1, 65m. Centro de gravidade a atingir os mínimos possíveis, aliada a uma estatura digna de “Portugal dos Pequeninos”, onde todas as camisolas lhe parecem grandes. Eis Daniel Podence, um dos jogadores que, mesmo não sendo um dos melhores, é dos que mais prazer me dá ver jogar no atual plantel do Sporting.
Simplesmente porque o seu futebol intriga-me tanto como a satisfação que tenho em vê-lo conduzir a bola. É quase uma constante presença “contra-natura” em campo, porque “não faz sentido” ver um jogador daquela dimensão (física, não futebolística) dentro das quatro linhas. Sempre que o vejo em campo, automaticamente me remeto para os tempos em que via o futebol em desenhos animados, onde os relvados pareciam ser de dimensões infinitas, e onde os jogadores possuíam características inimagináveis.
Na última partida, frente ao Boavista, tal como ao longo da temporada, Podence parece ainda um elemento “estranho” ao jogo, mas é raro sair de campo sem uma ou duas jogadas que perduram na memória. Desde a assistência frente ao Chaves, passando pela magia deixada em Oleiros, até ao “partir de rins” no Bessa, que resultou numa assistência para o golo de Coentrão. Em suma, jogadas que parecem ter saído diretamente das ruas ou dos baldios de terra para os maiores estádios de futebol em Portugal.
Obviamente que ainda há muitas etapas que precisa de ultrapassar para se tornar um jogador completo, tal como melhorar a finalização, definir melhor os momentos do jogo – saber o segundo exato para soltar a bola, e quais as alturas em que a deve prender -, mas acredito que é atrás do ponta de lança que essa aprendizagem deve ser feita. Pois é quando cai do centro para a ala, e arrasta o central consigo, que vemos a maioria dos seus rasgos.
Mas para já, Podence continuará um desenho animado em forma de jogador, no melhor sentido possível da palavra. Até lá, servirá de prova viva de que o futebol foge à lógica mais elementar de todos os desportos onde ganha o mais alto, o mais rápido ou o mais forte. No futebol, ganha o mais inteligente, ganha o mais audaz. Porque futebol não é um desporto, é um jogo. E Podence, o novo cartoon do futebol europeu, é a pequena grande prova disso mesmo.
Foto de Capa: Sporting Clube de Portugal