20 de janeiro de 1985: uma razia de lesionados no AC Milan antes de um jogo frente à Udinese, obrigou Nils Liedholm a levar jovens para o banco de suplentes. Entre eles, um jovem de 16 anos, que viria a entrar no decorrer da partida. Depois disso, é a história que quase todos sabem. Foi a muralha defensiva milanesa, ganhou tudo que havia a ganhar, capitaneou a equipa durante muitos anos e tornou-se uma lenda do clube e do futebol mundial.
Foram 31 anos a vestir as cores do AC Milan, tendo entrado para os escalões de formação em 1978 e encerrado a sua longa carreira em 2009. Tem um percurso quase único e quase irrepetível nos dias que correm. A paixão pelo clube é superior a tudo que pudesse surgir e qualquer proposta para retirar Paolo de San Siro poderia soar a insulto.
O sangue rossoneri corre-lhe nas veias e ver Paolo Maldini com outra camisola que não aquela, seria algo muito estranho. O defesa seguiu as pisadas de seu pai, Cesare Maldini, também um histórico do conjunto de Milão, que em 1963 ergueu a taça de campeão europeu de clubes. Superar o pai não seria nada fácil, mas Paolo conseguiu-o. Paolo Maldini é a Lenda do AC Milan e dificilmente alguém irá suplanta-lo. Foram 902 oficiais com o símbolo do Milan ao peito e um total de 25 títulos, a maioria levantados por si.
Para além dos números, Maldini conquistou o respeito de todos os adeptos e futebolistas e será um exemplo para os mais novos, de como saber estar e jogar futebol. Ao nível do relvado, tenho que dizer que foi o defesa que mais me impressionou desde que vejo futebol, com uma frieza e calma notável, em cada desarme ou disputa de bola.
Paolo era um monstro na defesa disfarçado de cavalheiro! Preferencialmente jogava no centro da defesa, mas a sua qualidade e conhecimento sobre o jogo permitiam-lhe fazer a posição de defesa-esquerdo melhor que muitos laterais de raiz. Qualidades? Basta dizer que não tinha pontos fracos. Não tinha mesmo. Jogava bem com os dois pés (esquerdo era o melhor) e a sua técnica era apurada. Não ficava atrás de muitos artistas e a sua capacidade de cruzamento era acima da média. Que o digam, Shevchenko, Inzaghi, George Weah, entre outros…
Na área do adversário também sabia usar a sua impulsão e capacidade de cabeceamento. Não fez muitos golos (40 em toda a carreira, divididos entre clube e seleção,) é certo, mas fazia mossa nos lances de bola parada. Lá atrás era imperial! Outra coisa que me impressionava em Maldini era a sua capacidade de lutar, de desarmar quase em “silêncio”, dando a impressão que aquilo era demasiado simples e fácil. Era limpo no seu jogo e não dava muito nas vistas neste capítulo como, por exemplo, Materazzi, Stam, Samuel, Puyol, Pepe, Chiellini ou Sérgio Ramos. Aliás basta olhar para as estatísticas e reparar que Maldini só foi expulso por 4 vezes numa carreira de 24 anos como profissional.
Ao contrário de outros lendários e duradouros jogadores do futebol italiano, como Totti, De Rossi, entre outros, a Maldini não faltaram títulos! O jogador venceu 5 Ligas dos Campeões (incrível!), a primeira delas na época 1987/88, frente ao Steaua de Bucareste, por 4-0. Tinha 19 anos. Um ano mais tarde, o AC Milan foi bicampeão europeu, perante o Benfica, e Maldini estava uma vez mais no onze.
Não demorou a vencer a terceira, foram só precisos esperar 4 anos para o Milan vergar o Barcelona, na final de Atenas, por 4-0. Aos 25 anos, Maldini já somava 3 títulos máximos de clubes, algo invejável. Nenhuma destas taças foi levantada como capitão de equipa, mas o italiano iria cumprir esse sonho em 2003, frente à Juventus, após uma vitória nos penalties.
Na temporada de 2006/2007 viria a ganhar a sua última Liga dos Campeões, contra o Liverpool, numa vingança do que tinha acontecido dois anos antes, quando os ingleses venceram os italianos, nas grandes penalidades, depois de estarem a perder por 3-0 ao intervalo. Maldini marcou nessa final e mesmo assim não levantou a taça! Esse tento deu ao capitão milanês o record de golo mais rápido de uma final da Liga dos Campeões.
É um dos jogadores mais bem-sucedidos na Europa do futebol, acrescentando às Ligas dos Campeões, 4 Supertaças europeias, 2 Taças Intercontinentais e 1 Campeonato do Mundo de Clubes. São 12 títulos europeus, quase tantos como os que ganhou internamente (13). Maldini colecionou 7 Serie A, 5 Supertaças de Itália e apenas 1 Taça do país.
Individualmente, Maldini foi eleito o melhor defesa a atuar na Europa em 2006/07, esteve na equipa do ano para a FIFA em 2005 e fez por 3 vezes parte do onze ideal dos Campeonatos da Europa (1988, 1996 e 2000). Na Squadra Azzurra, Maldini nunca venceu nenhum título apesar da participação em 3 Europeus (1988, 1996, 2000) e em 4 Mundiais (1990, 1994, 1998 e 2002). Ficou em 2º lugar nos torneios de 1994 e 2000. Foi 126 vezes internacional, marcando 7 golos. Maldini renunciou À seleção em 2002, mas em 2006 foi convidado a integrar a equipa que ia disputar o mundial da Alemanha. Rejeitou e a Itália acabou Campeã do Mundo, para pena do eterno capitão milanês.
Uma carreira recheada de sucesso e respeito, que ficou marcada pela despedida azeda do San Siro. Em 2009, no seu último jogo, frente à Roma, o AC Milan perdeu por 3-2 e no final, quando Maldini dava a última volta àquele relvado enquanto jogador, uma fação radical dos Tiffosi assobiou-o, entristecendo o eterno capitão, que após essa época viu a “sua” camisola 3 ser retirada. E se foi assobiado em casa, no último jogo da carreira, Maldini foi aplaudido e ovacionado por todos em Florença, tendo assim uma despedida merecida e sendo este um sinal de respeito para um jogador que muito fez pelo futebol italiano e pelo Milan. Foram os adversários a aplaudi-lo! Eu aplaudi em casa aquele que será sempre um gentleman das defesas e uma muralha quase inultrapassável! É um ídolo para mim e para todos os que gostam de futebol. Já tenho saudades, Maldini…