Há uns dias atrás, ouvi uma opinião sobre as palavras do presidente do Sporting para os jogadores com a qual me revejo, o que me preocupa e deixa apreensivo.
Alguém dizia que Bruno de Carvalho, ao dizer que alguns jogadores são prima-donas, tem toda a razão e que, por isso mesmo, não as deveria ter proferido em praça pública. Parece contraditório, mas faz todo o sentido. Os jogadores são (os que jogam em grandes clubes e têm qualidade superior), na sua maioria, miúdos que tinham pouco e de repente se viram com muito, ou tudo o que querem. Passam a ser idolatrados, mimados, com todos os luxos e desejos que todos imaginam ter um dia. Esses mesmos jogadores convencem-se de que podem ter o que querem quando querem, e habituam-se a que nada lhes seja negado. Assim sendo, são pessoas com egos enormes difíceis de gerir, e que não são comparáveis aos recursos humanos de outra qualquer empresa.
Ora, se um grupo de egos desse tipo vê alguém vir criticá-los, estando alguns deles a ser cobiçados por clubes estrangeiros que lhes podem dar melhores condições financeiras, os seus primeiros pensamentos serão de que, se não os querem, eles mudam-se. Ou seja, nesta equação em que estamos a tratar com recursos humanos que facilmente poderão encontrar outra entidade que os empregue, dificilmente os conseguiremos motivar com críticas públicas.
Assim sendo, e considerando eu também que muitos dos jogadores do Sporting, por serem criticados ou preteridos, amuam, acho que deveria existir alguém com formação em psicologia/sociologia que acompanhasse os jogadores e equipa técnica neste tipo de situações, e o presidente tratasse estes assuntos internamente com quem tivesse essa necessidade.
É que vir fazer as declarações em forma de exigência nem é o principal problema, mas sim vir generalizar, quer em termos de jogadores, quer em termos de modalidades. Estando a colocar todos no mesmo “saco” pode ter só consequências negativas. Os que não estão a dar o máximo amuam por saberem que os estão a criticar, e os que têm feito o seu trabalho amuam porque estão a receber o mesmo tratamento que os que não trabalham. E não venham dizer que quem paga tem direito de exigir, o que é verdade, mas há várias formas de o fazer, e algumas erradas, porque o ser humano reage de forma diferente conforme a situação e a personalidade. Não é linear.