos seus jogadores. Creio que não exista ninguém no mundo que possa contrariar-me neste ponto. O próprio Bryan Ruiz, com toda a experiência que tem, diz que Jorge Jesus foi o treinador com quem aprendeu mais.