Baixa estatura, forte, possante, rápido, tecnicista, esquerdino, dono de um “pontapé-canhão”. Ora, não tivesse a fotografia e o seu nome neste texto e já saberia de quem estava a falar – Roberto Carlos, pois claro.
Nascido no Brasil numa altura em que o país canarinho produzia foras-de-série que encantavam os amantes do futebol, Roberto Carlos destacou-se como lateral-esquerdo. Difícil? Sim para a maioria mas não para este craque, que ficou em segundo na nomeação para melhor jogador do mundo em 1997, ganhou a bola de prata em 2002, e que foi considerado o melhor lateral da história de Real Madrid. Vou mais longe, acho mesmo que é o melhor lateral-esquerdo de sempre! Talvez porque foi um jogador com o qual tive sempre ligação durante a infância e adolescência.
Durante os anos 90 a minha rotina nas férias de verão incluía sempre uma visita a casa dos primos em Bragança. Dividia as férias entre jogar futebol na nintendo 64 e jogar futebol na rua, vício compartilhado com o meu primo. Cresceu então a admiração por Roberto Carlos, até porque tínhamos algo em comum com o brasileiro – éramos os três esquerdinos. Longas horas a (tentar) imitar o pé canhão de Roberto Carlos (como pontaveava, como inclinava o corpo, como se sustinha no ar depois do remate…), a forma como corria e passava pelos jogadores, como recuperava a posição… Até na final do Mundial de 98 ficámos com o sentimento de tristeza. Era ele o nosso ídolo!
Os craques têm este poder, de encantar e de fazer sonhar, e o percurso desportivo de Roberto Carlos foi de sonho. Com um basto curriculum individual e colectivo (vencedor de Ligas dos Campeões, campeonatos nacionais, Mundial de 2002…), quase nada ficou por ganhar ao lateral e para a história ficará certamente graças aos livres poderosos que marcava e aos remates quase indefensáveis que disferia. Os mais famosos são um remate praticamente sem ângulo contra o Tenerife e um livre contra a França em 1997, ambos cheios de força e “efeito” na bola como só ele conseguia; mas há mais, muito mais.
Nas suas características enquanto jogador saltavam à vista a rapidez com que atacava e a agressividade com que conduzia a bola e tirava do caminho os defensores adversários. Roberto Carlos sempre levou a máxima “o ataque é a melhor defesa” muito a sério e foi um lateral muito ofensivo – sem descurar a defesa – que aparecia muitas vezes à entrada da área, a cruzar na linha e a aproveitar ressaltos ofensivos. Era intratável no despique um contra um por uma bola e desconcertante na finta de calcanhar para o meio – um tanque de guerra com a velocidade de um fórmula 1.
Fez as camadas jovens no União São João e Atlético, depois foi campeão pelo Palmeiras, deu o salto para a Europa para o Inter de Milão e atingiu o seu auge no Real Madrid – clube onde esteve onze anos. Mais tarde e numa fase já descendente da carreira actuou pelo Fenerbache, pelo Corinthians e pelo Anzhi Makhachkala (clube onde sofreu episódios de racismo). Mas a carreira de Roberto Carlos já estava feita, já tinha entrado para os canais da história do futebol mundial. O seu remate ficará na galeria dos mais precisos e poderosos do desporto rei e, quanto a mim, aquele pé esquerdo ficará para sempre marcado a nível pessoal em memórias que transcendem o futebol.
Foto de Capa: Facebook Oficial de Roberto Carlos