Shikabala: qual o peso do 10?

    Escolhi díficil. O fácil é de todos

    O Sporting reforçou-se, contrariamente àquilo que se previa, no mercado de inverno com dois jogadores que ambicionarão entrar nos planos de Leonardo Jardim a curto prazo. Restam 14 partidas até final do campeonato e, já descontando a de amanhã, que nenhum deles irá jogar, tanto Héldon como Shikabala terão 13 jogos para justificar a aposta de Bruno de Carvalho.

    O ex-Marítimo é um jogador ambientado ao nosso campeonato, extremo com faro pelo golo (já leva 9 este ano na Liga) e competirá numa das posições em que mais se mexe no Sporting. Carrillo, Capel e Wilson Eduardo têm sido os mais utilizados mas nenhum ganhou na primeira metade da época estatuto de indiscutível. Vejo-o, ao cabo-verdiano, como uma solução de encaixe fácil no 4x3x3 preferencialmente utilizado e de presumível preponderância dado a boa forma que tinha vindo a exibir.

    Mas, em relação a Shikabala, o que esperar? Quem o conhece diz tratar-se de um jogador de requinte técnico, capaz de actuar nas alas mas também como médio-ofensivo, aquilo a que vulgarmente se chama o “número 10”. Partindo do pressuposto que com a chegada de Héldon e sem qualquer saída os jogadores habilitados às duas alas serão o Carrillo, Capel, Héldon, Wilson Eduardo e Mané, onde se irá encaixar o reforço egípcio vindo do Zamalek? Teoricamente, competirá com André Martins pelo lugar no vértice mais ofensivo do meio-campo leonino. Mas, pelo que tem sido dito, será um jogador com características bem distintas do médio português. Coloca-se a Jardim, então, o dilema que tem passado um pouco por todo o mundo do futebol: o 10 clássico ainda tem espaço num 11 competitivo e estável?

    André Martins é o mais parecido a um 10 que existia em Alvalade  Fonte: anortedealvalade.blogspot.com
    André Martins era o mais parecido com um 10 que existia em Alvalade
    Fonte: anortedealvalade.blogspot.com

    André Martins, embora seja um médio de características mais ofensivas do que defensivas, não corresponde àquilo a que se chama o nº 10 tradicional. A verdade é que, mesmo sem chegar tão bem à frente, por exemplo, na hora de finalizar, tem sido uma importante peça, até pela facilidade com que encaixa com Adrien e William Carvalho. Qualquer um dos três trata bem a bola, sai na construção e tem capacidade de pressão quando sem bola. Com Shikabala, teoricamente, Adrien e William teriam maiores responsabilidades defensivas e o meio-campo perderia a capacidade de pressão alta que dificulta a saída de jogo nos primeiros 30 metros do terreno aos adversários. Mas, com o egípcio, a criatividade e capacidade de desequilíbrio poderiam fazer com que Leonardo Jardim fosse menos vezes forçado a utilizar o 4x4x2, que tem resultado bem mas através do qual mais se arrisca.

    De qualquer das formas, quer ganhe lugar no 11 ou não, Shikabala representa diferentes tipos  de soluções para o jogo leonino. Trata-se de um elemento que possui armas distintas daquelas que já existem no plantel e, independentemente do desenrolar da história, é uma aposta justificada por parte de quem efectuou a sua contratação.

    Amanhã, ainda sem os reforços, o Sporting terá a oportunidade de voltar à liderança – a par com o Benfica – se vencer o jogo frente à Académica. Em casa, diante do seu público, tem sido uma equipa consistente e, em partidas de maior pressão como a que se espera amanhã, não tem acusado o nervosismo que um plantel jovem poderia sentir. Mesmo com a noção de que o jogo de amanhã é o mais importante, não se poderá ignorar o facto de William Carvalho e Montero estarem proibidos de ver amarelo se querem ir ao Estádio da Luz. À atenção de quem a merece, amanhã joga-se bem mais do que um único jogo. Afinal, em caso de vitória, o Porto ficará a 4 pontos… e ainda tem de ir a Alvalade.

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