Correm rumores por aí, não se sabe muito bem da parte de quem nem de onde, que afirmam que o Sporting foi ao psicólogo logo após o empate contra o Vitória de Setúbal, num jogo a contar para o campeonato nacional. Também não se sabe muito bem qual foi o psicólogo que o atendeu e que o acompanhou desde sexta-feira; também não se sabe de onde era nem os seus anos de experiência clínica. Alguns boatos afirmam que o Sporting recorreu, afinal de contas, a um bruxo. Face a tamanha calúnia, o Sporting teve necessidade de desmentir tal heresia e assumiu, em conferência de imprensa, que não sabe muito bem quando nem onde é que recorreu, de facto, à ajuda de um psicólogo, logo após o jogo em Setúbal, mas refere que nunca, em momento algum, procurou um bruxo.
Disse, nessa conferência de imprensa, que estava extremamente desmotivado, sem vontade de fazer nada, inclusivamente, de comer aquilo quer que seja. Dormir era coisa que não acontecia desde sexta-feira, após o empate com sabor a derrota frente aos sadinos. Refere que procurou ajuda por se sentir assim, pois aquele empate no Bonfim levou a que o FC Porto tivesse aproveitado para se afirmar no primeiro posto do campeonato. E era agora, precisamente, o FC Porto que iria enfrentar nas meias-finais da Taça da Liga já na próxima quarta-feira. Não há clube que aguente tamanha pressão!
Quem o ouve falar sobre isso nesta conferência de imprensa, percebe, claramente, que a sua sintomatologia depressiva deve-se a um acumular, anos a fio, de frustrações, que se prendem com a incapacidade de vencer nas alturas certas. Diz que se sente “incapaz”, com “vontade de desistir”. Refere que o psicólogo o ajudou bastante em perceber a sua missão no Futebol Nacional, Europeu e Mundial: em primeiro lugar, trabalharam a aceitação da realidade e o seu complexo de frustração, procurando identificar que o assunto dos “emails do Benfica” é, na realidade, um mecanismo de defesa que o impede, por um lado, de olhar devidamente para o seu interior e, por outro lado, lhe dificulta o desempenho desportivo. Diz-se mais esclarecido face a esse “processo inconsciente”.
Quem ouve o Sporting falar nesta conferência de imprensa percebe, com relativa facilidade, que o seu funcionamento mental caminha no sentido da “ansiedade de falhar”, algo que se traduz já no próximo jogo contra os rivais do FC Porto para as meias-finais da Taça da Liga em Braga. Percebe-se que esta sua ansiedade traz consigo um funcionamento paralelo: a vergonha dos adeptos, essa espécie de super-ego coletivo que lhe exige e determina os êxitos em campo. Pede desculpa àqueles que o acompanham por esse Portugal e Europa fora, diz que o psicólogo o mandou fazer isso, que esse seria o primeiro passo para o progresso da terapia. E ele, com as lágrimas nos olhos e ferido de morte, soltou as suas desculpas na conferência de imprensa aos adeptos, entre os soluços e lágrimas que lhe escorriam pela face abaixo.
Depois, esfregou a cara e começou a referir aspetos positivos que o psicólogo trabalhou com ele: a valorização da sua história passada, uma história centenária, e a perceção de um passado de êxitos e glórias que são terapeuticamente lembradas e trazidas para o momento presente. O Sporting tem que perceber a ligação dessa sua história passada com o momento atual, para que não haja “um Sporting do passado” e um “Sporting do presente”. Tem que fazer um trabalho narrativo que integre estas diferentes dimensões de si próprio. Afinal de contas, tem um passado longo, pois nasceu em 1906. A experiência que daí advém não o pode tornar frustrado nem inglório face ao que aconteceu no Bonfim, mas sim capaz de dar a volta por cima, através da sua resiliência.
O Sporting, já para o final da conferência de imprensa, e com os jornalistas todos em cima dele, diz que esta ida ao psicólogo lhe tem feito muito bem. Refere que já aceitou quase plenamente o empate amargo contra o Vitória de Setúbal e que se encontra mais apaziguado consigo e com os adeptos. Está focado apenas no jogo com o Porto para a Taça da Liga na quarta-feira. Disse que o psicólogo o incentivou, na terapia, a verbalizar alguns conteúdos emocionais sobre o FC do Porto e o SL Benfica e este, finalmente, não falou tanto nos assuntos do “Apito Dourado” nem dos “emails do Benfica”. Falou antes dos plantéis de cada um na relação com os seus jogadores e sistemas táticos, estando focado na identificação das suas falhas e na potencialização dos seus recursos para aquilo que ainda falta da época. Percebe-se que este Leão está melhor, mais capaz e adaptado. A ida ao psicólogo fez-lhe bem. Importa por isso dizer: “Cuidado, Dragões!”
Foto de Capa: Sporting Clube de Portugal
Artigo revisto por: Ana Rita Cristóvão