Não há outra cidade onde pudesse ter nascido. Tem nele a alma e as gentes de uma cidade que o viu crescer. Em cada toque de bola, sente-se a alegria dos grupos folclóricos e Zés Pereiras, em cada passe, a honra de dignificar lendas como a do Galo, e em cada grito de revolta, a perseverança e a liderança herdada de antepassados como Nun’Álvares Pereira.
Tal como o General, fundamental na luta pela independência nacional face a Castela, João Paulo Dias Fernandes, ou, simplesmente, Paulinho, entrega-se de corpo e alma a todo e qualquer situação de jogo do emblema que, certamente, desde miúdo imberbe, a crescer nas escolas de formação do Santa Maria, quis representar: o Gil.
Essa vontade, essa honra em representar a camisola que veste, não está dissociada da braçadeira de capitão que, orgulhosamente, tem ao braço e usa muito além do estatuto que vem com ela.
Todos os clubes precisam de alguém que os sinta desta forma. Alguém que encare a luta pelos pontos como uma necessidade básica, sem a qual não conseguiriam dormir bem. Com pessoas assim, aumenta-se a probabilidade de se sair de situações complicadas.
O Gil conseguiu fazê-lo, e o seu capitão, claro, teve um contributo importantíssimo nesta viragem de rumo. O ciclo infernal de seis jogos com cinco derrotas terminou em casa, diante do Porto B. Depois de alguma oscilação, sempre que o capitão jogou, o Gil não perdeu. Já lá vão 9 jogos e 15 pontos somados. Paulinho marcou seis golos durante este período, “responsabilizando-se” por mais de metade (8) dos pontos conquistados.
Quem não o conhecer, e olhar apenas aos dados, pode cofundi-lo com um jogador trintão, cheio de quilómetros nas pernas. Mas não, Paulinho tem apenas 24 anos de idade, com frescura física a condizer. Ganha bolas no seu meio-campo (fazendo uso do seu 1,88 m), ou no do adversário (exímio na pressão ofensiva), iniciando, muitas vezes, um processo ofensivo que também conclui.
É o jogador mais adiantado do 4x3x3 de Álvaro Magalhães mas, muitas das vezes, serve como quarto médio, baixando para dar liberdade a diagonais dos extremos. Quando o mister quer arriscar, não se coíbe de o arrastar para um dos flancos, de onde parte com a mesma competência, fazendo uso da capacidade técnica patrocinada pelo seu pé esquerdo.
No fundo, é uma espécie de pivô ofensivo que assenta que nem uma luva neste Gil Vicente, com a garra de quem defende a camisola. Caso consiga fazer o transfer motivacional para outro contexto competitivo, pode vir a ser um interessante jogador de Primeira Liga.
Artigo revisto por: Diana Martins