Processo Carrillo: Da Exigência à Indigência

    a norte de alvalade

    Contrariamente ao que me parecia ser a melhor opção de gestão do problema da (não) renovação de Carrillo, o Sporting acabou por decidir afastá-lo da equipa titular. Todavia, as declarações de JJ no final do jogo obrigam a alguma contenção nos comentários sobre a matéria, uma vez que aquelas deixam em aberto a possibilidade de o jogador, ao contrário do que foi assumido pela generalidade das opiniões expressas, estar de regresso à equipa já no próximo jogo com o Nacional. A possibilidade de fazer o jogador descansar e amadurecer ideias deve ser considerada. Antes assim seja, embora me pareça que o treinador pretendeu apenas ganhar tempo, esperando um entendimento entre as partes.

    A confirmar-se a decisão de afastar Carrillo, esta de certa forma surpreende-me. Como ontem aqui afirmei, o facto de se ter optado por manter o jogador nos nossos quadros, quando o podia ter vendido, indiciava que na SAD se acreditava na renovação. O afastamento do jogador, mais do que o próprio, pune no imediato o clube. Por uma série de razões:

    – A radicalização da posição do empregador (SAD) com o empregado (Carrillo) cria o clima oposto para um entendimento;

    – Suspender o jogador foi confirmar aos quatro ventos a existência de problemas. Equivale a deitar sangue ao mar infestado de tubarões. Obviamente que os principais clubes e agentes já tinham sinalizado a situação, a confirmação serve de encorajamento a quem quer o jogador;

    – Ao contrário do que possa parecer, o Sporting não tem um plantel onde o talento abunda e Carrillo foi, a par de Nani, o jogador mais importante da época passada. Nani já saiu e não tem substituto à altura, e o mesmo acontecerá se Carrilo for suspenso. O Sporting fica a perder;

    – Tendo em conta o que é dito no parágrafo anterior, o jogador deveria continuar a dar o seu contributo à equipa, pelo menos até Dezembro, altura em que o clube poderia substituí-lo. Num cenário em que o clube tenha a certeza de que o jogador já está comprometido com terceiros, mais de que uma decisão intempestiva de mero adepto de bancada, pede-se a defesa dos interesses do clube baseada na racionalidade;

    – Não faz sentido ter um jogador sob contrato, precisar dele e pagar-lhe para não jogar. Tê-lo a jogar é também uma forma de o valorizar, caso ainda subsista a ténue hipótese de o transferir em Janeiro.

    Quanto vale afinal Carrillo?

    Para muitos, agora que se parece configurar a possibilidade de partida do jogador, Carrillo não vale nada, não justificando tanto dispêndio de tempo ou recursos. Outros preferem ir vaticinando um futuro entregue ao anonimato. Não me parece que os primeiros tenham razão e o futuro não se pode adivinhar. Carrillo tem ainda muita coisa para fazer para podermos considerá-lo um grande jogador, o que, quanto a mim, pode vir a ser. Mas no presente o jogador é um dos mais importantes do plantel e a sua saída enfraquece a equipa e as nossas pretensões.

    Tempo de rumores

    Sem ter chegado ao extremo em que se encontra a renovação de Carrillo, este momento reporta-me ao tempo em que Adrien negociava a renovação de contrato. Iniciava-se a última época em que aquele vigoraria e não faltavam certezas, como não faltam agora, de que o jogador já se tinha comprometido com outro clube – na altura falava-se no FCP. Havia até quem se dispusesse a testemunhar ter visto isto e aquilo. O mesmo sucede já com Carrillo.

    O processo 'Carrillo' está a marcar a atualidade leonina Fonte: Sporting Clube de Portugal
    O processo ‘Carrillo’ está a marcar a atualidade leonina
    Fonte: Sporting Clube de Portugal

    Da exigência à indigência

    Falar no caso de Adrien obriga também a ver as diferenças de posicionamento de uma parte importante dos adeptos. Na altura a não renovação atempada do contrato de Adrien era entendido como uma manifestação de incompetência. Hoje, no caso de Carrillo, diaboliza-se o jogador, “um ingrato”, o agente, ou, ao detentor do passe, isenta-se de qualquer responsabilidade a SAD, como se nas últimas três épocas não tivesse havido tempo mais do que suficiente para prevenir a actual situação.

    Por que se deixou arrastar este processo? Pelo facto de passe do jogador pertencer a um fundo? Porque os seus representantes não se dispõem a negociar? Por causa de comissões exigidas?  Em todo este processo, que a bem do clube se espera ainda que possa terminar bem, há muita coisa por explicar e que não se pode ficar pela habitual desculpabilização com o inimigo externo. Se ao menos se aprender com os erros já não se perde tudo.

    Alguns comentários aproximam-se muito da indigência intelectual que, em última análise, significa um convite ao descuido e à negligência. Esta postura é prejudicial para o clube e pode ajudar a explicar por que tantas vezes não se sente a direcção obrigada a resolver matérias simples e que dependem apenas da sua acção: o relvado continua aquilo que se vê, o site é uma novela mexicana, cujo final foi mais uma vez anunciado, e onde ainda há dias se punha a equipa de andebol na Turquia, quando esta se dirigia para a Suíça. Mais uma AG marcada em cima do joelho, com anúncio de mais uma alteração estatutária que a generalidade dos sócios desconhece para votar no imediato. A loja do clube embaraça quem lá acorre acompanhado.

    Sejamos claros: não é fácil para quem dirige o Sporting concorrer no meio onde se insere, especialmente quando tem que contratar ou renovar com jogadores. Os meios são escassos, a situação económico-financeira do clube é do conhecimento de todos. Depois podemos estar perante um caso em que não há nada a fazer, se o jogador, de forma legitima, quiser dar curso à sua carreira noutro clube. Aí  a questão da competência não faz qualquer sentido.

    Eventualmente poder-se-ia prevenir a chegada ao extremo em que agora estamos. Carrillo não beneficiou dos primeiros dois anos em que o clube viveu em permanente instabilidade. E nos últimos dois foi ficando esquecido, enquanto se renovava com uns e se aumentavam outros. Enquanto Carrillo foi crescendo em importância para a equipa, o Sporting esqueceu-se do presente, preferindo gastar o melhor dos seus recursos em jogadores “com futuro”, como Gauld, Slavchev e agora com Paulista. O que está agora a suceder com Carrillo é o resultado das opções anteriormente feitas.

    Foto de Capa: Sporting Clube de Portugal

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    José Duarte
    José Duarte
    Adepto do Sporting Clube de Portugal e de desporto em geral, especialmente de futebol.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.